É SOBRETUDO ISAÍAS que, em sua grande Profecia, descreve a Natividade do Messias, seus Atributos Divinos, seu Reino Universal, seu Sacrifício que salva todos os povos e seu triunfo.
Isaías profetizou todas essas coisas aproximadamente 7 séculos antes da vinda do Cristo; ele viveu entre 740 e 681 aC. De acordo com a teoria da crítica bíblica moderna, foram dois Isaías que escreveram o Livro da Bíblia; o chamado "Proto-Isaías" escreveu os capítulos de 1 a 39. Este admoestou Israel pelas convulsões sociais e por sua política externa, pronunciou-se contra a ameaça dos assírios e foi o primeiro a mencionar a espera de um Messias.
"Pois por isso o mesmo Senhor vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho1 e o seu nome será Emmanuel"(7,14). Este trecho, isolado, já seria surpreendente, – mas ainda permanece obscuro. Trata-se de que virgem? A descrição torna-se mais precisa quando o nome Emmanuel é explicitamente determinado no capítulo seguinte (8,8,10), quando Emmanueldesigna o SENHOR, o Messias: “Deus conosco”.
Também o evangelista S. Mateus (1,23), e com ele toda a Tradição cristã católica, entende por Virgem, nesta passagem de Isaías, a Virgem Maria, e por Emmanuel o Verbo Encarnado, Jesus, o Filho do Deus Vivo feito homem, verdadeiramente Deus Conosco. S. Mateus (1,21) mostrará como a revelação feita a S. José antes do nascimento de Jesus é a coroação da profecia de que falamos:
Ora, acrescenta S. Mateus, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o SENHOR havia dito pelo Profeta:
As funções do Messias são descritas a partir do capítulo 9: “Porquanto um Menino nos nasceu, e um Filho nos foi dado; e foi posto o Principado sobre seus ombros; e será chamado Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai do Século Futuro, Príncipe da Paz” (6). Nada de maior pode ser anunciado; as palavras "Deus forte" significam claramente que nessa Criança, que virá ao mundo, residirá a Divindade em plenitude. Poucos compreenderam o seu sentido quando foram escritas. Vemos que elas já exprimem a devoção do Prólogo do Evangelho de S. João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verboera Deus…”.
No início do capítulo 11, está dito:
É a enumeração dos dons do Espírito Santo que o Messias receberá eminentemente, e os justos por participação.
Seu reino universal é anunciado (16, 5; 18, 7; 24 – 27), e também seu caráter de Pedra Angular (28, 16). O primeiro Papa, depois de Pentecostes, dirá aos membros do Sinédrio: “Esse Jesus (em Nome de Quem este homem foi curado) é a Pedra rejeitada por vós, edificadores, a qual foi posta por fundamental do ângulo; e não há salvação em nenhum outro. Porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos”. (At 4,11). Essa Pedra Angular, tinha dito Isaías 8, 14, “será também pedra de tropeço (…); muitos tropeçarão e cairão e serão despedaçados”. S. Paulo o lembra na Epístola aos Romanos, 9,32, e acrescenta: “Mas aquele que crê n’Ele não será confundido” (ver também Ef. 2, 20; I Ped 2, 4).
Isaías anuncia (35,4) que o próprio Deus virá:
A Salvação Messiânica está de ordinário associada pelos Profetas à suprema Aparição de Deus sobre a Terra (Is 7,14; 40, 5; Ml 3,1).
As virtudes e obras do Servo de Deus são claramente preditas (42, 1-9):
“O Servo de Deus”, segundo alguns racionalistas, significa o povo de Israel todo; hoje, porém, a maior parte dos críticos e todos os exegetas católicos observam que nessa profecia (42, 1-9), o Servo de Deus é claramente distinto do povo de Israel; é uma pessoa real, distinta da massa da nação, da qual se diz: “Ele não quebrará a cana rachada, nem apagará a mecha que ainda fumega; fará justiça conforme a verdade”. E o próprio Jesus, como conta S. Mateus (12,17), pedindo aos Apóstolos que não divulgassem seus milagres para não excitar o gosto pelo extraordinário, aplicará a Si mesmo esta profecia.
Isaías insiste muito no Sacrifício do Salvador; ele o descreve, precisando vários detalhes que serão realizados ao pé da letra durante a Paixão de Jesus:
Aí está o Mistério da Redenção predito no que tem de essencial, e com vários detalhes.
