- Lumen Gentium: Constituição sobre a Igreja
- Gaudium et Spes: Constituição sobre as relações da Igreja com a sociedade
- Sacrosanctum Concilium: Constituição sobre a Liturgia
- Dei Verbum: Constituição sobre a Palavra de Deus
"O primeiro capítulo da Lumen Gentium, intitulado O mistério da Igreja, sinaliza uma Igreja trinitária, que se origina do mistério de Deus e deve testemunhá-lo ao mundo. O então teólogo e cardeal Ratzinger defende a tese de que o Vaticano II queria claramente inserir o discurso sobre a Igreja no discurso sobre Deus e queria propor, com isso, uma eclesiologia propriamente teológica. Entretanto, a recepção do Concílio esqueceu essa característica qualificante em favor de simples afirmações eclesiológicas, fazendo retroceder o espírito do Vaticano II."
O Concílio Vaticano II, inaugurado por São João XXIII em 11 de outubro de 1962, foi concluído por São Paulo VI em 1965. Do evento histórico resultaram 16 documentos, sendo 4 Constituições, a saber: Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Dei Verbum e Gaudium et Spes.
Os Padres conciliares deram grande atenção aos aspectos dogmáticos e pastorais da Igreja. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, um dos textos mais importantes do Concílio, foram reafirmadas várias verdades eclesiológicas. Ele trata da natureza e da constituição da Igreja, não só enquanto instituição, mas também como Corpo Místico de Cristo. A partir daí, a Igreja passou a ser vista não apenas como uma instituição hierarquizada, mas também como uma comunidade de cristãos espalhados por todo o mundo e constituintes do Corpo Místico de Cristo. Assim sendo, a constituição e "as estruturas da Igreja modificaram-se parcialmente e abriu-se espaço para maior participação e apostolado dos leigos, incluindo as mulheres, na vida eclesial".
“A eclesiologia da Lumen Gentium foi objeto de inúmeras reflexões e muitos comentários, sobretudo no período pós-conciliar, particularmente em 1985, por ocasião do Sínodo Extraordinário de Roma, 20 anos depois do Concílio. Agora, após 50 anos de sua promulgação, se renova essa reflexão e aplicação da eclesiologia da Lumen Gentium[1]. Baseando-me num artigo do teólogo Pe. Geraldo Borges Harckmann[2], professor da PUC-RS, cito aqui elementos eclesiológicos presentes nesse importante e rico documento.
Um dos elementos é a dimensão trinitária. No início de um artigo sobre a Eclesiologia da Lumen Gentium, o então cardeal Ratzinger conta um episódio interessante, capaz de iluminar a intenção do Vaticano II com essa Constituição Dogmática. O cardeal Frings contava que o bispo de Regensburg, Dom Michael Buchberger, organizador do Lexikon für Theologie und Kirche, quando os bispos da Alemanha discutiam quais deveriam ser os assuntos a serem abordados durante os trabalhos conciliares, pediu a palavra e disse que o Concílio, antes de tudo, deveria falar de Deus, porque esse era o tema que lhe parecia o mais importante. Os bispos alemães se sentiram tocados por essa afirmação, e o cardeal Frings manteve essa preocupação ao longo de todas as Sessões Plenárias do Vaticano II[3].
Usamos esse episódio para abordar a eclesiologia da Lumen Gentium. Nessa Constituição Dogmática encontra-se uma nova consciência da Igreja, que supera a autossuficiência de uma Igreja que se entende como fim em si mesma, e se descobre como a Igreja de Deus, que deve ser sacramento de salvação para o mundo. O primeiro capítulo da Lumen Gentium, intitulado O mistério da Igreja, sinaliza uma Igreja trinitária, que se origina do mistério de Deus e deve testemunhá-lo ao mundo. O então teólogo e cardeal Ratzinger defende a tese de que o Vaticano II queria claramente inserir o discurso sobre a Igreja no discurso sobre Deus e queria propor, com isso, uma eclesiologia propriamente teológica. Entretanto, a recepção do Concílio esqueceu essa característica qualificante em favor de simples afirmações eclesiológicas, fazendo retroceder o espírito do Vaticano II.
- Como a Igreja é a Igreja de Deus, a Ekklesía tou Theou, pode-se afirmá-la como uma Igreja sacramento de salvação (cf. Lumen Gentium 1), porque nela está presente o mistério do desígnio salvífico de Deus para a humanidade, como sinal do amor incondicional de Deus Trindade pelas pessoas, por ele criadas como um gesto de benevolência de seu dom. Com isso, uma das características da eclesiologia do Vaticano II é a dimensão trinitária da Igreja, que está clara no primeiro capítulo da Lumen Gentium.”
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[1] A título de exemplo, podem citar-se alguns trabalhos: B. KLOPPENBURG, Concílio Vaticano II (5 vol.). Petrópolis: Vozes, 1996; G. PHILIPS, A Igreja no mundo de hoje. Concilium 6 (junho de 1965), p. 5-18; Y. CONGAR, Mon journal du Concile. Paris: Cerf, 2002; G. BARAÚNA, A Igreja do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1965; A. ANTÓN, Ecclesiologia postconciliare: speranze, risultati e prospettive. In R. LATOURELLE (a cura), Vaticano II: Bilancio e prospettive venticinque anni dopo (1962-1987). Assisi: Cittadella Editrice, 1987, p. 361-388; M. A. DOS SANTOS (Org.), Concílio Vaticano II. 40 anos da Lumen Gentium (Coleção Teologia 27). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
[2] Hackmann, Pe. Geraldo Luiz. A IGREJA DA LUMEN GENTIUM E A IGREJA DA GAUDIUM ET SPES Borges
FATEO – PUCRS.
[3] J. RATZINGER, L’ecclesiologia della Costituzione Lumen Gentium. In R. FISICHELLA (a cura), Il Concilio Vaticano II. Recezione e attualità alla luce del Giubileo. Cinisello Balsamo: San Paolo, 2000, p. 66. 663