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Breves exposições sobre a relação do homem com a Verdade






'O que é a verdade?', perguntou Pilatos a Cristo, sem imaginar que estava, naquele momento, diante da própria Verdade encarnada



“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”(Evangelho de Jesus Cristo
segundo São João 14, 6)

DEUS É A PRÓPRIA VERDADE. Ele É! O caminho do homem sobre a Terra é uma aventura magnífica, em que cada um é chamado a conformar-se com a Verdade, o que não é um simples jogo de palavras e ideias, mas é, antes, uma Pessoa Divina: o próprio Cristo.


É necessário entender que existe uma realidade externa ao homem, que existe independente de cada indivíduo, e que cada pessoa deve se conformar com a ordem das coisas e não pretender fazer com que as coisas se conformem à sua própria vontade. Ora isso ocorre porque os seres humanos não são Deus; o ser das coisas não parte delas ou de si mesmo, mas sim do Criador que tudo dispôs “com medida, quantidade e peso” (Sb 11, 20). Pois, quem dentre nós é capaz de dar a si mesmo a própria existência e sustentá-la?


NINGUÉM.


Talvez isso soe como algo ditatorial, visto que grande parte das pessoas quer colocar-se no lugar de Deus e, então, arbitrar sobre a própria vida e sobre a vida dos demais. Mais ainda, não satisfeitos, pretendem soberbamente – por meio de sofismas – justificar seus pecados e seus crimes que atentam contra a natureza criada, atentando assim contra si mesmos, visto que o homem faz parte da natureza criada e, como há uma ordem que pode ser observada no Cosmos, também há uma ordem cognoscível no ser humano que é um microcosmos.


Não é o objetivo desse texto comentar sobre as atitudes escandalosas daqueles que negam a Deus publicamente; a pretensão desse trabalho é comentar sobre as pequenas negações que os próprios cristãos fazem de Deus, seja na impenitência ou na manutenção de vícios, com o objetivo de que estes mesmos cristãos não caiam mais nesses erros.


Como definimos acima, a via para o conhecimento da verdade é a conformação com Aquele que É, e que é o Modelo perfeito do qual fomos criados à imagem e semelhança. Cristo, sendo Deus, assumiu a condição humana, tornando-se igual a nós em tudo exceto no pecado, para que pudéssemos ser redimidos por Ele e, assim, participássemos de Sua Vida na Santíssima Trindade. Não só isso, Ele também nos ensinou como deve ser o homem por meio de Suas palavras e por Suas ações!


Pilatos, talvez sem querer, mostrou para a humanidade o modelo perfeito de homem ao dizer de Cristo: “Eis o homem!”, famosa expressão do latim Ecce Homo, que se encontra no Evangelho segundo S. João 19, 5. Com sua obediência e humildade, Jesus mostrou que a obediência do homem a Deus é o caminho para alcançar a felicidade e a plenitude! É missão dos filhos dos homens conformarem-se à Vontade de Deus e investigarem os mistérios que Ele deixou para serem descobertos principalmente por meio da Criação, pois “importa obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5, 29).


É impossível que isso aconteça com aqueles que se julgam superiores ao próprio Criador; por isso, Jesus exclama com alegria: “Pai, Senhor do Céu e da Terra, eu te dou graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10, 21).

É necessário ao fiel católico ser humilde, comparar aquilo em que crê com aquilo que é constatado como verdade e ensinado pela Santa Igreja Católica e, então, se a opinião pessoal vai contra aquilo que é verdadeiro, deve-se abandonar o erro pessoal e ingressar no caminho da verdadeira luz; isso fica bem explícito quando é ensinado que “aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado” (Mt 23, 12). Ou seja, aquele que abre mão de si mesmo quando verifica que não está conforme com a Verdade, que é o próprio Cristo, esse sim será exaltado! Porém, aquele que persistir em seu egoísmo e em seu orgulho, esse será humilhado.


