Pular para o conteúdo principal

SOBRE O DÍZIMO, ESPÓRTULAS E TAXAS (Monsenhor Estanislau Polakowski)






O dízimo é disposição vétero-testamentária. Os Evangelhos não falam da obrigação de se pagar o dízimo. Neles, a palavra “dízimo” só é mencionada pelo fariseu da parábola que despreza o publicano, em Lucas 18, 12; em Mateus 23, 23, onde Jesus denuncia a hipocrisia dos escribas e fariseus, e na epístola aos Hebreus 7, 2. 5. 9, onde é lembrado o dízimo dado por Abraão a Melquisedec e o dízimo recebido pelos levitas. Há ainda a passagem em Mateus 22, 21, onde Jesus afirma: “Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”, “desafiando os adversários a serem tão observantes no pagamento de suas dívidas a Deus quanto o são para pagar suas dívidas com o imperador”.
Além do dízimo dos produtos da terra e dos rebanhos – em determinadas épocas substituído por dinheiro – o que existia no Antigo Testamento eram as ofertas de aves e animais (ofertas, ou melhor, taxas, porque eram determinações obrigatórias) para sacrifícios e purificações (Lev. 14).
O Livro 2º dos Macabeus conta-nos a coleta que Judas fez, enviando o montante de 10.000 dracmas a Jerusalém “para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados” dos seus soldados mortos em combate. “Foi um bom e religioso pensamento o fato de ele acreditar que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente. Eis porque pediu um sacrifício expiatório, para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2 Mac 12, 38-46).
Judas Macabeu fez uma coleta em dinheiro que rendeu 10.000 dracmas. “A dracma era a unidade monetária básica do tempo e o seu valor correspondia ao salário médio de um dia de um operário não especializado . Dez mil dracmas... dracma, salário mínimo de um dia... era muito dinheiro... e os mortos em combate não eram tantos (2 Mac 12, 34), “embora seja impossível estabelecer correspondências exatas entre a moeda em questão e o nosso dinheiro atual. Pelo valor atribuído à moeda padrão – dracma ou denário – poder-se-á avaliar a importância aproximada das outras moedas.”2
No Evangelho segundo São Lucas 2, 22-24, vemos Maria e José dirigindo-se ao templo de Jerusalém para a apresentação do Menino Jesus e a purificação da mãe. Havia uma taxa, um preço a pagar, e a importância não era pequena. Não se resgatava o primogênito por qualquer dinheiro, embora houvesse compreensão com a situação dos pobres.
“Em princípio, o primogênito homem pertencia ao Senhor, de quem deveria ser resgatado pelo pagamento de uma soma equivalente a cinco siclos”. “O siclo, a mina e o talento eram, no Antigo Testamento, peças ou barras de metal (prata, ouro) usadas como meio de pagamento” (2 Reis, 18, 14). No tempo de Jesus, eram moedas do mais alto valor. O resgate do primogênito era efetuado no dia da circuncisão (Num 18, 15; Ex 13. 2-12).
“O Levítico descreve a cerimônia para a purificação da mãe quarenta dias depois de dar à luz (Lev 12, 1-8). Nessa ocasião, ela devia oferecer um cordeiro e uma rola ou um pombo, mas um casal pobre tinha permissão para trazer apenas duas rolinhas ou dois pombos”. Essas eram as taxas estabelecidas por lei.
Às portas do templo de Jerusalém havia o mercado que fornecia aos peregrinos o que precisavam como matéria para os sacrifícios. Foi ali que Maria e José devem ter comprado o par de rolas ou os dois pombinhos para o sacrifício. Alguns dos mercadores, porém, tiveram a ousadia de entrar com seus produtos no recinto do templo e foi dali que Jesus os expulsou (Lc 19, 45-46).
No templo de Jerusalém havia um cofre onde as pessoas deitavam suas ofertas, inclusive as de “uma viúva pobre” (Lc 21, 2). Aí sim, as ofertas eram espontâneas.
Jesus tinha uma bolsa e o encarregado dela era Judas Iscariotes, que “furtava o que nela lançavam” (Jo 12, 6). A bolsa continha, sem dúvida, um bom dinheiro, porque, além dos não poucos “surrupios” de Judas, sobrava ainda para pagar as despesas diárias dos doze. Não consta que Jesus tivesse feito milagres nesse sentido.
Junto ao poço de Jacó, “enquanto os discípulos foram à cidade comprar mantimentos, Jesus, cansado, sentou-se a beira do poço” (Jo 4, 6-8). Foram comprar comida para doze, mais Jesus. Por aí podemos imaginar qual era a despesa diária das refeições deles. Donde lhes vinha o dinheiro? Os Evangelhos nos informam de “muitas mulheres que seguiam Jesus desde a Galiléia para o servir” (Mt 27, 55; Mc 15, 40; Lc 23, 49). Pode ser também que pessoas, curadas de suas doenças por Jesus, num gesto de agradecimento, lhe fizessem doações em dinheiro. Seja como for, o dinheiro da bolsa não era pouco para atrair tanto os olhares de Judas.
Em Mateus cap. 10, versículo 8 vem escrito que Jesus enviou os doze em missão dando-lhes instruções, entre as quais a seguinte: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”. Por esse benefício não deveriam cobrar nada, porque “recebestes de graça, de graça dai”. Entretanto, Jesus afirma que o operário do Evangelho é digno do seu salário (Lc 10, 7).