Nem mesmo os Apóstolos, exceto S. João, compreenderão, no momento da Paixão e da Morte do Salvador, que era por nossa salvação que Ele se oferecia e morria daquele maneira.
A profecia que ora estudamos é de tal maneira surpreendente que é chamada “Paixão segundo Isaías”; vemos a Paixão redentora no que ela tem de mais profundo, em seu motivo supremo de Misericórdia e Justiça, a Paixão vislumbrada antecipadamente no que tem de mais íntimo, no que aparecerá em certa medida a Maria ao pés da Cruz, a S. João Evangelista, às santas mulheres, ao bom ladrão, ao centurião. A Paixão, fonte infinita de graças, predita no que permanecerá escondido para a maior parte dos que verão Jesus morrer na santa Cruz.
Enfim Isaías, após as humilhações e sofrimentos do Messias, descreve seu triunfo e a conversão de muitos:
A Profecia de Isaías se encerra com a descrição da Glória da nova Jerusalém, que por sua luz atrai as nações, com o quadro de sua santidade e de seu esplendor:
“Todos vós que tendes sede, vinde às águas (…) os povos que não te conheciam correrão a ti por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel, que te glorificou. Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar; invocai-o, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho… Porque Ele é muito generoso para perdoar. Porque os meus Pensamentos não são os vossos pensamentos; nem os vossos caminhos são os meus Caminhos, diz o Senhor. Porque, quanto os Céus estão elevados acima da Terra, assim se acham elevados os meus Caminhos acima dos vossos Caminhos, e os meus Pensamentos acima dos vossos pensamentos.” (55,1-5)
“Levanta-te, recebe a Luz, Jerusalém, porque chegou a tua Luz, e a Glória do Senhor nasceu sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a Terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti nascerá o Senhor, e a sua Glória se verá em ti. E as nações caminharão à tua Luz, e os reis ao esplendor da tua Aurora”. (60,1-3)
“Tu não terás mais (necessidade do) sol para luzir de dia… O Senhor te servirá de Luz Eterna, e o teu Deus será a tua Glória. Não mais se porá o teu sol… Porque o Senhor te servirá de Luz Eterna, e terão acabado os dias do teu pranto.” (60,19-20)
Esses textos preveem o que Nosso Senhor chamará tão frequentemente de “Vida Eterna”. Jerusalém é representada como centro do Reino Universal, estendendo-se a todas as nações, onde tudo converge para o culto do Deus Uno, composto de justos e de santos, e eterno. Os teólogos têm razão de ver a realização dessas Promessas na Igreja fundada por Jesus Cristo, já que o Servido do Altíssimo é Jesus Cristo, e a numerosa posteridade do Servidor as multidões, que lhe são dadas como prêmio de seus sofrimentos e morte, que devem povoar a nova Jerusalém.
Isaías é incontestavelmente o maior dos profetas, pela importância de suas revelações e o poder de seu estilo. Viveu numa época das mais conturbadas da história de Israel, que teve então muito que sofrer dos Assírios. Isaías consolou os que choravam em Sião: até ao fim dos séculos mostrou o que devia acontecer, e as coisas ocultas antes que acontecessem. O estilo de Isaías é ao mesmo tempo simples e sublime, de perfeita naturalidade, enorme nobreza e brilho excepcional. Suas frases são concisas, penetrantes, e dão relevo aos pontos principais, para dissipar as ilusões e fortemente chamar a atenção para o Reino de Deus, para fazer pressentir a grandeza do Messias e a majestade da Glória Divina.
Isaías também é dotado de um verdadeiro gênio poético; o poder de sua imaginação tem grandeza compatível à das ideias que ele tem a exprimir. Esse gênio poético aparece em particular nos contrastes e antíteses de suas predições. Em sua obra, as profecias propriamente ditas estão sempre em estilo poético, uma parte em verso e versos de grande beleza. É a inspiração no sentido mais alto e inteiramente sobrenatural da palavra.
