Unigênito
Cristo é o Unigênito, Aquele a quem o Pai enviou ao mundo por causa do seu grande Amor, "porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).
Este título de Filho Unigênito (Único) revela aspectos importantes da identidade do Cristo:
- Primeiro, Ele é O Filho desde toda a eternidade, consubstancial com o Pai, procedendo d'Ele em uma geração eterna, o que, por isso mesmo, torna-o distinto do Pai (divina e misteriosamente igual e distinto a um só tempo).
- É o Filho Encarnado, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que assume natureza humana com vistas à salvação do mundo, por um ato de perfeito e obediente Amor .
- Em nosso amor a Cristo nós temos o único acesso ao Amor do Pai, de modo que Cristo se torna, assim, o Primeiro de muitos irmãos.
Este título de Filho Unigênito (Único), portanto, está reservado apenas e exclusivamente ao Filho de Deus, e significa a sua relação de obediência e missão como o único Redentor, Messias e Sacerdote eterno, revelado ao homem pelo próprio Deus (Mc 1,11).
O Cristo é a Palavra de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Único que está no seio do Pai é que o deu a conhecer." (Jo 1,18)
A Glória de Jesus não é nada menos que a Glória celestial de Deus Pai do Universo: "Glorifiquei-te na Terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. Agora glorifica-me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela Glória que tinha contigo antes que o mundo existisse." (Jo 17,4-5)
Cristo é realmente o único (unigênito) gerado por Deus: "Sabemos que aquele que nasceu de Deus não peca; o que é gerado de Deus se guarda, e o Maligno não o toca." (1Jo 5,18)
No Antigo Testamento, "Filho de Deus" é um título dado aos anjos, ao povo eleito, aos filhos de Israel e aos seus reis. No Novo Testamento, é o título do verdadeiro Messias, O Filho de Deus: "Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo, Filho do Deus Vivo!" (Mt l6,16).
Primogênito
O Antigo Testamento fala muitas vezes da condição especial do filho que literalmente "abre o útero" de sua mãe, o primeiro a nascer, portanto geralmente o mais velho, quando vêm outros irmãos. A palavra primogênito, entretanto, tem sentido e valor mais especiais no contexto bíblico.
O primeiro filho, no antigo Israel, gozava de privilégios exclusivos: era ele o principal herdeiro da família. Assim, Jacó pretendeu que seu irmão Esaú lhe vendesse seu direito de primogenitura porque, embora fossem gêmeos, Esaú nasceu primeiro e por isso tinha direitos sobre o irmão (Gn 25,31-32). Ao direito de primogenitura correspondia uma bênção especial que Jacó usurpou a seu irmão, que diz: "Apoderou-se do meu direito de primogenitura, e agora apodera-se da minha bênção" (Gn 27,36).
O Livro dos Salmos fala do rei David como primogênito de Deus, como possuidor de proteção divina especial: "Eu o constituirei meu primogênito, o mais excelso entre os reis da Terra" (Sl 89,28).
Quando Moisés foi encarregado de conduzir o povo de Israel, Deus mandou-lhe dizer ao faraó:
"Assim fala o SENHOR: Israel é o meu filho primogênito. Digo-te: deixa ir o meu povo para que me sirva; se recusares deixá-lo ir, Eu matarei o teu filho primogênito". (Ex 4,22-23).
À meia-noite, Deus cumpriu a sua promessa (Ex 12,29), poupando os primogênitos de Israel pela imolação do cordeiro pascal com cujo sangue pintaram a verga e as ombreiras de suas casas (Ex l2,23-24). Deste fato nasceu, pois, a chamada "Lei sobre os primogênitos", a respeito da qual o Senhor disse a Moisés: "Consagrar-me-ás todo o primogênito, dentre os filhos de Israel; seja homem ou animal, ele me pertence" (Ex 13,1-2).
No Novo Testamento, Jesus é o Primogênito por excelência. Em sua infância, é chamado por S. Lucas como o Primogênito de Maria: "Teve o seu Filho primogênito, que envolveu em panos e o recostou numa manjedoura, por não haver para eles lugar na hospedaria (Lc 2,7)." – Mas ao ser apresentado no Templo, Jesus toma o seu lugar de acordo com a consagração do Primogênito:
"Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao SENHOR, conforme está escrito na lei de Deus: todo o primogênito varão será consagrado ao Senhor'." (Lc 2,22-23)
S. Paulo diz: "Porque os que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Este fosse o Primogênito de muitos irmãos" (Rm 8,29 – o mesmo em Cl 1,15); e ainda mais: "Ele é também a cabeça do Corpo, a Igreja; Ele é o princípio, o Primogênito dos mortos, pois devia ter em tudo a primazia" (Cl 1,18).
Como Primogênito, Jesus é o Filho por excelência, neste sentido o único participante do Amor do Pai. Mas, por meio do Espírito Santo, todos somos filhos de Deus, irmãos de Cristo, "herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8,16-17).
"Primogênito" é também um termo jurídico que na Bíblia tem significado específico e bem determinado: refere-se ao primeiro filho, quer venha outro, quer não.
