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Virtudes Teologais



Virtudes Teologais

“As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para que possa participar da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus. Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto. As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade.” (Catecismo da Igreja Católica 1812-1813)
A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem. “O fim de uma vida virtuosa consiste em se tornar semelhante a Deus”, como escreveu Gregório de Nissa. Há virtudes sobrenaturais e virtudes humanas. Na Igreja Católica, a partir das Escrituras, e por antiga tradição patrística e mística, a teologia cristã distingue as virtudes sobrenaturais ou infusas, que incluem as virtudes teologais; e as virtudes humanas, que incluem as virtudes morais e todas as demais, que se fundam nas virtudes teologais. A virtude sobrenatural é uma qualidade que Deus mesmo infunde na alma, pela qual se tem propensão, facilidade e prontidão para conhecer e praticar o bem, em ordem da vida eterna. As virtudes teologais são sobrenaturais e têm por origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. Os cristãos acreditam que elas são infundidas na pessoa humana com a graçasantificante, e que elas as tornam capazes de viver em relação íntima com aSantíssima Trindade. Elas fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando e fundamentando todas as virtudes humanas. Para os cristãos, as virtudes teologais são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades e potencialidades do ser humano.
As Virtudes Teologais, como o nome indica, são as virtudes sobrenaturais que nos fazem agir bem em relação a Deus. Elas são essencialmente sobrenaturais, pois, além de serem dons divinos, dirigem-se a Deus nos seus atos. E isso deve nos levar a agradecer muito a Deus. Além de nos ajudar a praticar os atos de virtude necessários para o nosso cotidiano, Deus nos infunde na alma virtudes tão especiais que nos levam à sua intimidade, nos devolvem a imagem e semelhança divinas que perdemos pelo pecado e nos levam a viver em profunda intimidade de amor e de filialidade com Ele. Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, salientamos novamente, por ser uma questão doutrinal importantíssima, que as virtudes teologais têm como origem, motivo e objeto imediato o próprioDeus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação doEspírito Santo nas faculdades do ser humano. O fundamento das três virtudes teologais, fé, esperança e caridade, encontra-se no texto bíblico de 1Cor 13,13: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”. Outro texto bíblico, Gálatas 5,6 cita que a Fé opera pela caridade (ou pelo amor). No Antigo Testamento muitas citações já preparam o terreno dessa compreensão fundamental das virtudes teologais na vida cristã.
Desde a Antiguidade cristã até os nossos dias atuais, com base nas Escrituras, as virtudes teologais foram aprofundadas pelos Padres da Igreja e pelos místicos de forma impressionante e profunda, sendo que eles também reconheceram nas Escrituras as quatro virtudes cardeais classificadas ainda pelos filósofos pré-cristãos em seus escritos; estudaram e elucidaram, classificando de diferentes formas também todas as demais virtudes humanas e morais cristãs, que estão diretamente ligadas e fundamentadas nessas principais virtudes teologais, fé, esperança e caridade.

Etimologia

Virtude, do latim virtus, virtute, virtutis, de vir, viril, força, vigor; do grego, ρετή, arèté, arete, força; designa toda excelência própria de uma coisa, em todas as ordens de realidade e em todos os domínios. Segundo os dicionários, uma disposição constante, habitual ou firme da alma que levam o homem a praticar o bem ou a evitar o mal, equivalendo a uma força moral. Virtude é o conjunto de todas ou qualquer das boas qualidades morais; uma ação virtuosa; austeridade no viver; qualidade própria para produzir certos e determinados resultados; propriedade, eficácia; validade, força, vigor. A virtude caracteriza-se pela héxis ou habitus, que significa uma disposição para viver a virtude: é definida como uma maneira de ser adquirida. O latim traduziu héxis por habitus. A virtude só será héxis ou habitus se for retirado desse termo o caráter de disposição permanente e costumeira, mecânica, automática.  Outra característica da virtude e a mediedade (mésotès), estar no meio, no equilíbrio; termo que remete ao termo médio de um silogismo e também à média ou medida, ou ao meio termo, que caracteriza a virtude.
Teologal, do grego, theós, Deus; e logos, amor racional, sabedoria, conhecimento. Provem de Deus: portanto, são recebidas como um Dom de Deus. Na ética religiosa a Fé, a Esperança e a Caridade são chamadas teologais, porque não são elas produtos de um hábito, pois não as adquirimos através de seu próprio esforço. Não são o produto de uma prática, porque pode o homem praticar a caridade sem tê-la no coração; pode o homem exibir uma crença firme, sem alentá-la em seu âmago; pode o homem tentar revelar aos outros que é animado pela esperança, sem ressoar ela em sua consciência.