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1. Santo Irineu, Bispo de Lion (Lião), escreveu seu "Adversus Haereses" ('Contra as Heresias'), pelo final do séc. II dC, bem próximo do tempo dos Apóstolos. Diz ele:
"...Portanto, uno e idêntico é Deus, pregado pelos Profetas, anunciado pelo Evangelho o seu Filho, Fruto do seio de Davi, isto é, da Virgem descendente de Davi, o Emmanuel (...). Era ao mesmo tempo Homem, para poder ser tentado, e Verbo [de Deus], para poder ser glorificado. (...) Foi, portanto, Deus que se fez homem, o próprio SENHOR que nos salvou, Ele próprio, que nos deu o sinal da Virgem. Por isso não é verdadeira a interpretação de alguns que ousam traduzir assim a Escritura: 'Eis que uma jovem conceberá e dará à luz um Filho', como fizeram Teodocião de Éfeso e Áquila do Ponto, ambos prosélitos judeus seguidos pelos ebionitas, que dizem que Jesus nasceu de José(...)."
"...Antes que os romanos estabelecessem o seu império, quando os macedônios mantinham ainda a Ásia em seu poder, Ptolomeu, filho de Lago, que tinha fundado em Alexandria uma biblioteca e desejava enriquecê-la com os escritos de todos os homens, pediu aos judeus de Jerusalém uma tradução em grego das suas Escrituras. Eles, então, que ainda estavam submetidos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, os mais competentes nas Escrituras e no conhecimento das duas línguas (...). Eis como os anciãos traduziram as palavras de Isaías: 'Isaías disse: Ouvi pois, casa de Davi, porventura não vos basta ser molestos aos homens, se não que também ousais sê-lo ao meu Deus? Pois, por isso o próprio SENHOR vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o seu nome será Emmanuel...'"
Vemos que Sto. Ireneu esclarece bem dois pontos importantes: primeira, a Virgem Maria, Mãe de Jesus, é descendente de Davi, o que confere a Jesus a descendência carnal de Davi, conforme previsto no AT, e que só poderia se dar por parte de sua mãe humana. A segunda é que o texto do versículo do Evangelho segundo S. Mateus, que faz alusão à profecia de IsaÍas, que traz "a virgem conceberá", coincide com o texto do Antigo Testamento conforme à tradução dos Setenta para o grego, que diz exatamente o mesmo, ipsis litteris.
A tradução dos Setenta foi produzida em cerca de 250 aC., portanto quase três séculos antes do Evangelho de S. Mateus, Apóstolo que, evidentemente, conhecia a tradução dos Setenta, escrevendo "virgem" e não "jovem". Além disso, o mesmo Apóstolo conviveu com Jesus e Maria; certamente, tomou conhecimento do parto virginal por intermédio da própria mãe de Deus.
Isaías profetizou todas essas coisas aproximadamente 7 séculos antes da vinda do Cristo; ele viveu entre 740 e 681 aC. De acordo com a teoria da crítica bíblica moderna, foram dois Isaías que escreveram o Livro da Bíblia; o chamado "Proto-Isaías" escreveu os capítulos de 1 a 39. Este admoestou Israel pelas convulsões sociais e por sua política externa, pronunciou-se contra a ameaça dos assírios e foi o primeiro a mencionar a espera de um Messias.
"Pois por isso o mesmo Senhor vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho1 e o seu nome será Emmanuel"(7,14). Este trecho, isolado, já seria surpreendente, – mas ainda permanece obscuro. Trata-se de que virgem? A descrição torna-se mais precisa quando o nome Emmanuel é explicitamente determinado no capítulo seguinte (8,8,10), quando Emmanueldesigna o SENHOR, o Messias: “Deus conosco”.
Também o evangelista S. Mateus (1,23), e com ele toda a Tradição cristã católica, entende por Virgem, nesta passagem de Isaías, a Virgem Maria, e por Emmanuel o Verbo Encarnado, Jesus, o Filho do Deus Vivo feito homem, verdadeiramente Deus Conosco. S. Mateus (1,21) mostrará como a revelação feita a S. José antes do nascimento de Jesus é a coroação da profecia de que falamos:
“O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria como tua esposa, porque o que nela foi concebido é do Espírito Santo. E dará à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados." (Mt 1,20-21)
Ora, acrescenta S. Mateus, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o SENHOR havia dito pelo Profeta:
“Uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e ele será chamado Emmanuel, isto é, Deus Conosco”. (Mt 1,22-23)
As funções do Messias são descritas a partir do capítulo 9: “Porquanto um Menino nos nasceu, e um Filho nos foi dado; e foi posto o Principado sobre seus ombros; e será chamado Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai do Século Futuro, Príncipe da Paz” (6). Nada de maior pode ser anunciado; as palavras "Deus forte" significam claramente que nessa Criança, que virá ao mundo, residirá a Divindade em plenitude. Poucos compreenderam o seu sentido quando foram escritas. Vemos que elas já exprimem a devoção do Prólogo do Evangelho de S. João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verboera Deus…”.
