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São Cosme e Damião não são 'orixás', 'ibejis' ou 'erês' – a armadilha do sincretismo religioso


São Cosme e São Damião, festejados
pela Igreja em 26 de setembro

NÓS, CATÓLICOS, devemos cultivar gratidão e veneração pelos nossos santos, pelo exemplo de vida e de amor a Cristo que foram e são para nós (Hb 6,12; 1Cor 13,1; João 8,39), e por continuarem a interceder por nós no Céu, unindo suas orações ao único Mediador de nossa Salvação, Jesus Cristo, Senhor nosso (Ap 5,8. 6,9-10. 7,9-10. 8,4. 13-15; Hb 12,1; 1Tm 2,5).

São Cosme e São Damião foram cristãos mártires pela fé, e são cultuados há muitos séculos (desde 300/400 dC). Até hoje, seus nomes são lembrados na Liturgia da Santa Missa, e são venerados também na Igreja Ortodoxa, que os homenageia em novembro. Seus restos mortais e suas relíquias estão distribuídos em Roma e em algumas igrejas e mosteiros da Alemanha, católicos e ortodoxos.

Refletiremos neste estudo sobre a ação maléfica do sincretismo religioso, nas lendas e mitologias que cercam o culto a esses e a outros autênticos mártires da fé cristã.

Lamentavelmente, no Brasil, o culto desses santos benfeitores foi bastante deturpado através da História, no sincretismo religioso que é típico do paganismo e muito presente nos cultos africanos trazidos pelos escravos ao Brasil a partir do século  XVI.

O sincretismo, como sabemos, é a prática de se misturar elementos de  religiões diferentes, forçando uma harmonia que de fato não existe. No caso que estamos tratando, é pretender dar "aparência católica" a um sistema de crenças completamente diferente ou oposto àquilo que prega o catolicismo de fato. Ainda mais lamentável (e nocivo para as almas) é o fato de que hoje tanto a mídia secular quanto as próprias instituições católicas ajudam a promover o sincretismo como se fosse coisa muito boa, louvável, digna e justa. – Como se fosse coisa cristã. – Respeitar a liberdade religiosa e coexistir com as diferentes crenças é uma coisa. O sincretismo religioso, que é desonesto em sim mesmo, porque em sua origem já foi pensado para enganar, é outra coisa, completamente diferente.

Ocorre que na triste época da escravatura os cativos africanos criaram uma maneira engenhosa de enganar os senhores de engenho: invocavam seus deuses ou entidades espirituais/orixás, – como "Oxalá", "Ogum", "Iemanjá" e muitos outros, – simulando que rezavam para Jesus, Maria ou alguns dos santos mais reverenciados na época, como São Sebastião, São Jorge, Santa Bárbara, São Cosme e Damião, etc.

Tal situação viria a causar, posteriormente, muita confusão entre o povo católico brasileiro, especialmente entre as pessoas mais simples. Situação esta que permanece, em maior ou menor grau, até hoje. No dia da celebração de Cosme e Damião, adeptos de diversas seitas costumam distribuir doces às crianças, usando os nomes dos santos católicos para homenagear  determinadas "entidades" espirituais infantis que compõem o panteão de suas crenças. No catolicismo, S. Cosme e S. Damião não são crianças: eram irmãos gêmeos e médicos, que entregaram suas vidas como mártires. Abaixo, um resumo de sua verdadeira história.


São Cosme e Damião são mais autenticamente representados 
na liturgia oriental, como adultos, inclusive com barba

A verdadeira história de São Cosme e São Damião

Os gêmeos árabes Cosme e Damião eram filhos de uma nobre família de cristãos. Nasceram por volta do ano 260 dC, na região da Arábia, e viveram na Ásia Menor. Desde muito jovens, ambos manifestaram um grande talento para a medicina, profissão à qual se dedicaram após estudarem e se diplomarem na Síria.

Tornaram-se profissionais competentes e dignos, e foram trabalhar como médicos e missionários na Egéia. Amavam a Cristo com fervor, e decidiram atrair pessoas ao Senhor através de seu serviço. Por isso, não cobravam pelas consultas e atendimentos que prestavam, e por esse motivo eram chamados de "anárgiros", que significa algo como “inimigos do dinheiro" ou quem "não pode ser comprado pelo dinheiro".