Nas cartas de São Paulo e dos outros apóstolos não se faz menção do dízimo. Fala-se de “coletas”, “esmolas”, “partilhas”, “remuneração” e “direitos”. Aliás, é Paulo o único a tratar sobre o assunto.
Coletas – Na carta aos Romanos (15, 25) Paulo lhes diz que está se dirigindo a Jerusalém para ajuda dos irmãos. As comunidades da Macedônia e da Acaia houveram por bem fazer uma “coleta” para os irmãos de Jerusalém que se achavam em pobreza.
Na segunda carta aos Coríntios (8, 1-12) Paulo lhes põe em evidência a generosidade além das expectativas das Igrejas da Macedônia, apesar das provações e da extrema pobreza pelas quais também elas passavam. Estimulava os Coríntios a darem, cada um, conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento (2 Cor 9, 7) aos santos que passam fome em Jerusalém e estão sofrendo os efeitos de perseguições e provações.
Paulo, entretanto, toma muito cuidado para que a coleta chegue integral ao seu destino. Daí o também cuidado na escolha dos emissários e as cartas de apresentação quando ele não acompanhava pessoalmente o dinheiro. “Paulo procura estar acima de qualquer suspeita, em especial no uso do dinheiro, para se expor o mínimo possível às críticas”.
Coleta dominical – “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que tiver podido poupar, para que não esperem a minha chegada para fazer as coletas” (1 Cor 16, 2). Parece que havia já o costume de os cristãos se reunirem aos domingos para a celebração da Eucaristia. Coleta semanal que era guardada à parte e, “quando eu chegar, enviarei, com uma carta, os que tiverdes escolhido para levar a Jerusalém a vossa coleta” (1 Cor 16, 3). A coleta-oferta vai, uma vez mais, aos irmãos pobres de Jerusalém.
Direitos – Na primeira carta aos Coríntios capítulo 9, versículos 1-14. 18, Paulo lhes prova seus direitos de receber deles a remuneração para o seu sustento e para as suas viagens, direitos aos quais, entretanto, renuncia, e lhes apresenta quatro argumentos:
1º - Nenhum soldado vai à guerra às próprias custas.
2º - Até os animais merecem ser bem tratados pelo seu trabalho ao homem.
3º - Será demais pedir-lhes bens materiais em troca dos bens espirituais que receberam?
4º - O Senhor ordenou que todos os que pregam o Evangelho vivam dele: “Não sabeis que os ministros do culto vivem do culto e os que servem ao altar participam do altar? Assim também ordenou o Senhor que os que anunciam o Evangelho vivam do Evangelho (1 Cor 9, 13-14).
Problemas de manutenção pessoal, problemas financeiros causam má impressão na comunidade, quando é o pregador do Evangelho que os apresenta e reclama. “A questão do dinheiro é, na melhor das hipóteses, delicada. Paulo procurou ser prudente ao máximo com os fiéis de Corinto. Mesmo assim houve dúvidas e críticas... Tinha ele também a obrigação de preservar os direitos de seus missionários.”5
A comunidade dos Filipenses foi muito querida do apóstolo Paulo. “Dou graças a meu Deus cada vez que de vós me lembro. Em todas as minhas orações rezo sempre com alegria por todos vós, recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora”. (Filip 1, 3-5). Por duas vezes recebeu deles ajuda em suas necessidades. Nenhuma comunidade abriu com ele contas de deve-haver. Paulo lhes dava o bem espiritual do Evangelho e eles lhe retribuíam com bens materiais.
Remuneração – A Timóteo, Paulo escreve: “Os presbíteros que desempenham bem o cargo de presidir, sejam honrados com ‘dupla remuneração’, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino, pois o operário é digno do seu salário” (1 Tim 5, 17-18).
Partilha – Aos Gálatas, recomenda o apóstolo que “aquele que recebe a catequese da palavra (os catecúmenos), reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”, isto é, dê uma contribuição financeira ou de outro tipo para o sustento do mestre. Hoje, essa instrução catequética é feita gratuitamente.
Esmolas – O serviço da obra de caridade não só provê as necessidades dos irmãos, mas é também uma abundante fonte de ações de graças a Deus, pois “ao reconhecer a experimentada virtude que esta assistência revela da vossa parte, eles glorificam a Deus pela obediência que professais relativamente ao Evangelho de Cristo e pela generosidade de vossas ‘esmolas’ em favor deles e em favor de todos” (2 Cor 9, 12-13).

Conclui-se, pela Bíblia:
No Antigo Testamento exigia-se o dízimo;
Havia taxas a pagar no cumprimento de certos deveres religiosos;
Ofereciam-se sacrifícios espontâneos;
Faziam-se ofertas livremente;
No Novo Testamento faziam-se coletas em favor de Igrejas pobres;
Recomendava-se que os bons presbíteros recebessem salário dobrado;
Recomendava-se que os catequistas fossem remunerados e
Se uma comunidade relutasse em pagar o que devia, podia-se proclamar “alto e bom som” que “os ministros do culto vivem do culto, que os que servem ao altar, participam do altar e que o Senhor ordenou que os que anunciam o Evangelho, vivam do Evangelho”.

Haveria simonia em algum desses procedimentos?
Percebe-se que, advindos de uma tradição judaica, muitas comunidades primitivas realmente preocupavam-se com a própria manutenção e as necessidades de seus membros, embora não de modo estrito como os fariseus do Evangelho.
De fato, mesmo nas questões materiais eram “um coração e uma só alma”. Seria isso uma utopia em tempos hodiernos?
Falta aos católicos “olhos atentos à própria realidade!”



SIMONIA AINDA HOJE?

