SEGUNDO INFORMAÇÕES do noticioso italiano La Stampa, o sangue de San Gennaro, guardado em uma ampola num relicário da Capela dos Tesouros, Catedral de Nápoles, este ano não se liquefez na data esperada. Em outas palavras, não se repetiu o milagre como sempre acontece no dia 16 de dezembro, data em que se recorda a erupção do Vesúvio no ano 1631, quando a intercessão do santo impediu que as lavas do vulcão entrassem na cidade. A população local (e não só local) encontra-se alarmada, pois a ausência do milagre pode indicar um sinal da ira divina. Para quem não conhece a história do santo e do milagre, publicamos abaixo um resumo.
São Januário (San Gennaro) nasceu em Nápoles, no ano 270. Não se tem muita informação histórica sobre os primeiros anos de sua vida, mas está documentado que no ano 302 foi ordenado sacerdote, e que por sua piedade e virtudes em pouco tempo foi elevado a Bispo de Benevento. Com sua grande caridade, zelo e solicitude pastorais, debelou de sua diocese o problema da indigência, socorrendo a todos os necessitados e aflitos do local.
Quando, em 304, o imperador romano Diocleciano desencadeou em todo o Império cruel perseguição contra o cristianismo, obrigando os fiéis a oferecer sacrifícios às divindades pagãs, o santo teve muitas ocasiões de manifestar seu valor apostólico, socorrendo cristãos, não só nos limites de sua diocese, mas em todas as cidades circunvizinhas. Penetrava nos cárceres, estimulando seus irmãos na fé. Alcançou também, naquela ocasião, grande número de autênticas conversões.
O êxito do seu apostolado não tardou a despertar atenção de Dracônio, governador da Campânia, que o mandou prender. Diante do tribunal, Januário foi reprovado pelo pró-consul Timóteo, que lhe apresentou a seguinte alternativa: "Ou ofereces incenso aos deuses ou renuncias à vida". — "Não posso imolar aos demônios, pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus", respondeu com coragem e altivez o santo Prelado.
Ordenou então o pró-cônsul que o Bispo fosse lançado numa fornalha ardente. Consta que Deus renovou, nesta ocasião, o favor oferecido aos três jovens israelitas, atirados também nas chamas, de quem nos fala o Antigo Testamento. Saiu São Januário ileso desta prova de fogo, para grande surpresa dos pagãos. O tirano romano, entretanto, atribuindo o prodígio às artes mágicas, ordenou que São Januário e mais seis outros cristãos fossem conduzidos a Puzzoles, onde seriam lançados às feras na arena.
No dia marcado para o suplicio, o povo lotou o anfiteatro da cidade. No centro da arena. São Januário encorajava os companheiros: "Ânimo, irmãos, este é o dia do nosso triunfo, combatamos com valor nosso sangue por aquele Senhor a quem devemos a vida!".
Foram libertados leões, tigres e leopardos famintos, que correram em direção às vítimas. Em lugar de despedaçá-las, porém, pareceram prostrar-se diante do Bispo de Benevento, e começaram a lamber-lhes os pés(!). Ouviu-se então um grande murmúrio no anfiteatro, que reconhecia não existir outro verdadeiro Deus senão o dos cristãos. Muitos pediram clemência. Todavia o pró-consul, cego de ódio, mandou decapitar todos aqueles cristãos, incluindo Januário. Foi executada a ordem na praça Vulcânia, no dia 19 de setembro de 305.
Os corpos dos mártires foram conduzidos pelos fiéis às suas respectivas cidades. Segundo relatam as crônicas, uma piedosa mulher recolheu, em duas ampolas, o sangue que escorria do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benavento.
Os restos mortais do Bispo mártir foram transladados para sua cidade natal — Nápoles — em 432. No ano 820, voltaram para Benavento; em 1497 retornaram definitivamente para Nápoles, onde repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica. Aí se realiza o chamado "milagre perpétuo" do sangue de São Januário, que há séculos se dá, sempre duas vezes por ano, no sábado que antecede o primeiro domingo de maio (que é o aniversário da primeira transladação) e a 19 de setembro, festa do martírio do santo.
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As datas da liquefação do sangue de São Januário são sempre celebradas com grande pompa e esplendor. As relíquias são expostas ao público, e se a liquefação não se verifica imediatamente. iniciam-se preces coletivas. Se o milagre tarda, os fiéis compenetram-se e se inqietam, crendo que a demora se deve aos seus pecados. Rezam então orações penitenciais, como o salmo “Miserere".
Quando o milagre ocorre, o Clero entoa solene Te Deum, a multidão prorrompe em vivas, os sinos repicam e toda a cidade se rejubila.
Entretanto, sempre que nas datas costumeiras o sangue não se liquefaz, Isso significa o aviso de tristes acontecimentos vindouros, segundo uma antiga tradição nunca desmentida.
