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O Êxodo segundo Hollywood



O HOMEM MODERNO já não aceita mais sequer a possibilidade da existência de um verdadeiro milagre. Esta clara impressão é confirmada na vida contemporânea a todo momento, como é, por exemplo, por quem assiste ao filme "Êxodo": deuses e reis" (Ridley Scott).

Cristãos e judeus conhecem bem a história de Moisés e da libertação do povo de Israel da escravidão no Egito, contada no segundo livro do Antigo Testamento, o Êxodo. Alegadamente, é ou deveria ser esta a história do filme, mas ali é contada a partir de uma visão completamente diferente, – algo que fica ainda mais evidente se comparamos a obra cinematográfica recente ao clássico “Os Dez Mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille.

Nas Sagradas Escrituras, Deus atrai a atenção de Moisés usando uma sarça ardente: “O Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo do meio de uma sarça, e Moisés via que a sarça ardia, sem se consumir” (Ex 3,2). Assim é que Moisés decide ir ver de perto esse fenômeno insólito; e Deus o chama, então, do meio da sarça em chamas e fala com ele, identificando-se como “o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó” (Ex 3,6).

Para começar, este Moisés apresentado pelo filme é muito mais um guerreiro (e extremamente arrogante, que desafia até o próprio Deus) do que um profeta: note-se que, até o fim da história, ele usa uma espada egípcia em lugar do tradicional cajado (símbolo de proteção e pastoreio), ao contrário do que dizem as narrativas bíblicas.

O Moisés do filme também não é atraído por uma sarça ardente, que na película aparece apenas como figuração de cena, um elemento secundário na cena em questão. Ele está buscando algumas cabras perdidas na montanha e é surpreendido por uma tempestade e um deslizamento de terra, que fazem com que bata a cabeça com força numa rocha e desmaie. Só então Moisés ouve a suposta "voz de Deus" (que lhe aparece na forma de um menino birrento), – ou o que seria Deus, embora a sequência claramente dê a entender que tudo não passou de alucinação. – Tanto assim que o ator Christian Bale (ex-Batman), que interpreta Moisés, declarou que, para ele, “Moisés era provavelmente um esquizofrênico”...

Na Bíblia, a primeira praga que cai sobre o Egito é a transformação da água do Nilo em sangue, anunciada antes por Moisés ao faraó: “Ferirei com a vara (...) a água do rio e ela se transformará em sangue (Ex 7,17). No filme, é uma multidão de crocodilos que de repente começa a se devorar(?), derramando sangue na água até que ficasse avermelhada (todo aquele imenso rio). – Uma (patética) tentativa de se tentar atribuir a um fenômeno supranatural uma explicação natural.

De igual modo, todas as outras pragas divinas aparecem como nada mais que consequências também naturais daquele fenômeno natural inicial, – contrariando diretamente o texto das Sagradas Escrituras, que dizem que cada praga foi previamente anunciada e apareceu como intervenção divina na História.

Mas Deus, em sua providência, não poderia ter feito uso de um fenômeno puramente natural para libertar o seu povo? Poderia, sim, mas não é isto que diz a Sagrada Escritura, nem a Tradição da Igreja. E, se assim fosse, qual a importância do milagre, da ação sobrenatural na história do Êxodo? Nenhuma?

A ação sobrenatural de Deus é sempre essencial, e o foi especialmente nos eventos descritos no livro do Êxodo. Segundo a Bíblia, foi Deus mesmo Quem endureceu o coração do faraó, para que não deixasse partir os hebreus, – para que assim o SENHOR multiplicasse seus “sinais e prodígios na terra do Egito” (Ex 7,3) e todos soubessem que Ele, e somente Ele, é Deus. Ninguém além de Deus poderia ter libertado o povo do jeito que a Bíblia conta. E era exatamente essa a intenção divina.

Deus quis dar-se a conhecer por meio de seus feitos prodigiosos e gloriosos. O Êxodo não é apenas a libertação do cativeiro do Egito, mas a libertação do cativeiro do Egito por meio do conhecimento de Deus. É isso, entre (muitas) outras coisas, que o filme falha fragorosamente em transmitir.

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