No início do capítulo 11, está dito:
“E sairá uma vara do tronco de Jessé [pai de Davi] e uma flor brotará de sua raiz. E repousará sobre Ele o Espírito do SENHOR, Espírito de Sabedoria e de Entendimento, Espírito de Conselho e de Fortaleza; Espírito de Ciência e de Piedade, e será cheio do Espírito de Temor do Senhor. Julgará os pobres com justiça, e tomará com equidade a defesa dos humildes da Terra.”
É a enumeração dos dons do Espírito Santo que o Messias receberá eminentemente, e os justos por participação.
Seu reino universal é anunciado (16, 5; 18, 7; 24 – 27), e também seu caráter de Pedra Angular (28, 16). O primeiro Papa, depois de Pentecostes, dirá aos membros do Sinédrio: “Esse Jesus (em Nome de Quem este homem foi curado) é a Pedra rejeitada por vós, edificadores, a qual foi posta por fundamental do ângulo; e não há salvação em nenhum outro. Porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos”. (At 4,11). Essa Pedra Angular, tinha dito Isaías 8, 14, “será também pedra de tropeço (…); muitos tropeçarão e cairão e serão despedaçados”. S. Paulo o lembra na Epístola aos Romanos, 9,32, e acrescenta: “Mas aquele que crê n’Ele não será confundido” (ver também Ef. 2, 20; I Ped 2, 4).
Isaías anuncia (35,4) que o próprio Deus virá:
“Eis vosso Deus… Ele mesmo virá e vos salvará. Então se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então saltará o coxo como um veado, e desatar-se-á a língua dos mudos… E haverá ali uma Vereda e um Caminho, que se chamará santo; não passará por ele o impuro, e este será para vós um Caminho direto, de sorte que andem por ele os próprios loucos sem se perderem… E os remidos pelo Senhor voltarão e virão a Sião cantando os seus louvores; e uma alegria eterna coroará a sua cabeça”.
A Salvação Messiânica está de ordinário associada pelos Profetas à suprema Aparição de Deus sobre a Terra (Is 7,14; 40, 5; Ml 3,1).
As virtudes e obras do Servo de Deus são claramente preditas (42, 1-9):
“Eis o meu Servo, Eu o amparei; o meu Escolhido, no qual a minha Alma pôs a sua complacência; sobre Ele derramei o meu Espírito; Ele espalhará a justiça entre as nações. (Sendo manso) não clamará, nem fará acepção de pessoas, nem a sua voz se ouvirá nas ruas. Não quebrará a cana rachada, nem apagará a mecha que ainda fumega; fará justiça conforme a Verdade. Não será triste, nem turbulento, até que estabeleça a Justiça sobre a Terra… Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e que os estendeu… Eu sou o Senhor, que te chamei na Justiça… E te pus para seres reconciliação do povo, e a Luz das nações; para abrires os olhos dos cegos e para tirares da cadeia o preso, e do cárcere os que estão assentados nas trevas. Eu sou o Senhor, este é o meu Nome; eu não darei a outro a minha glória, nem consentirei que se tribute aos ídolos o louvor que só a Mim pertence.”
“Não temas, ó Israel, porque eu te remi… Quando tu passares por entre as águas (dos perigos) eu estarei contigo, e os rios não te submergirão; quando andares por entre o fogo, não serás queimado, e a chama não arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador.” (43, 1)
“O Servo de Deus”, segundo alguns racionalistas, significa o povo de Israel todo; hoje, porém, a maior parte dos críticos e todos os exegetas católicos observam que nessa profecia (42, 1-9), o Servo de Deus é claramente distinto do povo de Israel; é uma pessoa real, distinta da massa da nação, da qual se diz: “Ele não quebrará a cana rachada, nem apagará a mecha que ainda fumega; fará justiça conforme a verdade”. E o próprio Jesus, como conta S. Mateus (12,17), pedindo aos Apóstolos que não divulgassem seus milagres para não excitar o gosto pelo extraordinário, aplicará a Si mesmo esta profecia.