As Três Virtudes Teologais

As virtudes teologais são sobrenaturais ou infusas, e são três, fé, esperança e caridade:


Através dela, os cristãos creem em Deus, nas suas verdades reveladas e nos ensinamentos da Igreja, visto que Deus é a própria Verdade. Pela fé, “o homem entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus, porque “a fé opera pela caridade” (Gl 5,6). A Fé é o assentimento do intelecto que crê, com constância e certeza, em alguma coisa. Ninguém gesta dentro de si a Fé; ou a tem, ou não. Ligadas diretamente à fé, estão as virtudes da crença, da confiança, da fidelidade, da firmeza, da fortaleza, da verdade, da adoração, da reverência, da consolação, da oração, da quietude e da unção interior, da ascese espiritual. Os dons do espírito Santo, Temor de Deus, Ciência, Sabedoria e Entendimento, mais que os demais, estão também diretamente ligados á virtude teologal da fé. Pecados ou vícios contrários à fé seriam a descrença, a desconfiança, a infidelidade, a irreverência, a blasfêmia, o ateísmo, a negação de Deus, a idolatria, a mentira, o desespero, a desolação, a inquietude e a agitação espiritual, a tibieza, o desprezo e a ignorância de Deus e da fé.
“A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, “o homem livremente se entrega todo a Deus. Por isso o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus. “O justo viverá da fé” (Rm 1,17). A fé viva “age pela caridade” (Gl 5,6). O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas “é morta a fé sem obras” (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo. O discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la, testemunhá-la com firmeza e difundi-la: “Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à Igreja. O serviço e o testemunho da fé são requisitos da salvação: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32-33). (Catecismo da Igreja Católica 1814—1816)

Esperança

Por meio dela, os crentes, por ajuda da graça do Espírito Santo, esperam avida eterna e o Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas promessas de Jesus Cristo. A Esperança não é o produto de nossa vontade, mas de uma sobrenaturalidade e espontaneidade, cujas raízes nos escapam, porque não é ela genuinamente uma manifestação da pessoa humana, mas algo que se manifesta por nós, porque não encontramos na estrutura de nossa vida biológica, nem da nossa vida intelectual, uma razão que a explique. A Esperança é a expectação de algo de superior e perfeito. A vivência de todas as demais virtudes é iluminada sempre pela fé, pois o caminho das promessas plenamente realizadas é feito cada dia e cada passo fundamentado na esperança. O pecado contrário à esperança é o desespero, quando alguém não consegue ver a esperança nas promessas divinas, e a sua vida penetra num abismo sem sentido e sem rumo.
“A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. “Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (Hb 10,23). “Este Espírito que ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados por sua graça e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna” (Tt 3,6-7). A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade. A esperança cristã retoma e realiza a esperança do povo eleito, que tem sua origem e modelo na esperança de Abraão, cumulada em Isaac, das promessas de Deus, e purificada pela prova do sacrifício. “Ele, contra toda a esperança, acreditou na esperança de tornar-se pai de muitos povos” (Rm 4,18). A esperança cristã se manifesta desde o início da pregação de Jesus no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam nossa esperança ao céu, como para a nova Terra prometida; traçam o caminho por meio das provações reservadas aos discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos de Jesus Cristo e de sua Paixão, Deus nos guarda na “esperança que não decepciona” (Rm 5,5). A esperança é a “âncora da alma segura e firme, penetrando... onde Jesus entrou por nós, como precursor” (Hb 6,19-20). Também é uma arma que nos protege no combate da salvação: “Revestidos da couraça da fé e da caridade e do capacete da esperança da salvação” (lTs 5,8) Ela nos traz alegria mesmo na provação: “alegrando-vos na esperança, perseverando na tribulação” (Rm 12,12). Ela se exprime e se alimenta na oração, especialmente no Pai-Nosso resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar. Podemos esperar, pois, a glória do céu prometida por Deus aos que o amam e fazem sua vontade. Em qualquer circunstância, cada qual deve esperar, com a graça de Deus, “perseverar até o fim” e alcançar a alegria do céu como recompensa eterna de Deus pelas boas obras praticadas com graça de Cristo. Na esperança, a Igreja pede que “todos os homens sejam salvos” (1Tm 2,4). Ela aspira a estar unida a Cristo, seu Esposo, na glória do céu. Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo, e longo um tempo bem curto. Considera que, quanto mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus; e mais te alegrarás um dia com teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais terminar.” (Catecismo da Igreja Católica 1817-1821)

