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Teoria de gênero? – ou – A sociedade ocidental enlouqueceu de vez?


Pelo Prof. Joathas Belo


A TESE PRINCIPAL da "teoria de gênero" diz: "o gênero é um construto cultural, logo, ele independe do sexo biológico". O que isso quer dizer? "Gênero" é uma palavrinha "mágica" que encobre mais do que revela alguma coisa; significa o papel social masculino ou feminino.

Evidentemente que esse papel é construído, em boa medida, na sociedade, pois ele não vem "pronto", por assim dizer, junto com o sexo biológico. Mas a inferência que se faz a partir do dado verdadeiro da construção cultural dos papéis sociais da masculinidade e da feminilidade, de que tais papéis não têm relação com o sexo biológico, não procede. Isto porque as ideias sobre os papéis sociais dos sexos masculino e feminino nascem precisamente da diferença que, fenomenologicamente, se expressa na fisiologia e na anatomia do varão e da mulher. Tais ideias respondem à pergunta: "como estas diferença e complementaridade biológicas se projetam na vida social?".

Trata-se, portanto, de interpretar o que é ser varão ou mulher, e não de que cada um "decida" se é homem ou mulher (ou, ainda, um terceiro 'gênero' nem masculino, nem feminino, mas “neutro”). Não se "constrói" a masculinidade ou a feminilidade, simplesmente, mas sim o sentido social desta diferença. A perspectiva de gênero sofisma, – ao tomar uma parte (o papel social do sexo) como o todo (o sexo mesmo), – a ponto de alguns teóricos chegarem a negar a própria realidade do sexo biológico (até esta já seria uma interpretação)!

Uma real preocupação com as injustiças ou opressões concretas que se cometem em nome de uma concepção rígida dos papéis sociais masculino e feminino deveria apelar à igual dignidade ontológica das pessoas feminina e masculina, mas nunca a uma condição sexual amorfa, que poderia ser modelada arbitrariamente. Não existe "pessoa humana" em abstrato: toda pessoa é pessoa feminina ou masculina; a condição sexuada é fato inerente ao ser humano.

Negar essa diferença é, sem percebê-lo, recair numa [falsa] postura "espiritualista", segundo a qual o ser humano é sua "alma", como diriam os antigos, ou sua "mente", como se diz hodiernamente. O corpo não teria nada a ver com a identidade da pessoa, mas seria um mero "acidente" ou "instrumento" que o sujeito –cartesiano – poderia usar ao seu bel prazer. A Filosofia clássica afirma que as diferenças psíquicas nascem precisamente das diferenças corpóreas; nesse sentido, a sexualidade não é um atributo meramente corpóreo, mas pessoal (do ser humano inteiro), portanto, também psíquico ou espiritual.



Se a questão fosse meramente teórica, os parágrafos acima encerrariam o assunto. Porém, os “teóricos” do gênero são, na realidade, ideólogos, e a questão não é científica, mas política: é parte de um programa político mais amplo cuja pretensão é destruir a imagem cristã da família, a beleza da complementariedade entre os sexos, a profundidade do amor humano entre homem e mulher, para erigir, em seu lugar, uma “família” fundada exclusivamente no que a teologia cristã chama “concupiscência”, o desejo irracional propalado por Nietzsche e Freud.

Uma ideologia assim deve ser vencida pela força do testemunho de amor das famílias, conjugado à firmeza na recusa de toda e qualquer influência dessas ideias sobre os filhos. Tais ideias são erradas do ponto de vista lógico e são nocivas do ponto de vista moral.

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* O Prof. JOATHAS BELLO é Mestre em Filosofia pela PUC-RJ e Doutor em Filosofia pela Universidade de Navarra (Espanha), atualmente professor No Seminário da Diocese de Niterói, na faculdade de São Bento e na FAETEC-RJ.

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