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Considerações amorosas (de um leigo) sobre o Sacerdócio Ordenado Católico






Fotografia rara, recentemente divulgada na web, de São João
Maria Batista Vianney, o Cura d'Ars, padroeiro dos padres


Por Felipe Marques – Assoc. São Próspero e Movimento Somar para Vencer


“É O SACERDOTE QUEM continua a obra da redenção na Terra", afirmava São João Maria Vianney. Quão grande deve ser o nosso maravilhamento diante de tão profundo mistério! De fato, acrescentava o Santo Cura d'Ars: "(...) Se bem se compreendesse o que o sacerdote é na terra, morrer-se-ia, não de medo, mas de amor. (...) O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”[1].


O Sacerdócio ordenado católico é de um valor inestimável para nós, fiéis, pois “o Sacerdote, seja quem for”, como afirma São Josemaria Escrivá, “é sempre outro Cristo”[2].


Ora, não busco aqui escrever um texto apologético em defesa do sacerdócio católico contra as heresias e contra o paganismo; pretendo, antes, partilhar com o leitor o amor que tenho por tão grande e honroso ministério. Não busco também tecer críticas contra aqueles que são sacerdotes e não vivem de acordo com aquilo a que foram chamados, visto que prefiro dar ênfase aos bons exemplos de sacerdotes que conheci ao longo da vida, seja pessoalmente ou através de livros e outros meios de comunicação. Além disso, não cabe a mim o papel de julgar o clero. Pretendo que o leitor, se for leigo, ame a vocação sacerdotal, dê-lhe seu valor merecido e lute por santidade em seu estado de vida, com mais fervor; se for padre, que ame sua vocação e aceite a grandiosidade do que Deus lhe pede; que seja “fornalha do amor ardente de Deus”.


Para ilustrar a magnanimidade dessa santa vocação de forma mais clara, cito as palavras do Frei São Leonardo de Porto-Maurício:


“Admirai-vos, talvez, de me ouvir dizer que a Missa é uma obra maravilhosa? E não é, com efeito, inefável maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que língua angélica ou humana poderia explicar poder tão excessivo? Quem, jamais, pode imaginar que a palavra de um homem, que não tem, naturalmente, a força de levantar da terra uma palha, receberia da graça o poder surpreendente de fazer descer do Céu o Filho de DEUS?”[3]


Oh, quão grande mistério é poder participar do Sacerdócio do próprio Cristo. Vejamos o que ensina o Catecismo da Igreja Católica sobre o sacerdócio ordenado católico:


1544. Todas as prefigurações do sacerdócio da Antiga Aliança encontram a sua realização em Jesus Cristo, «único mediador entre Deus e os homens» (1 Tm 2, 5). Melquisedec, «sacerdote do Deus Altíssimo» (Gn 14, 18), é considerado pela Tradição cristã como uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único «Sumo-Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec» (Heb 5, l0; 6, 20), «santo, inocente, sem mancha» (Heb 7, 26), que «com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados» (Heb 10, 14), isto é, pelo único sacrifício da sua cruz.


1545. O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. E no entanto, é tornado presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo se diga do sacerdócio único de Cristo, que é tornado presente pelo sacerdócio MINISTERIAL, sem diminuição da unicidade do sacerdócio de Cristo: «e por isso, só Cristo é verdadeiro sacerdote, sendo os outros seus ministros».


1546. Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja «um REINO DE SACERDOTES para Deus seu Pai» (18). Toda a comunidade dos crentes, como tal, é uma comunidade sacerdotal. Os fiéis exercem o seu sacerdócio baptismal através da participação, cada qual segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei. É pelos sacramentos do Baptismo e da Confirmação que os fiéis são «consagrados para serem [...] um sacerdócio santo».


1547. O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos BISPOS e dos PRESBÍTEROS e o sacerdócio comum de todos os fiéis – embora «um e outro, cada qual segundo o seu modo próprio, participem do único sacerdócio de Cristo» – são, no entanto, essencialmente DIFERENTES ainda que sendo «ordenados um para o outro». Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da vida baptismal – vida de fé, esperança e caridade, vida segundo o Espírito – o sacerdócio ministerial está ao serviço do sacerdócio comum, ordena-se ao desenvolvimento da graça baptismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e guiar a sua igreja. E é por isso que é transmitido por um sacramento próprio, que é o sacramento da ORDEM[4].


* * *



Por excelência, o sacerdote é o homem do sacrifício! O homem que oferta sua vida, oferta a si mesmo para oferecer sacrifícios a Deus em nome da assembleia, do povo de Deus. Ser ministro ordenado do próprio Cristo é algo incomparável! Para entender melhor o valor de tão grande chamado, tomemos por exemplo uma ferramenta: a ferramenta tem seu valor aumentado de acordo com a função que exerce e também de acordo com o operário que a manuseia; ora, o valor do padre é gigantesco visto que ele é uma ferramenta que Cristo utiliza para salvar almas. Em outras palavras: o próprio Cristo se faz presente no sacerdote.