Caridade ou Amor

Por meio dela, “amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei”. Para os crentes, a caridade é “o vínculo da perfeição” (Cl 3,14), logo a mais importante e o fundamento das virtudes. O Amor é também visto como uma “dádiva de si mesmo” e “o oposto de usar”. Paulo disse que, de todas as virtudes, “o maior destas é o amor” (ou caridade). A Caridade é a mãe de todas as virtudes como dizem os antigos, e diziam-no com razão: é a raiz de todas as virtudes, porque ela é a bondade suprema para consigo mesmo, para com os outros, para com o Ser Infinito. A caridade supera nossa natureza, porque graças a ela nós avançamos além de nós mesmos, além das nossas exigências biológicas. Ligadas diretamente à caridade, estão virtudes como: misericórdia, compaixão, piedade, perdão, bondade, humildade, benignidade, docilidade, benevolência, humildade, sinceridade, paz, fraternidade, amizade, respeito, transparência, lealdade, solicitude, generosidade, gentileza, cortesia, compreensão, paciência, unidade, abertura, estima, apreciação, aceitação, consideração, valorização, testemunho. Pecados ou vícios contrários à caridade seriam inveja, intransigência, intolerância, impiedade, punição, vingança, agressão, opressão, desprezo, menosprezo, grosseria, rudeza, rejeição, incompreensão, inimizade, ofensa, maledicência, arrogância, detração, violência, remorso, homicídio, ruindade, maldade, maleficência, malevolência, dureza de coração, resistência, desrespeito, lisonja, adulação, melindre, falsidade, egoísmo, divisão, dissidência, aversão, fechamento, escândalo.
“A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus “até o fim” (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor” (Jo 15,9). E ainda: “Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e de seu Cristo: “Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (Jo 15,9-10). Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda “inimigos” (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres. O apóstolo São Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: “A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (l Cor 13,4-7). Diz ainda o apóstolo: “Se não tivesse a caridade, nada seria...”. E tudo o que é privilégio, serviço e mesmo virtude... “se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”. A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais “Permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1Cor 13,13). O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o “vinculo da perfeição” (Cl 3,14); é a forma das virtudes, articulando-as e ordenando-as entre si; é fonte e termo de sua prática cristã. A caridade assegura purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor divino. A prática da vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao amor daquele “que nos amou primeiro” (1Jo 4,19): Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando assim na posição do escravo; ou buscamos o atrativo da recompensa, assemelhando-nos aos mercenários; ou é pelo bem em si mesmo e por amor de quem manda que nós obedecemos... e estaremos então na posição de filhos. A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão: A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos.” (Catecismo da Igreja Católica 1822-1829)

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