O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro, hermeticamente fechadas, protegido por duas lâminas de cristal. A ampola maior possui 60 cm cúbicos de volume; a menor tem capacidade de 25 cm cúbicos. Em geral, o sangue coagulado, endurecido, ocupa até a metade da ampola maior; na menor, encontra-se disperso em fragmentos.
A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento, o sangue passa do estado sólido ao fluido. A liquefação ocorre da periferia para o centro e vice-versa. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito. Alterar-se também o colorido, desde o vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas, e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior(!).
Trata-se, verdadeiramente, de sangue humano, o que já foi comprovado por análises espectroscópicas. Há também algumas peculiaridades, que constituem como que "outros milagres" dentro do milagre de São Januário.
Da liquefação, há variação de volume: algumas vezes diminui e outras vezes aumenta até o dobro(!).
Ainda mais impressionante, varia o sangue, também, quanto à massa e quanto ao peso(!). Em janeiro de 1991, o prof. G. Sperindeo, utilizando-se do necessário rigor técnico e aparelhos de alta precisão, encontrou variação de cerca de 25 gramas(!). Mais: constatou que o peso aumentava enquanto o volume diminuía(!). Tal acréscimo de peso contraria frontalmente o princípio da conservação da massa, uma lei fundamental da Física, e é absolutamente inexplicável, pois as ampolas encontram-se hermeticamente fechadas, sem possibilidade de receber acréscimo de substâncias do exterior.
A notícia escrita segura mais antiga do milagre consta de uma crônica do século XIV. Desde 1659, estão rigorosamente anotadas todas as liquefações, que já perfazem mais de dez mil!
Por meio da fé em Cristo, que a relíquia de São Januário confirma e fortalece, Nápoles tem sido protegida eficazmente, contra a peste ou as erupções do Vesúvio, distante da cidade apenas duas léguas e meia. Por ocasião de uma erupção em 1707, que ameaçava destruir Nápoles, o povo levou as ampolas em solene procissão até o sopé do vulcão; consta que, imediata e inexplicavelmente, a erupção cessou(!),
Já em 1944, o Vesúvio expeliu lavas, cinzas, pedras e uma poeira arenosa que alcançou grandes alturas. Foi, de fato, sua última erupção. O vento levou essa poeira através do Mediterrâneo, a qual chegou a atingir a Grécia, a Turquia, a Espanha e o Marrocos, bem mais distantes. Nápoles, porém, o local mais próximo, permaneceu imune.
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Voltando à notícia presente, quando o milagre da liquefação do sangue de São Januário não ocorre, isso está "sempre ligado a momentos nefastos da história da cidade", como guerras, epidemias e terremotos, como disse o La Stampa.
Diante da situação, o abade da Capela dos Tesouros da Catedral de Nápoles, Mons. Vincenzo De Gregorio, exortou a “não pensar em calamidades ou desgraças. Somos homens de fé e devemos seguir rezando...”.
Em 21 de março de 2015, enquanto o Papa Francisco dava alguns conselhos aos religiosos, sacerdotes e seminaristas de Nápoles, também ocorreu o milagre de São Januário e o sangue se liquefez, porém, de modo apenas parcial. À ocasião, irreverente como sempre, comentou o Pontífice: "...Metade do sangue se dissolveu: vê-se que o santo me quer bem pela metade...". Certos comentaristas católicos de cunho mais tradicional disseram que o sangue havia se liquefeito pela metade porque o atual Papa era excelente na promoção da caridade, o que representaria a metade do sentido cristão, relaxando na parte doutrinal. Em todo caso, a bem da verdade, o fenômeno da liquefação não ocorreu quando os Papas Bento XVI e João Paulo II visitaram Nápoles, em 2007 e 1979, respetivamente.
Antes dessa ocasião, a última vez em que o milagre havia ocorrido com um Pontífice tinha sido em 1848, com Pio IX (e por inteiro, pelo que se documenta), quando o chefe da Igreja Católica se viu obrigado a fugir de Roma e se refugiar naquela cidade, fato este que, como sinal divino, muito marcou os fiéis católicos da época. O corpo do Venerável Pio IX, foi encontrado incorrupto 122 anos após o seu falecimento.
É tempo de criar coragem, respirar fundo, cingir os rins, rezar muito e fazer penitência, fiéis católicos, assim como nos recorda a revelação de Fátima, prestes a completar 100 anos. Convertamo-nos e imploremos a Deus misericórdia, por nós e pelo mundo inteiro. São Januário, rogai por nós a Deus!
Vídeo sobre o Milagre permanente de São Januário
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Fontes:
ACI Digital, disp. em:
www.acidigital.com/noticias/sangue-de-sao-januario-nao-se-liquefez-sacerdote-pede-para-manter-a-calma-22749/
www.ofielcatolico.com.br