Taxas e espórtulas são simonia?
“Havia, na Samaria, um homem por nome Simão, que exercia magia na cidade... e fazia-se passar por um grande personagem... Todos lhe davam ouvidos... mas, depois que o povo acreditou em Filipe, que lhes anunciava o Reino de Deus e o nome de Jesus Cristo, homens e mulheres pediam o batismo. Simão também acreditou e foi batizado... Ele não abandonava Filipe, admirando, estupefato, os grandes milagres e prodígios que eram feitos.
Os demais apóstolos em Jerusalém souberam da conversão de samaritanos... Enviaram-lhes Pedro e João... que fizeram oração pelos novos fiéis, para que recebessem o Espírito Santo... Os dois apóstolos impuseram-lhes as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.
Quando Simão viu que se dava o Espírito Santo por meio da imposição de mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: “Dai-me também este poder, para que aquele a quem impuser as mãos receba o Espírito Santo”. Pedro respondeu: “Maldito seja o teu dinheiro e tu também, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro” (Atos 8, 9-20).
Eis o que é “simonia”: “pecado daqueles que, como Simão, o mago da Samaria, tentam conseguir bens espirituais por dinheiro ou outros bens materiais”.
Há quem precipitadamente afirme que as taxas cobradas em Igrejas Católicas por ocasião de batismos, crismas, casamentos e missas sejam simonias.
Deve-se recordar que:
1º - São os bispos dos Regionais que pensam e decidem sobre o assunto e determinam o valor das taxas.
2º - O Concílio Ecumênico de Constança, na 8ª sessão, realizada no dia 4 de maio de l.415, reprovou 45 afirmações de João Wyclif, entre as quais figurava a seguinte:
“A confirmação dos jovens, a ordenação dos clérigos e a consagração dos lugares são reservados ao Papa e aos bispos por avidez de lucro temporal e honras”. A esta afirmação o Concílio respondeu:
“Os quarenta e cinco artigos de João Wyclif (entre os quais está o supra), não são católicos, alguns deles são notoriamente heréticos, alguns errôneos, outros temerários e sediciosos, outros ofensivos aos ouvidos piedosos”.
Este Concílio foi confirmado pelo Papa Martinho V em 22 de fevereiro de 1418.

João Wyclif considerava simoníacos até “Os que se comprometem a orar por outros que os ajudaram nas necessidades temporais”.
A conclusão a respeito de possível simonia com as taxas cobradas pela Igreja é obvia. Não passa – ou ao menos não deveria passar – pela mente dos sacerdotes, e muito menos dos bispos, a idéia de “avidez de lucro”. Além do mais, a importância financeira é simbólica e é depositada, exceto as espórtulas de Missas, na conta da Igreja-Comunidade.



ABOLIR AS TAXAS?

Introduzir o dízimo numa paróquia, e depois que estiver ele suficientemente fortalecido, abolir as taxas, não parece ser uma idéia correta.
Acabar com as taxas que dão a idéia de pagamento justo e obrigatório pelos sacramentos? Uma catequese adequada tirará essa má impressão. Mude-se o nome. Em vez de taxa, diga-se “espórtula” e explique-se o seu significado: donativo ou gratificação que se faz ao sacerdote por ocasião de batismo, crisma, casamento ou ao solicitar uma missa a ser oferecida pela intenção pessoal de alguém.
De acordo com o Código de Direito Canônico, “segundo o costume aprovado pela Igreja, a qualquer sacerdote que celebra ou concelebra a missa é permitido receber a espórtula oferecida, para que ele aplique a missa segundo determinada intenção”.
Mas, ao mesmo tempo, “recomenda-se vivamente aos sacerdotes que, mesmo sem receber nenhuma espórtula, celebrem a missa segundo a intenção dos fiéis, especialmente dos pobres”.
Os fiéis que fazem esse oferecimento “concorrem, com essa oferta, para o bem da Igreja, e participam de seu empenho no sustento de seus ministros e obras”.
O Código também insiste em que se deve “afastar das espórtulas de missas até mesmo qualquer aparência de negócio ou comércio” e há regulamentos direcionando bem tal assunto. O mesmo pode aplicar-se às espórtulas de batismo, crisma e casamento.




AS TAXAS SÃO BÍBLICAS

Os primeiros sete capítulos do Livro do Levítico falam dos holocaustos, das oblações, das primícias, dos sacrifícios de ação de graças, dos sacrifícios pelos pecados e de reparação, que eram consumidos pelo fogo, mas em parte ou o que sobrava era para Aarão e seus filhos (Lev 2, 3.10; 6, 9.19; 7, 6.9.31-34).
“O Senhor ordenou aos israelitas que dessem (parte dos sacrifícios) aos sacerdotes, desde o dia de sua unção como sacerdotes a serviço do Senhor... É um direito perpétuo que tem sobre os israelitas” (Lev 7, 35-36).
O capítulo 27 do Levítico fala dos votos e resgates. Um verdadeiro negócio de avaliações e pagamentos, não fosse o espírito com que eram feitas essas transações, espírito que deveria entrar na cobrança das nossas “taxas”. Apenas os quatro últimos versículos do Levítico dão orientações sobre o dízimo (Lev 27, 30-33).
Os votos consistiam em ofertas que se faziam ao Senhor, ofertas de pessoas, de animais, de casas, de terras. No versículo 19 e seguintes vem escrito:
“Se aquele que consagrou o seu campo quiser resgatá-lo, ajuntará um quinto ao preço fixado e possui-lo-á. Se não o resgatar e o vender a outro, esse campo não poderá mais ser resgatado. Quando o campo ficar livre no jubileu, será consagrado ao Senhor como um campo votado ao interdito e tornar-se-á propriedade do sacerdote. Todas as avaliações se farão em siclos do santuário. O siclo vale vinte geras” (Lev. 27, 25). Isto quer dizer que todos os preços eram calculados de acordo com uma tabela oficial. A barra padrão, o siclo, valia vinte geras.
Em certo sentido, com o resgate permanecia o voto, trocando-se apenas um bem material por outro pecuniário correspondente, levando-se em conta a situação do pobre que não podia pagar a taxa estabelecida; devia apresentar-se ao sacerdote, que faria a avaliação e veria o que ele pudesse dar (Lev 27, 8). O que não era resgatado, era vendido (Lev 27, 27).
Conclui-se, portanto, que no santuário faziam-se algumas transações comerciais, como o resgate de bens que as pessoas consagravam a Deus. Deixa-se entrever que o santuário tinha uma espécie de banco ou caixa onde era depositado o dinheiro recebido e que determinava o valor da moeda.