A riqueza que almejavam era fazer de sua arte médica também o seu apostolado para a conversão dos povos: uma missão que, a cada dia, cumpriam cada vez melhor. Seus corações ardiam por salvar as almas, e nisto se envolveram através da prática da medicina. Inspirados por Deus, usavam a fé aliada aos conhecimentos científicos, confiando sempre no poder da oração, e assim operaram verdadeiros milagres, Curando muitos doentes em nome do Cristo Jesus, vários destes já à beira da morte.

Também preocupavam-se em curar animais, pois sabiam que “toda a criação aguarda, com ardente expectativa, pela manifestação da Glória de Deus em Seus filhos” (Rm 8,18-19).

Manifestaram autoridade do Alto, pregando o Evangelho com sinais e prodígios. Sua linguagem e sua pregação, conformes às Escrituras “não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de Poder” (ICo 2.4). De tal forma, conseguiram plantar a semente da Salvação em muitos corações, colhendo inúmeras conversões ao Senhor Jesus. Cosme e Damião possuíam uma revelação clara do chamado que tinham como ministros do Evangelho, chamado que cumpriam no cotidiano de sua rotina profissional, ministrando Cristo através de seu trabalho.

Porém, as atividades cristãs dos médicos gêmeos chamaram a atenção das autoridades locais da época, quando o Imperador romano Diocleciano autorizou a perseguição aos cristãos, por volta do ano 300. Diocleciano odiava os cristãos porque eram fiéis a Cristo, e não adoravam ídolos ou estátuas de deuses pagãos, consideradas sagradas pelo Império Romano.

E assim, por pregarem o cristianismo, Cosme e Damião foram presos, levados a tribunal e acusados de se entregarem à prática de feitiçarias e de usar meios diabólicos para disfarçar as curas que realizavam. Ao serem questionados quanto às suas atividades, eles responderam: "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo, pela força do seu Poder".

Conheciam eles os princípios da fé cristã desde a infância, e por isso recusaram-se a adorar os deuses pagãos, apesar de todas as graves ameaças de terríveis castigados. Diante do governador Lísias, ousaram declarar que aqueles falsos deuses não tinham poder algum sobre eles, e que só adorariam o Deus Único, Criador do Céu e da Terra. Mantiveram a Palavra do testemunho de Cristo, impressionando a todos por seu Amor e sua entrega a Nosso Senhor Jesus.

Não renunciaram aos Mandamentos de Deus, e por isso sofreram tenebrosas torturas. Mesmo cruelmente torturados, porém, não se deixaram abalar em sua convicção e jamais negaram a fé. No ano 303, o Imperador decretou que fossem condenados à morte, na Egéia. Os dois irmãos foram postos, então, diante de um paredão, para que quatro soldados os atravessassem com flechas, mas consta que resistiram às flechadas e também pedradas. Os militares foram assim obrigados a recorrer à espada para a decapitação, considerada uma honra reservada somente aos cidadãos romanos. Dessa maneira é que Cosme e Damião foram martirizados.

Dois séculos após suas mortes, por volta do ano 530, o Imperador Justiniano deu ordens para que se construísse, em Constantinopla, uma grandiosa igreja em honra de Cosme e Damião. A fama dos gêmeos também correu no Ocidente, a partir de Roma, e uma basílica foi dedicada a eles, construída a pedido do Papa Félix IV, entre os anos 526 e 530. A solenidade de consagração da Basílica ocorreu num dia 26 de setembro, data em que os santos gêmeos são festejados pela Igreja Católica.

Os nomes de Cosme e Damião são pronunciados inúmeras vezes, todos os dias, no mundo inteiro. Até hoje, os gêmeos são cultuados em toda a Europa, especialmente na Itália, França, Espanha e Portugal. Além disso, são venerados como padroeiros dos médicos e farmacêuticos. Devido à sua simplicidade e inocência, também são invocados como protetores das crianças.

Aqui no Brasil, a veneração autêntica uniU-se à feitiçaria. A devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-meninos (Ibejis ou Erês) da tradição africana yorubá. Cosme e Damião, os santos mabaças ou gêmeos, são tão populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha a rua e adentra aos barracões de candomblé e terreiros de umbanda, no dia 27 de setembro, quando crianças saem aos bandos pedindo doces e esmolas em nome dos santos.