Aos que pretendem ver neste título atribuído a Jesus uma "prova" de que a Virgem Maria teve outros filhos, lembramos o simples fato de que, entre os judeus do primeiro século, não se esperava o nascimento de outro filho para que o primeiro fosse tratado como "primogênito", – e assim era tido e chamado pela vida toda. Tal fato foi, inclusive, definitivamente comprovado com a descoberta do túmulo de uma judia chamada Arsinoé, do 1º século, que contém a inscrição: "Aqui jaz Arsinoé, morta ao dar à luz o seu primogênito"1.
Aos que pretendem ver neste título atribuído a Jesus uma "prova" de que a Virgem Maria teve outros filhos, lembramos o simples fato de que, entre os judeus do primeiro século, não se esperava o nascimento de outro filho para que o primeiro fosse tratado como "primogênito", – e assim era tido e chamado pela vida toda. Tal fato foi, inclusive, definitivamente comprovado com a descoberta do túmulo de uma judia chamada Arsinoé, do 1º século, que contém a inscrição: "Aqui jaz Arsinoé, morta ao dar à luz o seu primogênito"1.
Ora, se morreu ao dar à luz o primeiro filho, evidentemente não teve outros. Mesmo assim, este menino é chamado primogênito de sua mãe, – ainda que tenha sido seu único filho.
A questão é bem simples e já se dá por encerrada, por aqui mesmo. Ainda assim, para que os seus estudos sejam mais completos e a sua formação mais sólida, prezado leitor, prosseguiremos um pouco mais na análise da questão.
Vamos à etimologia: a palavra “primogênito” deriva do latim“primogenitis” ou “primogenitum” (primo = primeiro;genitus/genitum = gerado ou nascido). Dessa forma, um filho único não deixa de ser primogênito por não possuir irmãos. Alguns debatedores fundamentalistas frequentemente pretendem aplicar uma dependência ao significado da palavra que simplesmente não existe, nem em sua etimologia nem em seu sentido bíblico.
A questão é bem simples e já se dá por encerrada, por aqui mesmo. Ainda assim, para que os seus estudos sejam mais completos e a sua formação mais sólida, prezado leitor, prosseguiremos um pouco mais na análise da questão.
Vamos à etimologia: a palavra “primogênito” deriva do latim“primogenitis” ou “primogenitum” (primo = primeiro;genitus/genitum = gerado ou nascido). Dessa forma, um filho único não deixa de ser primogênito por não possuir irmãos. Alguns debatedores fundamentalistas frequentemente pretendem aplicar uma dependência ao significado da palavra que simplesmente não existe, nem em sua etimologia nem em seu sentido bíblico.
"Tu lhe dirás: 'assim fala o SENHOR: Israel é meu filho primogênito!'." (Ex 4,22)
As sentença acima é parte do conjunto de orientações de Deus a Moisés para serem transmitidas ao Faraó do Egito, a fim de libertar o povo de Israel do cativeiro. Segundo as Sagradas Escrituras havia, naquele tempo, alguma outra nação ou povo na Terra chamado e escolhido por Deus como um filho? A resposta é não. Entretanto, mesmo Israel sendo, neste sentido, "filho único" de Deus, é chamado também "primogênito".
Poderia-se argumentar dizendo que Deus estava considerando a futura conversão dos povos pagãos, que seriam então filhos subsequentes. Entretanto, com o advento do cristianismo não há nenhum fundamento para a ideia de Israel e da Igreja como filhos diferentes de Deus. No contexto da Nova e Eterna Aliança, todos os que creem no Evangelho, sejam judeus ou gentios, são chamados a constituir um único povo santo (cf. Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11). Não há nenhum cabimento na ideia de Israel e a Igreja serem filhos distintos de Deus, o primeiro como "filho unigênito" e a segunda como uma segunda filha: esta seria uma concepção completamente absurda.
Como já vimos, o próprio Cristo, o Filho Único de Deus, também é chamado Primogênito:
O que a passagem acima está afirmando, e com muita clareza, é que Cristo é O Primogênito de Deus. Diferente de outras passagens do NT (cf. Rm 8,9; Cl 1,18; Ap 1,5), aqui não se trata do primogênito de Maria virgem, isto é, não se refere à condição carnal de Jesus, mas sim à condição divina, do Deus Filho do Deus Altíssimo, Pai de tudo e todos. Pois bem, Deus Pai não tem outros filhos a não ser Jesus, e disto absolutamente ninguém que se pretenda "cristão" discorda. Mesmo assim, mesmo Jesus sendo o único Filho, a Sagrada Escritura o chama, também neste sentido, de Primogênito.
"E novamente, ao introduzir Deus o seu Primogênito na Terra, diz: 'Todos os anjos de Deus o adorem'." (Hb 1,6; – ver Sl 96,7)
O que a passagem acima está afirmando, e com muita clareza, é que Cristo é O Primogênito de Deus. Diferente de outras passagens do NT (cf. Rm 8,9; Cl 1,18; Ap 1,5), aqui não se trata do primogênito de Maria virgem, isto é, não se refere à condição carnal de Jesus, mas sim à condição divina, do Deus Filho do Deus Altíssimo, Pai de tudo e todos. Pois bem, Deus Pai não tem outros filhos a não ser Jesus, e disto absolutamente ninguém que se pretenda "cristão" discorda. Mesmo assim, mesmo Jesus sendo o único Filho, a Sagrada Escritura o chama, também neste sentido, de Primogênito.