UM POUCO DA HISTÓRIA DO DÍZIMO NO BRASIL

“Os dízimos, definidos com precisão pela Lei de Moisés, deixaram de ter vigor no início da era cristã. Todavia, a partir do século VI, alguns Concílios começaram a estipular o pagamento de dízimos em vista do sustento, do culto e das obras da Igreja. As autoridades civis, a partir de Carlos Magno, confirmaram as leis da Igreja. A instituição ficou em vigor até o século XVIII, quando a Revolução Francesa resolveu extinguir a praxe na França, sendo esta atitude imitada pelos demais governos europeus, durante o século XIX. No Brasil, a Proclamação da República acarretou a abolição das leis dizimistas.
Em l917 o Código de Direito Canônico então promulgado, rezava: “No tocante ao pagamento de dízimos e primícias, observem-se os estatutos e os louváveis costumes vigentes em cada região”.
O novo Código, promulgado em l983, já não fala de dízimo, mas recorre à linguagem genérica: “Os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros.” (Revista Pergunte e Responderemos, nº 514, abril de 2005, pág. 165).
Entretanto, o 5º mandamento da Igreja passou a ser letra morta. Observavam-se os quatro primeiros, mas não o quinto, que dizia: “Pagar o dízimo segundo o costume”. O costume era não pagar. Ninguém pagava. Não era má vontade, mas falta de alguém que explicasse ao povo as razões do dízimo e organizasse o estilo de recebimento.
“Foi em l970, durante a XI Assembléia Geral da CNBB, em Brasília, que uma Comissão Especial foi nomeada para continuar os estudos já iniciados anteriormente com o folheto “Campanha Nacional do Dízimo”.
O Plano elaborado pela Comissão foi aprovado pela XII Assembléia Geral do Espicopado, em Belo Horizonte, em fevereiro de 1971. A partir de então, começou a movimentação no sentido de adoção do novo sistema.
As Assembléias Gerais XIII (São Paulo, 1973) e XIV (Itaici, 1974), voltaram a tratar do assunto, mas verificaram que não se podia pretender impor um mesmo esquema de trabalho em todas as regiões.
A XIV Assembléia concluiu seus estudos sobre a questão, firmando, entre outros, o seguinte princípio: “Todas as dioceses do Brasil devem ter como meta a implantação do dízimo como sistema de contribuições periódicas que substitua progressivamente o sistema de taxas e espórtulas”.
Trinta e quatro anos passaram, o dízimo está praticamente implantado em todas as paróquias, mas é insuficiente, razão pela qual as “taxas” e “espórtulas” estão ainda em vigor. Não se pode negar que houve um bom progresso. Lembre-se, entretanto, que o objetivo do dízimo não é apenas suprir as necessidades da paróquia; ele deve ajudar os necessitados da comunidade e precisa ir mais longe: deve ser missionário. Uma opção preferencial pelos pobres também precisa angariar recursos que cooperem na promoção dos excluídos.



