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7º Domingo do Tempo Comum, ano A, Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Mateus (5,38-48)



“SEDE PERFEITOS como vosso Pai dos Céus é perfeito” (Mt 5,48). Esta frase do Evangelho é incômoda. Pode sem dúvida ser aplicada com um peso indevido. Sim, pois quem é perfeito nesta vida? E quantos, em busca de um ideal de perfeição, acabaram sucumbindo no meio do caminho ou ficaram paralisados diante de culpas ou de um sentimento de culpa demasiado? É interessante observar que esta fala de Jesus se dá depois de um longo discurso sobre o amor ao próximo. Isso indica que a perfeição exigida por Cristo não é uma exortação à impecabilidade absoluta, na vida ou no culto, ou de uma construção aparentemente impecável de pureza; nem tão pouco indica a necessidade de uma relação irretocável com Deus.

A nossa busca pela perfeição é um crescimento no Amor, que se concretiza por um novo modo de se relacionar com Deus e também com nossos irmãos. “Ao lermos as Escrituras, fica bem claro que a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. E a nossa res­posta de amor também não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pes­soais a favor de alguns indivíduos necessitados, o que poderia constituir uma "caridade por re­ceita", uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar ou anestesiar a consciência. A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4,43); trata-se de amar verdadeiramente e praticamente a Deus. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos” (Evangelii Gaudium §180). 

“Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem. Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,44-45). As palavras de Jesus devem nos incomodar, tiranr-nos do comodismo, fazer-nos dar mais do que aquilo que é justo, mais do que se pode calcular pela lógica da retribuição humana. É preciso entrar na dinâmica da gratuidade, que tem a sua força na encarnação do Filho de Deus: Deus que se torna humano e ama os pecadores, não retribui mal com mal, mas dá a vida também pelos seus agressores. Ele faz chover sobre maus e bons, não ama apenas os santos. Jesus nos ensina a amar de modo gratuito, sem prestar atenção no limite do irmão, pois somos todos falhos, pequenos, participantes solidários do pecado.

Diante dos enfrentamentos humanos, o primeiro movimento costuma ser a vingança. Parece ser justo retribuir o mal com o mal, destruir o agressor. É preciso ter consciência dos movimentos de nosso coração, com a clareza de que somos capazes de agredir, vingar, bater e até matar. A consciência de que somos também agressores ajuda-nos a crescer no Amor. É preciso que se tenha clareza de que é muito fácil e espontâneo viver uma vida narcísica, egoísta. Disse a poetisa Cecília Meireles: “É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada. É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre”. 

Estamos diante da concupiscência humana, esta fraqueza que nos faz tender sempre para o mal. Precisamos lutar contra esse tendência todos os dias, a todo instante. Diante do movimento de ódio e ressentimento, Jesus nos dá o remédio da oração. Não é possível orar por alguém sem que haja algum movimento positivo no coração. Quando oramos por alguém, amamos esta pessoa em Deus. Por isso, este é o primeiro passo para destruir a corrente de vingança e ódio. Dar a outra face não significa uma atitude ingênua e talvez meio suicida, mas sim a capacidade de dar uma nova chance. Todos, inclusive nós, queremos sempre uma nova oportunidade de tentar ser bom, de reconstruir o que foi destruído. 

É preciso viver o amor genuíno: o santo Amor de Jesus. Viver na dinâmica do ódio e da vingança é paganismo. Assim, o Evangelho nos questiona sobre o sentido mais profundo de nossa religião. Somos realmente seguidores de Jesus? Que atitudes nossas vêm demonstrando sintonia com as exigências desta Palavra de Deus? Só pela fidelidade no Amor é que podemos nos considerar filhos do Pai Celeste.

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Adaptado da homilia do  Pe. Roberto Nentwig, para o 7º Domingo do Tempo Comum, ano A, disponível em:

http://catequeseebiblia.blogspot.com.br/2014/02/homilia-do-7-domingo-do-tempo-comum-ano.html

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