Após o exposto acima, como não amar o sacerdócio? Graças a Deus tive a benção de conhecer ótimos padres durante minha caminhada na Igreja; louvo e glorifico a Deus pelas vidas de tantos bons padres que me acompanham em minha vida. Deus me deu um ótimo pai segundo a biologia e me deu ótimos pais espirituais, com isso posso ver fácil e claramente que nosso Pai do Céu é maravilhoso!


Depois de grande convivência com diversos sacerdotes, fui questionado por outrem sobre minha vocação, e também me questionei sobre isso. Após muito tempo de discernimento, mesmo não sendo santo como São Francisco de Assis, consigo entender o que ele afirmava com temor filial ao informar que sua vocação não era o sacerdócio: “Sou indigno de tão grande ministério”. Que grande poder é dado ao padre e, igualmente, que grande responsabilidade!


Deus dá a graça para que cada um consiga carregar a cruz que lhe cabe; sendo assim, como duvidar que é o próprio Senhor que chama as pessoas para viverem de acordo com seu santo Desejo? Como negar que é Ele quem assiste seus ministros para que se mantenham fiéis aos votos feitos livremente e fieis a missão que lhes fora confiada?


Como compreender que um homem abandona tudo para ganhar Aquele que É? Na sua pequenez, um rapaz doa sua vida inteira para viver para os outros! O padre nos ouve, orienta, perdoa nossos pecados conforme instituído pelo próprio Cristo, dá-nos O Senhor na Eucaristia... O padre é certeza da Presença de Cristo em nossas vidas! Explicar tamanho mistério? Creio que seja impossível. Mas podemos nos aproximar disso tudo, ilustrando esse quadro com as cores do amor que o próprio Deus tem por nós.


Ora, o que é a vocação senão o chamado dAquele que nos ama em primeiro lugar? Aceitar e viver a vocação é responder ao amor de Deus amando-O de volta através do próximo. É doar-se aos outros porque em primeiro lugar Deus se doou por nós; é ouvir o outro porque Deus nos ouve; é sacrificar-se porque Cristo sacrificou-se por nós! É amar verdadeiramente, é doar-se a si mesmo.


Sem o sacerdote não há Sacramentos; este é mais um motivo pelo qual devemos valorizar e rezar por todo o clero! Quão triste é ver, em alguns lugares, a ausência de “outros Cristos”, devido às perseguições e afins. É impossível me imaginar sem a Santa Missa e sem a Confissão; só de imaginar tais situações verto lágrimas, pois, quão grandes perigos minha alma correria sem tais socorros celestes!


Fico igualmente triste ao observar alguns padres que não vivem de acordo com a grandeza daquilo que são! Seja por má formação, ou por fraqueza, acabam se rendendo à partidos, ao dinheiro, a ideologias ou outras tentações às quais todos nós católicos estamos expostos e escolhem viver coisas menores do que aquilo mesmo que é o sacerdócio: ALGO GRANDIOSO. Agradeço a todos os padres, pelo sim de cada um e deixo um apelo a todos: sejam fieis à doutrina da Santa Igreja, sejam fieis à Sagrada Tradição e ao Sagrado Magistério, sejam obedientes e salvem almas. Garanto que pelo exemplo de santidade e coerência de vida, vocês arrastarão multidões para o Paraíso!


Padres, vocês são grandes, então tenham uma alma magnânima! Finalizo com um trecho da carta encíclica Sacerdotii Nostri Primordia de São João XXIII que cita um discurso de Pio XII: “O caráter sacramental da ordem chancela da parte de Deus num pacto eterno o seu amor de predileção, que exige em troca, da criatura escolhida, a santificação... O clérigo deve ser tido como um eleito entre o povo, cumulado dos dons sobrenaturais e participante do poder divino, numa palavra, um 'outro Cristo'... Já não pertence a si, nem aos parentes e amigos, nem mesmo à sua pátria. Deve consumi-lo um amor universal. Mais ainda, a caridade universal será o seu respiro, os seus pensamentos, a vontade, os sentimentos deixam de ser seus, para serem de Cristo, que é a sua vida”[5].


Dedico este texto aos bons sacerdotes que passaram por minha vida e me auxiliaram e ainda auxiliam no caminho de santificação, em especial ao meu pároco padre Francisco Reginaldo Henriques de Miranda, ao meu dileto diretor espiritual padre Adilson Oliveira, ao padre Paulo Ricardo, ao padre Paulo do Oratório de São Filipe Neri e tantos outros que não lembro agora, aceitem meus mais sinceros agradecimentos e minhas pobres orações.  

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Notas e referências:

1. O amor do coração de Jesus, disponível em: https://padrepauloricardo.org/blog/o-amor-do-coracao-de-jesus

2. São Josemaria Escrivá, Caminho ponto 66

3. São Leonardo de Porto Maurício, As Excelências da Santa Missa, disponível em: http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2010/11/as-excelencias-da-santa-missa.html

4. Catecismo da Igreja Católica, disponível em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap3_1533-1666_po.html

5. Carta Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia do Papa São João XXIII, disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_19590801_sacerdotii.html
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