CONSIDERAÇÕES SOBRE O DÍZIMO
O dízimo é bíblico, embora seja uma instituição do Antigo Testamento. Ele tem apresentado defeitos na sua aplicação e até no próprio nome – que é dízimo, mas na realidade não é. O termo dízimo é usado para descrever qualquer contribuição de renda, embora menor que um décimo.
Se o dízimo, com a abolição das taxas, é o caminho, nenhuma paróquia deveria fazê-lo de maneira independente das outras. Todas as paróquias deveriam dar, todas, em conjunto, o mesmo passo. É algo que não se tem condições de fazer de um dia para outro.
Dízimo com liberação das taxas é uma espécie de Plano como o de saúde, Plano de Assistência Espiritual (PAE) ou Plano de Assistência Religiosa (PAR). Até o fim da vida, desde o batismo até às exéquias, o fiel dizimista teria pronta assistência e atendimento em suas necessidades espirituais. Isto é até um bom negócio, mas não é o certo. O dízimo deve ser dado como dito na Bíblia: Deus me deu, eu lhe devolvo uma parte de coração e com alegria, não esperando nada em troca, porque dele já muito recebi.
Os que aboliram as taxas poderiam fazer o seguinte:
Voltar a cobrar as taxas, encaminhando-as para as igrejas que passam necessidade; ou
Encaminhar as taxas para o Fundo Diocesano de Solidariedade; ou
Formar um Fundo de Assistência a sacerdotes doentes ou idosos que já não podem trabalhar, para que recebam um salário de gratidão e reconhecimento pelos anos de atividade pastoral.
Em certas paróquias, todos os meses, após a Missa principal, é feito sorteio de uma Bíblia ou de algum presente. Como o “carnê” de cada dizimista é numerado, um dos números é sorteado. Vai nisso certa discriminação: quem é dizimista pode ser sorteado, quem não é..., embora a intenção seja a de animar, de um lado, os dizimistas, e de outro, os não dizimistas, para que o sejam.
Pagar o dízimo e ficar livre das taxas é, de fato, um bom negócio; mas, com isso, o dízimo perde a característica essencial de gratuidade. Dependendo da quantia, o dizimista poderá estar investindo menos na Igreja do que se pagasse as taxas das quais está dispensado, o que, evidente, lhe é mais vantajoso, a menos que se estabeleça um valor mínimo do dízimo.
Quem não é dizimista, como fica? Pagará pelo menos uma taxa simbólica ou fará uma oferta espontânea por uma intenção de missa ou batizado, sendo ao mesmo tempo convidado a ser dizimista para gozar das vantagens? Se estes casos se multiplicarem, a menos que quase toda a paróquia seja dizimista, haverá discriminação que ferirá os próprios dizimistas, que poderão dizer: “Sem dízimo, apenas com uma simples oferta, há pessoas que têm os mesmos direitos que nós. Então, por que ser dizimista?”
Em certas paróquias onde o dízimo foi introduzido com bons resultados e, conseqüentemente, as “taxas” foram abolidas, há o costume de mensalmente sortear-se um presente entre os dizimistas, como dito anteriormente. É feito, portanto, um sorteio, uma espécie de rifa. Para alguns, isto cheira a jogo de azar. Se é feito o sorteio, um ou alguns terão a sorte de ser contemplados, outros não, a menos que se vão eliminando os ganhadores para que, ao final de algum tempo, todos tenham recebido o seu presente... de gratidão?
O dízimo, para ser verdadeiro, deve ser independente das ofertas, espórtulas ou taxas que poderiam continuar existindo. A recompensa do dizimista não deve ser material (sorteios, presentes, isenção de taxas); a compensação deve ser espiritual, a do coração alegre que reconhece que tudo o que tem e tudo o que recebe é dom de Deus. O nosso dízimo deve ter o sabor do dízimo original. Aí o dizimista sabe que está dando sem receber outra recompensa senão a alegria de devolver a Deus.
Faça-se uma distinção entre sacramentos e o ministro que o celebra. Com respeito aos sacramentos, Jesus disse: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10, 8). Com relação ao ministro, também disse Jesus: “Os que celebram o culto, vivam do culto e os que servem ao altar, vivam do altar, porque o operário do evangelho também é digno do seu salário” (Lc 10, 7).
Convém que as “taxas” (com outro nome) continuem como ofertas esporádicas em acontecimentos especiais ou únicos na vida, como o batismo, a crisma, o casamento. A alegria do grande dom recebido no sacramento deve provocar a necessidade de agradecer e o desejo de demonstrar a gratidão de maneira concreta, alegre e generosa. Para se ter esses sentimentos é necessária uma formação cristã mais profunda: “Faze todas as tuas ofertas com um rosto alegre”, diz-nos o Eclesiástico capítulo 35, versículo 11.
Se o dizimista está isento de taxas, ele mesmo pode tomar ares de alguém que fez um negócio bem feito. Ele pode dizer: “Eu pago o dízimo e, em troca, tenho tudo que preciso da Igreja, de graça.” O dízimo seria uma espécie de plano, como dito acima, em que se faz mensalmente um determinado depósito e, em contrapartida, recebe-se o atendimento desejado. O dízimo seria como um plano de atendimento espiritual, desde o batismo até os funerais, com direito a missas póstumas. Realmente, um bom negócio!
O cristão instruído na fé não pergunta: “Quanto é?”. Ele sabe qual é o valor dos dons de Deus. Conseqüentemente, dentro de suas possibilidades, a sua oferta será generosa, sem dúvida acima das “taxas” que, então, não precisarão existir.
Será difícil convencer cristãos analfabetos na fé dos seus verdadeiros direitos na Igreja da qual são membros pelo batismo, como também será difícil convencer, e mais ainda, dos seus deveres e obrigações. Cristãos instruídos colaboram com generosidade na sua Igreja, transmitindo a outros os conhecimentos adquiridos e vividos, colocando seus talentos a serviço da comunidade e fazendo o seu dízimo e ofertas com alegria.
O dizimista instruído não deve esperar nada em troca. O dízimo é uma oferta gratuita, ou melhor, uma devolução, um gesto de alegria que perderia todo o seu sabor se tivesse alguma compensação por tudo o que recebeu, o que não é pouco.

O verdadeiro dizimista, instruído nas coisas de Deus, sabe que dele muito recebeu. Por isso, dá o seu dízimo de coração e com alegria. Cobrar algo pelo dízimo ou até simplesmente aceitar algo é receber tudo de Deus, devolver-lhe uma pequena parte e exigir que Deus lhe recompense por isso.
Há pessoas que estão dispostas a pagar o dízimo, mas perguntam: “O que é que eu vou receber em troca?” Poder-se-ia dizer: “Você recebe uma igreja limpa e acolhedora; com o seu dízimo, você ajuda a pagar o salário da zeladora e os produtos de limpeza e conservação que ela precisa para realizar o seu trabalho; você tem um sacerdote que está à sua disposição em assuntos pertinentes; tem à disposição Missas todos os dias; você ajuda a pagar as despesas de água, luz, telefone, o trabalho do jardineiro, da secretária, o salário dos sacerdotes, lembrando, porém, que o padre, a zeladora, a secretária e outros operários da igreja são pessoas humanas que querem fazer bem o seu trabalho, mas, por fragilidade, isso às vezes pode não acontecer; você tem aulas de catequese para a Primeira Comunhão e Crisma de seus filhos; catequistas que preparam pais e padrinhos para o batismo de seus filhos e afilhados, trabalho este realizado gratuitamente por paroquianos e paroquianas iguais a você e que também contribuem com o dízimo.
O dízimo é um presente, um dom que damos a Deus, parte daquele dom maior que dele recebemos. Se é dom, e é de fato, não tem sentido reivindicar alguma regalia em troca.
Assim como não se deve dispensar os dizimistas das “taxas”, assim também não se deve oferecer uma Missa em ação de graças pelos dizimistas. Pode-se, sim, celebrar a Missa do Dízimo. Não se deve dar a impressão de compensação ou gratificação. O dízimo é um “muito obrigado” a Deus. Quem agradece, já recebeu. Colaborar financeiramente com a Igreja em obras sociais, no atendimento aos carentes, no trabalho missionário da Igreja, esta deve ser a alegria do dizimista. Aceitar retribuição seria ofensa. Aceitar que uma missa seja celebrada nas intenções de uma pessoa que pede e faz uma oferta, tudo bem. Mas, oferecer uma Missa pelos dizimistas descarta os não dizimistas, provocando discriminação.
Da parte do Magistério da Igreja, depois da Revolução Francesa na Europa e da Proclamação da República no Brasil, nada consta sobre o dízimo, a não ser a lembrança do antigo mandamento, em geral não posto em prática: “Pagar o dízimo segundo o costume”, agora modificado, segundo o Catecismo da Igreja Católica, para “atender as necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades”.
Exemplo: Tenho um salário de dois mil reais. Reconheço que é um dom de Deus que me dá saúde e força, “engenho e arte” para ganhá-lo. Por isso, retribuo devolvendo-lhe o dízimo, duzentos reais. Não preciso e nem devo pedir nada a Deus em troca porque, embora o dízimo seja de Deus antes que eu lho ofereça, ele é uma fonte de bênçãos.
Também os padres devem contribuir com o dízimo, pois assim vem escrito no Livro dos Números cap. 18, 26-28.31: “O Senhor disse a Moisés: Dirás aos levitas: quando receberdes o dízimo dos israelitas, tomareis dele uma oferta para o Senhor, o dízimo do dízimo... e esta oferta reservada para o Senhor, vós a entregareis ao sacerdote Aarão”. “Uma vez descontado o dízimo do dízimo” ...o restante é o salário que recebeis pelo serviço que prestais na tenda de reunião”.