Isaías insiste muito no Sacrifício do Salvador; ele o descreve, precisando vários detalhes que serão realizados ao pé da letra durante a Paixão de Jesus:
“Eu entreguei o meu corpo aos que me feriram, e a minha face aos que me arrancavam a barba; não desviei a minha face dos que me injuriavam e cuspiam. O Senhor Deus é o meu protetor, por isso não fui confundido… e sei que não ficarei envergonhado.” (50,6)
“Eis que o meu Servo procederá com inteligência, será exaltado e elevado e chegará ao cúmulo da Glória. Assim como pasmaram muitos à vista de ti, assim será sem glória o seu aspecto entre os homens, e a sua figura desprezível entre os filhos dos homens… Ele não tem beleza nem formosura, e vimo-lo, e não tinha aparência do que era, e por isso não fizemos caso dele. Ele era desprezado, e o último dos homens, um homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e o seu rosto estava encoberto; era desprezado e por isso nenhum caso fizeram dele. Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas (e pecados), e ele mesmo carregou com as nossas dores; e nós o reputamos como um leproso, e como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa das nossas iniquidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o castigo que nos devia trazer a paz caiu sobre ele, e nós fomos sarados com as suas pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas, cada um se extraviou por seu caminho; e o Senhor carregou sobre ele a iniquidade de todos nós.” (52,12; 53)
Aí está o Mistério da Redenção predito no que tem de essencial, e com vários detalhes.
“Foi oferecido (em Sacrifício) porque ele mesmo quis, e não abriu a sua boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro, e como um cordeiro diante do que o tosquia, guardou silêncio e não abriu sequer a boca. Ele foi tirado pela angústia e pelo juízo. Quem contará a sua geração? Porque ele foi cortado da terra dos viventes; eu o feri por causa da maldade do meu povo.” (53,7)
Nem mesmo os Apóstolos, exceto S. João, compreenderão, no momento da Paixão e da Morte do Salvador, que era por nossa salvação que Ele se oferecia e morria daquele maneira.
A profecia que ora estudamos é de tal maneira surpreendente que é chamada “Paixão segundo Isaías”; vemos a Paixão redentora no que ela tem de mais profundo, em seu motivo supremo de Misericórdia e Justiça, a Paixão vislumbrada antecipadamente no que tem de mais íntimo, no que aparecerá em certa medida a Maria ao pés da Cruz, a S. João Evangelista, às santas mulheres, ao bom ladrão, ao centurião. A Paixão, fonte infinita de graças, predita no que permanecerá escondido para a maior parte dos que verão Jesus morrer na santa Cruz.
Enfim Isaías, após as humilhações e sofrimentos do Messias, descreve seu triunfo e a conversão de muitos:
“E o Senhor quis consumi-lo com sofrimentos, mas quando tiver oferecido sua vida pelo pecado, verá uma descendência perdurável, e a Vontade do Senhor prosperará nas suas mãos… Este meu servo justificará muitos… porque entregou a sua vida à morte, e foi posto no número dos malfeitores, tomou sobre si os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores.” (53,10)
A Profecia de Isaías se encerra com a descrição da Glória da nova Jerusalém, que por sua luz atrai as nações, com o quadro de sua santidade e de seu esplendor:
“Todos vós que tendes sede, vinde às águas (…) os povos que não te conheciam correrão a ti por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel, que te glorificou. Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar; invocai-o, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho… Porque Ele é muito generoso para perdoar. Porque os meus Pensamentos não são os vossos pensamentos; nem os vossos caminhos são os meus Caminhos, diz o Senhor. Porque, quanto os Céus estão elevados acima da Terra, assim se acham elevados os meus Caminhos acima dos vossos Caminhos, e os meus Pensamentos acima dos vossos pensamentos.” (55,1-5)
“Levanta-te, recebe a Luz, Jerusalém, porque chegou a tua Luz, e a Glória do Senhor nasceu sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a Terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti nascerá o Senhor, e a sua Glória se verá em ti. E as nações caminharão à tua Luz, e os reis ao esplendor da tua Aurora”. (60,1-3)
“Tu não terás mais (necessidade do) sol para luzir de dia… O Senhor te servirá de Luz Eterna, e o teu Deus será a tua Glória. Não mais se porá o teu sol… Porque o Senhor te servirá de Luz Eterna, e terão acabado os dias do teu pranto.” (60,19-20)
Esses textos preveem o que Nosso Senhor chamará tão frequentemente de “Vida Eterna”. Jerusalém é representada como centro do Reino Universal, estendendo-se a todas as nações, onde tudo converge para o culto do Deus Uno, composto de justos e de santos, e eterno. Os teólogos têm razão de ver a realização dessas Promessas na Igreja fundada por Jesus Cristo, já que o Servido do Altíssimo é Jesus Cristo, e a numerosa posteridade do Servidor as multidões, que lhe são dadas como prêmio de seus sofrimentos e morte, que devem povoar a nova Jerusalém.