Uma característica marcante na Umbanda e no Candomblé, em relação às representações de Cosme e Damião, é que junto aos dois santos católicos aparece uma criancinha vestida igual a eles. Essa criança é chamada de Doúm ou Idowu, que personifica as crianças com idade de até sete (7) anos de idade, sendo ele, segundo a crença, o protetor das crianças nessa faixa de idade. Nas festas de tradição afro, enquanto as crianças se deliciam com a iguaria consagrada, os adultos ficam em volta entoando cânticos (oríns) aos orixás.

Triste e lamentável ver a total profanação dos Princípios Eternos pelos quais os gêmeos árabes morreram. Suprema contradição: jamais Cosme e Damião deram-se aos ídolos ou praticaram magia e ocultismo, - exatamente por isso foram executados. - Mas o pecado do homem e a maldade de Satanás, que consegue distorcer mesmo as coisas mais belas e santas, fazem com que o engano se propague por gerações, tornando em mal uma tradição bela, recomendável e santa. S. Cosme e S. Damião foram cristãos fiéis até o fim, amaram o Senhor sem medida, e sem restrições manifestaram Jesus em suas vidas diárias. Assim, ganharam inúmeras almas através do Amor e da Pregação. É neste testemunho que devemos nos inspirar.


É lícito que um católico distribua ou aceite doces em honra de São Cosme e São Damião?

Evidentemente, os católicos não devem participar do sincretismo, que é de fato um desvirtuamento da verdadeira veneração desses e de outros santos. Em certas situações, no entanto, torna-se difícil saber quem adota esse costume por verdadeira devoção aos santos ou para homenagear os "orixás". Essa prática só poderia ser permitida aos cristãos se feita por pura caridade, sem qualquer ligação com a paganismo, feitiçarias ou tradições de ritos estranhos à nossa fé. S. Cosme e S. Damião podem somente ser cultuados na fé da Igreja, nas Missas, novenas e orações particulares.
Mais acima, imagem de escultura da umbanda que representa 'Erê' e 'Curumim', invocados sob os nomes de Cosme e Damião, juntamente com 'Doum', com o qual formam um trio. Acima, a imagem tradicional dos santos católicos grosseiramente adulterada para se adequar às entidades da umbanda. De fato, vê-se que a imagem do santo da esquerda foi apenas recortada, reduzida e colada entre os dois santos.
Cabe salientar que nós, católicos, podemos e devemos saber conviver pacificamente com as diferentes opções religiosas das pessoas que nos cercam, na medida do possível, desde que para isso não deixemos de afirmar a nossa verdadeira fé cristã, católica e apostólica. É preciso sempre deixar muito claro que Cosme e Damião são nossos irmãos na fé, que oram por nós no Céu, e não entidades espirituais da umbanda.

No sincretismo, Cosme e Damião são os orixás "ibeji", filhos gêmeos de "Xangô" e "Iansã", divindades que se creem protetoras do parto duplo, amigos das crianças e responsáveis por atender pedidos em troca de doces (daí o costume de se distribuir doces às crianças no dia 27 de setembro). Sinal evidente, as imagens que apresentam três figuras não são católicas, pois o terceiro elemento representa o chamado "Doum", entidade africana. S. Cosme e S. Damião, evidentemente, são apenas dois. - O dia de S. Cosme e S. Damião é celebrado também pelas linhas candomblé, batuque, xangô do nordeste, xambá e pelos centros de umbanda, sendo que em todos estes são associados aos ibejis.

Atualmente, na Igreja Católica, o dia de Cosme e Damião é 26 de setembro, por conta do dia de São Vicente de Paulo, que morreu no dia 27 e passou a ser festejado nessa data, - pois a morte de um santo é o dia em que ele nasce no Céu e para a Igreja. - Como não se sabe com exatidão o dia da morte de Cosme e Damião, sua festa foi transferida para o dia 26.