Quando o Povo de Deus vagueava pelo deserto rumo à Terra Prometida, vivia em tendas; dentre elas uma se destacava, era a tenda de reunião, uma espécie de capela móvel da qual, entretanto, os israelitas não deveriam se aproximar, e na qual os levitas exerciam funções religiosas. Daí dizer o Senhor: “Quanto aos levitas, dou-lhes como patrimônio todos os dízimos de Israel pelo serviço que prestam na tenda de reunião” (Num 18, 21-22).
Se à doação mensal que se faz à Igreja se dá o nome de dízimo, como no Antigo Testamento, embora não o seja de fato, conserve-se dele o espírito de gratuidade, ou melhor, de devolução. Não se pede e não se faz nenhum favor a Deus pagando o dízimo.
Há pessoas que, com certo orgulho, até certo ponto legítimo, dizem: “Em nossa paróquia não temos taxas porque pagamos o dízimo. O dízimo nos dá o direito de receber da Igreja tudo que precisamos: batizados, crismas, casamentos e, sobretudo, missas. Tudo isso recebemos sem pagar taxa alguma. O dízimo que pagamos nos isenta das taxas. Pelo fato de eu ser dizimista, não ganho apenas descontos, mas a liberação das taxas.” Neste caso, o dízimo pode ser realmente um bom negócio.
Que a paróquia bem sucedida no dízimo não cante vitória sozinha, mas ajude a vizinha a se unir a seu canto, e esta à outra, até atingir todas.
Como foi lembrado acima, o quinto mandamento da Igreja agora se expressa assim: “Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades”. Como se vê, não se menciona mais a palavra “dízimo”. Portanto, usar a palavra “dízimo” hoje é uma imprecisão, embora corresponda à importância que cada um quer ou pode dar.
Oração de um dizimista interesseiro: “Meu Deus, eu sei que tudo o que tenho de vós recebi. Eu vos agradeço. É para vos demonstrar a minha gratidão que vos dou os dez por cento de todos os meus rendimentos. Em contrapartida, peço que me dispenseis, ou a vossa Igreja me dispense, de todas as taxas. Amém.”
As missas sem espórtulas podem causar problemas. Os dizimistas podem se achar no direito de pedir quantas missas quiserem. E se uma ou mais pessoas pedirem a assim chamada “missa gregoriana”? E se desejarem missa todo mês? Então, terão que se estabelecer novas normas. O dízimo passará a ser considerado como um privilégio e não será mais uma doação espontânea: “Eu pago o dízimo, tenho direitos e exijo que sejam respeitados”.
A implantação do dízimo sem taxas poderia ser uma ação conjunta de todas as paróquias. As paróquias mais bem aquinhoadas na arrecadação de dízimos não deveriam tomar a iniciativa da abolição das taxas de maneira independente. Do contrário, dividiria as comunidades. Os fiéis começariam a perguntar: “Por que em algumas igrejas se cobra a missa e em outras não?” Os padres que pedem espórtulas poderiam ser taxados de dinheiristas e serem acusados daquilo que alguns fundamentalistas em âmbito reservado dizem ser simonia: “Cobrar taxas pelos sacramentos é simonia!” Tal idéia passaria ao domínio público e haveria, então, duas classes de padres: os simoníacos e os desapegados. O povo começaria a procurar aquelas igrejas onde as coisas são mais baratas e até gratuitas. Aí sim, as igrejas se tornariam casas de comércio. Exageros? Talvez...
É claro que os sacramentos são dons de Deus e não têm preço. Isso, porém, não significa que não se deva dar nada. Devemos ser reconhecidos por eles, não apenas com agradecimentos verbais, mas de maneira concreta, com uma oferta-doação que signifique o reconhecimento. É preciso valorizar também o trabalho dos sacerdotes.
Por que não se devem pagar as coisas de Deus?