Conclui-se, então que, a mentira não é uma falta leve para o cristão. É, antes, algo gravíssimo, pois atenta diretamente contra Deus, que revelou-se como sendo a própria Verdade. Nosso Senhor ensinou que não veio para abolir a lei ou os profetas, mas sim para levá-los à perfeição (Mt 5, 17) e que “aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus. ” (Mt 5, 19). Ora, o primeiro Mandamento da Lei de Deus é: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento ” (Dt 6, 5), logo, todo aquele que mente peca diretamente contra o primeiro Mandamento da Lei de Deus.


Isso deve fazer com que cada pessoa reflita em sua própria vida e em como está caminhando em seus procedimentos. Aqui, encontra-se o papel fundamental do autoconhecimento, pois, como ensina São Bernardo de Claraval em seu "Tratado da Consciência ou do Conhecimento de Si Mesmo":


“Em vão se elevará com o coração às alturas o olho que previamente não tenha acertado ver-se a si mesmo tal como é. Com efeito: é preciso que vejamos antes as coisas invisíveis de nossa alma, para estar à disposição de conhecer as coisas invisíveis de Deus, e se não pudemos conhecer-nos a nós mesmos, não abriguemos a presunção de penetrar coisas que estão bem acima de nós. O verdadeiro, o indispensável cristal para poder ver a Deus é um espírito reto, razoável, observador profundo e perfeito conhecedor de si mesmo. Porque se as coisas invisíveis de Deus são compreendidas, são vistas por Suas obras, aonde encontrar mais limpa, mais claramente impressa, a marca do conhecimento de Deus do que em Sua imagem, isto é, na alma feita por Ele à sua semelhança?”


Pois bem, é necessário ao homem que viva retamente, não só diante de outros homens, mas também diante de si mesmo e diante do próprio Deus. Diante do Senhor, não há máscaras com as quais o homem possa esconder-se ou manter-se desapercebido. Observa-se, para isto, o exemplo do Pecado Original. Adão e Eva pecaram e, logo após o erro, buscaram vestir-se porque estavam nus! Essa nudez pode e deve ser estendida para todos seres humanos, pois, diante de Deus, todos estamos nus em nossas consciências. Ele conhece cada coração e cada alma, “Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais sutis” (Eclo 42, 18). Ele nos conhece mais do que nós mesmos nos conhecemos, como ensina São Paulo: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a Face. Hoje, conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. ” (I Cor 13, 12)


Se diante do Senhor não há máscaras e devemos nos guardar do "fermento dos fariseus", que é a hipocrisia, porque “não há nada oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido, pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados” (Lc 12, 1-3). Por que, então, as pessoas insistem em enganarem-se ou tentarem enganar a Deus?


Talvez por isso tantos tenham medo do silêncio: o silêncio é um convite para o encontro consigo mesmo e, desse encontro, pode surgir o encontro com Deus. Então, na sinceridade profunda e no total despojo de si, a criatura vê a magnitude do Criador e verifica em si mesma o próprio nada. Disso, podem surgir duas ações: 1) admitir o erro, assumir-se culpado e pecador e tornar-se um mendigo da Graça de Deus para, com a Sua ajuda, conformar-se ao que Ele quer; ou 2) ser soberbo e negar a própria condição de miserável.


Que o caminho de cada um, seja o caminho resultante da primeira ação! E, querido fiel católico, por mais que doa, que toda mudança seja feita para honra e glória do Senhor em cada vida humana; que os vícios – nossos inimigos internos – sejam combatidos e que cada católico possa ser um verdadeiro alter Christus, um outro Cristo no mundo! Conhecer-se para modificar-se e conformar-se ao bom Deus; que esse seja o objetivo de cada católico no mundo.


Que Cristo, Nosso Senhor, auxilie-nos a não nos enganarmos a nós mesmos, não enganarmos nossos irmãos e não pensarmos que podemos enganar a Deus que tudo sabe. Que a vida de cada um seja una, e que na busca sincera pela Verdade todos terminem na Santa Igreja Católica, como fizeram tantos santos. Que a vida de cada um seja um louvor agradável a Deus, pois, isso é digno e justo.... Amém!

Por Felipe Marques – Associação São Próspero
http://www.ofielcatolico.com.br/

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