Alguma reflexão mais será necessária? Não. Temos provas mais do que suficientes de que a palavra “primogênito” não se aplica somente ao primeiro filho entre outros, mas também ao filho único (o qu se confirma também em Nm 3,40; Ex 11,5; 12,29-30). Desta forma, de modo algum o uso do termo poderia servir como evidência da existência de irmãos de sangue de Jesus. – Para aprofundar mais este tema, leia este nosso outro estudo: "Virgindade perpétua de Maria, Mãe de Jesus".
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Único, Unigênito e Primogênito!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Único, Unigênito e Primogênito!
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1. MOURA. Jaime Francisco. Católicos X Protestantes 9ª ed., Joinville: Clube dos Autores, 1999, p. 63.
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Ref.:
Artigo "Maria Sempre Virgem, de Alessandro Lima, disp. em:
http://www.veritatis.com.br/apologetica/maria-santissima/531-santa-maria-sempre-virgem
Acesso 22/1/015
______
N. do A.:
Alguns protestantes históricos, entre eles luteranos, sustentam, ao lado dos católicos e cristãos ortodoxos, que Maria não teve outros filhos depois do nascimento do Cristo, e que não teve quaisquer relações conjugais com José, afirmando que os irmãos mencionados nos Evangelhos eram parentes próximos, certamente primos. Isto é consistente com a aceitação de Lutero, ao longo de toda a sua vida, da ideia da virgindade perpétua da mãe do Senhor. O célebre Prof. Jaroslav Pelikan [(1923-2006), autor de mais de trinta livros, erudito em História do Cristianismo e Teologia Cristã, professor de história em Yale University] observou tal fato, e juntamente com Harmann Grisar [biógrafo de Lutero], concordam que "Lutero sempre creu na virgindade perpétua de Maria mesmo após o parto, como afirmou no 'Credo dos Apóstolos', embora negasse seu poder de intercessão. Por esta razão, até mesmo um rigorosamente conservador estudioso protestante como Franz Pieper (1852-1931) recusou-se a seguir a tendência entre muitos de seus pares de insistir que Maria e José tiveram relações conjugais após o nascimento do Cristo. Está implícita em sua dogmática a aceitação de que a fé na virgindade perpétua da mãe do Senhor é a visão mais antiga e tradicional dos protestantes, bem como a mais evidentemente alinhada com a estrutura da narrativa bíblica como um todo. Maria, tendo sido escolhida para novo tabernáculo do próprio Deus Todo-Poderoso, não poderia de modo algum, uma vez cumprida sua missão, ter conhecido qualquer tipo de impureza. – OLIVEIRA, Prof. Dr. Adilson L. P. Teologia Dogmática, Joinville: Clube dos Autores, 2012, p.13
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Ref.:
Artigo "Maria Sempre Virgem, de Alessandro Lima, disp. em:
http://www.veritatis.com.br/apologetica/maria-santissima/531-santa-maria-sempre-virgem
Acesso 22/1/015
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N. do A.:
Alguns protestantes históricos, entre eles luteranos, sustentam, ao lado dos católicos e cristãos ortodoxos, que Maria não teve outros filhos depois do nascimento do Cristo, e que não teve quaisquer relações conjugais com José, afirmando que os irmãos mencionados nos Evangelhos eram parentes próximos, certamente primos. Isto é consistente com a aceitação de Lutero, ao longo de toda a sua vida, da ideia da virgindade perpétua da mãe do Senhor. O célebre Prof. Jaroslav Pelikan [(1923-2006), autor de mais de trinta livros, erudito em História do Cristianismo e Teologia Cristã, professor de história em Yale University] observou tal fato, e juntamente com Harmann Grisar [biógrafo de Lutero], concordam que "Lutero sempre creu na virgindade perpétua de Maria mesmo após o parto, como afirmou no 'Credo dos Apóstolos', embora negasse seu poder de intercessão. Por esta razão, até mesmo um rigorosamente conservador estudioso protestante como Franz Pieper (1852-1931) recusou-se a seguir a tendência entre muitos de seus pares de insistir que Maria e José tiveram relações conjugais após o nascimento do Cristo. Está implícita em sua dogmática a aceitação de que a fé na virgindade perpétua da mãe do Senhor é a visão mais antiga e tradicional dos protestantes, bem como a mais evidentemente alinhada com a estrutura da narrativa bíblica como um todo. Maria, tendo sido escolhida para novo tabernáculo do próprio Deus Todo-Poderoso, não poderia de modo algum, uma vez cumprida sua missão, ter conhecido qualquer tipo de impureza. – OLIVEIRA, Prof. Dr. Adilson L. P. Teologia Dogmática, Joinville: Clube dos Autores, 2012, p.13