1º - Porque são dons de Deus e presentes que se agradecem.
2º - Porque esses dons divinos são necessários à salvação.
Mesmo que alguém não ofereça o seu dízimo, não se deve negar a ele tudo aquilo de que precisa para que “tenha vida e a tenha em abundância” (Jo 10, 10).
O fiel católico recebe de Deus, através da Igreja, a oportunidade de participar do banquete eucarístico até todos os dias; no sacramento da Confissão recebe o perdão de Deus; o Evangelho lhe é anunciado nas missas e em outras ocasiões; os seus doentes são visitados, ungidos e preparados, a eucaristia lhes é levada pelos Ministros, os seus mortos são acompanhados pela oração da Igreja e os seus corpos abençoados, na esperança da ressurreição. Diversos cursos para aprimoramento na fé são oferecidos, os padres estão à disposição para ouvir desabafos, dar aconselhamentos e orientações. A tudo isto e outras coisas mais, o fiel católico retribui com o seu dízimo. Os padres fazem todos os dias uma hora de oração pelo seu povo.

De Deus, pela Igreja, o fiel recebe todas essas coisas. O fiel retribui devolvendo a Deus, pela Igreja, parte daquilo que dele recebeu, e Deus mantém a sua Igreja e seus ministros pelo trabalho que desenvolvem em favor de seu povo. É o que está na Bíblia: “Quanto aos levitas, dou-lhes como patrimônio todos os dízimos de Israel pelo serviço que prestam na tenda de reunião” (Num 18, 21).
O Novo Testamento é o testamento da liberdade, em que as pessoas instruídas na fé, sabendo que é pouco o que dão, ou melhor, o que devolvem a Deus em retribuição pelo muito que dele receberam e continuam recebendo, fazem ofertas até mais que o dízimo generosas, de modo que “o que colheu muito não teve sobra, e o que pouco colheu não teve falta” (2 Cor 8, 15).



CONCLUSÃO
O dízimo é determinação do Antigo Testamento.
No Antigo Testamento, além do dízimo, havia oblações particulares que implicavam despesas para o ofertante.
Judas Macabeu coletou uma boa quantia em dinheiro para mandar a Jerusalém, a fim de oferecer UM sacrifício pelos soldados mortos em combate.
Jesus aprova o dízimo dos fariseus e as ofertas.
Jesus mesmo e seus apóstolos viviam de ofertas, não de dízimos.
O apóstolo Paulo não cobra dízimos, mas faz coletas em Corinto e outras comunidades, para ajudar a comunidade pobre de Jerusalém, e fala com autoridade à comunidade de Corinto, dos seus direitos ao salário, ao qual abdica por razões especiais.
O apóstolo Paulo fala do direito dos catequistas a um auxílio. Do direito que ele e seus missionários têm de receber o salário por seu trabalho.
O próprio Jesus afirmou que o operário do Evangelho é digno do seu salário.
Se se aplicasse o dízimo na Arquidiocese com a abolição das taxas, isso deveria ser iniciativa de todas as paróquias em conjunto.
Mesmo assim, parece de bom alvitre que as taxas permaneçam, embora com nome diferente como espórtulas ougratificações. As pessoas fariam suas ofertas ou doações espontâneas por ocasião da celebração dos sacramentos e, se instruídas, fariam ofertas significativas.
As paróquias que têm um bom dízimo e dispensaram as “taxas”, depositem na conta da Mitra da Arquidiocese um dízimo dobrado, ou passem a receber de novo as “taxas abolidas” como doações para obras diocesanas ou para o Fundo Diocesano da Solidariedade.
Antes de tudo, porém, é necessária uma ampla e profunda catequese sobre o assunto.



BINGOS, RIFAS, QUERMESSES: JOGOS DE AZAR?

Há quem exorcize das igrejas os bingos, rifas e outros jogos como jogos de azar. O que diz a respeito o Catecismo da Igreja Católica?
“Os jogos de azar (jogos de cartas e afins) ou as apostas em si não são contrários à justiça. Tornam-se moralmente inaceitáveis quando privam a pessoa daquilo que lhe é necessário para suprir as suas necessidades e as dos outros. A paixão pelo jogo corre o risco de se transformar em uma dependência grave. Apostar injustamente ou trapacear nos jogos constitui matéria grave, a menos que o dano infligido seja tão pequeno que aquele que o sofre não possa razoavelmente considerá-lo significativo.”
Bingos, rifas, jogos que se fazem em festas juninas e outras que têm a aparência de jogos de azar são diferentes em seu espírito e em seu objetivo daqueles que são proibidos pelo sétimo mandamento da Lei de Deus. São reuniões familiares e de amizade, cada qual com sua característica própria. Todos sabem que a sua finalidade é reunir a comunidade e amigos para se divertirem de maneira sadia, ao mesmo tempo em que colaboram adquirindo suas cartelas, fazendo suas apostas, comprando um número da rifa, tentando acertar a boca do palhaço ou a argola no gargalo da garrafa, participando de um leilão, fazendo o seu lanche, entre outras.
Pessoas que participam desses eventos sabem que estão dando sua contribuição para obras assistenciais, de manutenção ou construção em sua comunidade. Não pode ser qualificado como exploração um jogo que é uma diversão que reúne pessoas conhecidas, como é uma comunidade paroquial onde, sob a coordenação graciosa de alguns de seus membros, se promovem eventos em benefício da própria comunidade ou para dar ajuda a comunidades ou instituições que passam por dificuldades financeiras ou precisam de algum auxílio. Leve-se em conta que os prêmios nos bingos e outras promoções não são em dinheiro, mas produtos de consumo ou para o uso de quem os recebe. Além disso, boa parte das prendas são doações.
Os que trabalham nesses eventos o fazem gratuitamente. O trabalho é gratuito quando o trabalhador não cobra aquilo que lhe é de direito; renuncia a esse direito em prol de uma obra de caridade ou de campanha que tem por finalidade beneficiar a quem precisa. Iniciativas assim são comuns. Cada um dá de bom coração, contribuindo com o que pode.
Haverá algum inconveniente promover um bingo ou mesmo uma rifa para “engrossar” as coletas das Campanhas da Fraternidade e de Evangelização, Óbolo de São Pedro, Seminários, Obras diocesanas, Missões e outras de cunho humanitário, como ajuda a desabrigados vítimas de terremotos, enchentes, guerras...?
É evidente que festas, rifas e bingos de grande porte apresentam riscos. Convém evitá-los.
INVESTIR NA INSTRUÇÃO DOS FIÉIS