Na Bahia, região onde a cultura africana é mais presente, e o sincretismo também é maior, certos grupos católicos equivocadamente (ou vergonhosamente?) comemoram o dia de S. Cosme e S. Damião juntamente com representantes de outras vertentes religiosas, oferecendo o caruru, comida típica africana e das religiões que cultuam os orixás. Quando se faz o “caruru de santo”, é costume convidar sete crianças normalmente desconhecidas e convidadas na rua, de última hora, para serem servidos antes de todos. A Igreja Católica não aprova nem apoia esse tipo de costume, por favorecer o sincretismo e a confusão de conceitos entre religiões completamente diferentes, mas por ser uma prática que infelizmente está profundamente enraizada na cultura popular, acaba sendo tolerada. De todo modo, mesmo nessas ocasiões, os católicos devem somente manifestar a sua veneração pelos santos mártires, enquanto os umbandistas reverenciam suas entidades.


Justificativas que não justificam

Alguns católicos comparam o costume de se distribuir alimentos e guloseimas de Cosme e Damião, associados a tradições pagãs e entidades africanas, com o costume dos tempos dos Apóstolos de se consagrar o alimento aos deuses (ídolos) antes de consumi-lo, e resolvem o problema com a citação de um trecho da primeira carta de São Paulo aos coríntios. São Paulo Apóstolo diz:

Quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no Céu quer na Terra, todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para Quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo Qual são todas as coisas, e nós por Ele." (1Cor 8, 4-6)

Simplificando a ideia: os deuses pagãos não existem; logo, tanto faz comer ou não do alimento consagrado a eles. Além disso, alguns outros nos lembram que o Senhor Jesus disse que não é o que entra pela boca que faz mal ao homem, e sim o que sai dela (cf. Mt 15,11).

O grande problema nessas justificativas é que São Paulo, na passagem citada, salienta que os alimentos oferecidos aos deuses pagãos não eram, na verdade, oferecidos a deus algum, pois os deuses pagãos não existem. Logo, comer aqueles alimentos não significava, de fato, prestar culto a deus algum. É diferente afirmar que os alimentos oferecidos a entidades espirituais potencialmente demoníacas (pois sabemos que o maligno é mestre da dissimulação), estão sendo oferecidos ao nada. Esta segunda afirmação é falsa. Não é possível haver outros deuses, pois Deus é um só, mas existem os demônios, e é possível oferecer-lhes culto e prestar-lhes homenagens. Sendo assim, por estarmos tratando de realidades espirituais desconhecidas e não de deuses, a passagem de São Paulo não se aplica à questão dos alimentos consagrados a "entidades" pagãs.

Assim, o cristão que come alimentos consagrados a Cosme e Damião segundo o sincretismo pagão, desconhecendo sua conotação umbandista, age inocentemente. Contudo, o cristão que tem conhecimento do contexto espiritual em que são distribuídos tais alimentos e ainda assim os aceita e come, age mal, não somente incentivando uma festa pagã, como também tomando parte nela.

A existência do mal se verifica não somente na intenção da pessoa ou no escândalo que pode ser causado perante terceiros, mas também nas situações concretas, de tal modo que representações e símbolos, bem como cultos ou festividades, podem ser ocasião de manifestação concreta do mal.

De maneira mais ou menos semelhante, supostos cristãos vão às praias todo final de ano oferecer flores à Iemanjá, - um espírito ou divindade  que segundo a nossa fé não existe, e portanto não haveria mal nessa prática, - mas o grande problema é que essas pessoas estão de fato participando de uma prática pagã, dando mau exemplo aos seus próximos e perpetuando uma crença falsa e idolátrica.

Quanto à afirmação de Nosso Senhor, de que o que entra pela boca não mancha o homem, se a analisarmos dentro do seu contexto próprio, veremos que se refere aos rituais de purificação dos judeus. É evidente que se comermos alimento estragado, por exemplo, seremos prejudicados, e muito.

Finalizando, há um princípio essencial do bom senso e da prudência que, se for seguido nesses casos, resolve tudo: na dúvida, não faça. Melhor ainda, guarde distância.

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Fontes e referência:
QUEVEDO, Oscar Gonzales. Milagres: A ciência confirma a fé, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2000, pp.18-21.
AQUINO, Felipe. Artigo "Cosme e Damião são santos mesmo?"

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