Isaías é incontestavelmente o maior dos profetas, pela importância de suas revelações e o poder de seu estilo. Viveu numa época das mais conturbadas da história de Israel, que teve então muito que sofrer dos Assírios. Isaías consolou os que choravam em Sião: até ao fim dos séculos mostrou o que devia acontecer, e as coisas ocultas antes que acontecessem. O estilo de Isaías é ao mesmo tempo simples e sublime, de perfeita naturalidade, enorme nobreza e brilho excepcional. Suas frases são concisas, penetrantes, e dão relevo aos pontos principais, para dissipar as ilusões e fortemente chamar a atenção para o Reino de Deus, para fazer pressentir a grandeza do Messias e a majestade da Glória Divina.
Isaías também é dotado de um verdadeiro gênio poético; o poder de sua imaginação tem grandeza compatível à das ideias que ele tem a exprimir. Esse gênio poético aparece em particular nos contrastes e antíteses de suas predições. Em sua obra, as profecias propriamente ditas estão sempre em estilo poético, uma parte em verso e versos de grande beleza. É a inspiração no sentido mais alto e inteiramente sobrenatural da palavra.
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1. Santo Irineu, Bispo de Lion (Lião), escreveu seu "Adversus Haereses" ('Contra as Heresias'), pelo final do séc. II dC, bem próximo do tempo dos Apóstolos. Diz ele:
"...Portanto, uno e idêntico é Deus, pregado pelos Profetas, anunciado pelo Evangelho o seu Filho, Fruto do seio de Davi, isto é, da Virgem descendente de Davi, o Emmanuel (...). Era ao mesmo tempo Homem, para poder ser tentado, e Verbo [de Deus], para poder ser glorificado. (...) Foi, portanto, Deus que se fez homem, o próprio SENHOR que nos salvou, Ele próprio, que nos deu o sinal da Virgem. Por isso não é verdadeira a interpretação de alguns que ousam traduzir assim a Escritura: 'Eis que uma jovem conceberá e dará à luz um Filho', como fizeram Teodocião de Éfeso e Áquila do Ponto, ambos prosélitos judeus seguidos pelos ebionitas, que dizem que Jesus nasceu de José(...)."
"...Antes que os romanos estabelecessem o seu império, quando os macedônios mantinham ainda a Ásia em seu poder, Ptolomeu, filho de Lago, que tinha fundado em Alexandria uma biblioteca e desejava enriquecê-la com os escritos de todos os homens, pediu aos judeus de Jerusalém uma tradução em grego das suas Escrituras. Eles, então, que ainda estavam submetidos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, os mais competentes nas Escrituras e no conhecimento das duas línguas (...). Eis como os anciãos traduziram as palavras de Isaías: 'Isaías disse: Ouvi pois, casa de Davi, porventura não vos basta ser molestos aos homens, se não que também ousais sê-lo ao meu Deus? Pois, por isso o próprio SENHOR vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o seu nome será Emmanuel...'"
Vemos que Sto. Ireneu esclarece bem dois pontos importantes: primeira, a Virgem Maria, Mãe de Jesus, é descendente de Davi, o que confere a Jesus a descendência carnal de Davi, conforme previsto no AT, e que só poderia se dar por parte de sua mãe humana. A segunda é que o texto do versículo do Evangelho segundo S. Mateus, que faz alusão à profecia de IsaÍas, que traz "a virgem conceberá", coincide com o texto do Antigo Testamento conforme à tradução dos Setenta para o grego, que diz exatamente o mesmo, ipsis litteris.
A tradução dos Setenta foi produzida em cerca de 250 aC., portanto quase três séculos antes do Evangelho de S. Mateus, Apóstolo que, evidentemente, conhecia a tradução dos Setenta, escrevendo "virgem" e não "jovem". Além disso, o mesmo Apóstolo conviveu com Jesus e Maria; certamente, tomou conhecimento do parto virginal por intermédio da própria mãe de Deus.
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Fonte:
COSTA. Maria Tereza H. F. "Le Sauveur et Son Amour por Nous", Paris: Ed. Cèdre, 1987
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