Um dos grandes problemas da Igreja, senão o maior, é a ignorância religiosa dos cristãos. Portanto, a sua solução é a instrução, o conhecimento, a explicitação acessível às mentes mais simples das razões da nossa fé.
O Papa Bento XVI, recebendo os bispos da Suíça em visita “ad límina apostolorum”” (visita que todos os bispos que têm o encargo de uma diocese devem fazer a cada cinco anos a Roma, para venerar os sepulcros dos santos apóstolos Pedro e Paulo e apresentar-se ao romano pontífice, a quem levam tambném um relatório sobre o estado de sua diocese), o Papa lhes fez um discurso em que denunciou as dolorosas conseqüências do nível espantoso a que chegou a ignorância religiosa.
Quantos dos nossos leigos são capazes, como vem escrito na primeira carta de Pedro (3, 15) “de responder àqueles que perguntarem pelas razões de sua esperança”? Quantos são capazes de dar essas razões “com mansidão, respeito e boa consciência”? Muito poucos.
Diante dessa “ignorância espantosa” é necessário investir na formação religiosa mais profunda de pelo menos alguns leigos e leigas para ajudarem os párocos no trabalho de melhor evangelização da comunidade; leigos longamente preparados, com dedicação total à Igreja e por ela dignamente remunerados. É o apóstolo Paulo que recomenda: “Aquele que recebe a catequese da palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gal 6, 6).



TEXTOS BÍBLICOS SOBRE O DÍZIMO E OUTRAS OFERTAS
O primeiro a oferecer dízimos foi Abraão. (Gên 14, 17-24)
Mas foi Abel quem ofereceu os primeiros cordeirinhos ao Senhor. (Gên 4, 4)
Os sacerdotes, religiosos e religiosas e pessoas que trabalham na igreja com serviço remunerado devem também pagar o dízimo. (Núm 18, 25-32)
O dízimo destina-se à manutenção do templo e à assistência aos pobres. (2 Crôn 31, 4-10)
O dízimo é um compromisso moral que todo fiel deve assumir. (Tb 1, 6-8)
Fidelidade no pagamento do dízimo. (Mal 3, 6-12)
Todos os dízimos dos produtos da terra como dos frutos das árvores pertencem ao Senhor. (Lev 27, 32)
A décima cria do rebanho é do Senhor. (Lev 27, 32)
O Senhor dá aos filhos de Levi por herança todos os dízimos arrecadados em Israel em compensação pelos seus serviços. (Núm 18, 21)
Voto de Jacó e seu dízimo. (Gên 28, 20-22)
Contribuição para o santuário. (Ex 25, 1-9)
O Senhor é a herança dos levitas. (Núm 18, 20-32)
Dízimo anual. (Dt 14, 22-27)
Dízimo trienal. (Dt 14, 28-29 e 26, 12-15)
Direitos dos sacerdotes e levitas. (Dt 18, 1-8)
Dízimo do peregrino, do órfão e da viúva. (Dt 26, 12-15)
Manutenção das pessoas que se dedicam ao culto. (Lc 10, 2-11)
Jesus paga a didracma. (MT 17, 24-27)
Com que espírito deve ser dado o dízimo? (Lc 18, 9-14)
Sustentação dos ministros (Lc 10, 1-9)
Doação amorosa e doação farisaica. (Lc 18, 9-14)
Oferta hipócrita. (Mt 23, 23)
Auxílio aos irmãos da Judéia. (At 11, 27-30)
Sonegamos na oferta dando menos do que poderíamos dar? (At 5, 1-5)
Coleta aos santos de Jerusalém (Rm 15, 25-29)
Os que desempenham funções sagradas vivem dos rendimentos do templo. (1 Cor 9, 13-14)
Sentido eclesial das ofertas. (2 Cor 8, 1-15)

(Pastoral do Dízimo, num compromisso comunitário. Ir. Roger Pilote)

OBRAS CONSULTADAS
Dicionário Católico Básico. Daniel L. Lowery. Editora Santuáro.
Dicionário Bíblico. Mons. Albert Vicent. Edições Paulinas.
Dicionário Enciclopédico da Bíblia. A. Van Den Born (Red.). Editora Vozes.
Comentário Bíblico. Dianne Bergant CSA e Robert J. Karris OFM (Org.) Edições Loyola.
Código de Direito Canônico. Edições Loyola.
Bíblia Sagrada. Tamanho grande. Editora Ave Maria
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Edições Loyola.
Dicionário de Termos Religiosos e afins. Aquilino de Pedro. Editora Santuário.
Compêndio dos Símbolos. Definições e declarações de fé e moral. Denziger, Hünermann. Edições Paulinas.
O Quinto Mandamento da Igreja. Revista Pergunte e Responderemos, nº 530. Estevão Bittencourt, OSB. Editora Lumen Christi.
Os Dízimos: que são? Revista Pergunte e Responderemos, nº 514. Estevão Bittencourt, OSB. Editora Lumen Christi.
Ignorância religiosa em nível espantoso. Revista Pergunte e Responderemos, nº 536 (fevereiro 2007). Estevão Bittencourt, OSB. Editora Lumen Christi.
Pastoral do Dízimo. Estudos da CNBB nº 8. Edições Paulinas.

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou.

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo