"Damos por suposta uma continuidade entre neo Pentecostalismo católico e Pentecostalismo protestante dos anos 1900, bem como entre este e o revivalismo americano do século XIX. Esta continuidade é verificável e declarada". (Claude Gérest, A Hora dos Carismas, in R. Laurentin, E. Dussel L. Boros, C. Duquoc et Allii, Os Carismas, Revista Concilium 129, 1977/1979, editora Vozes, Petrópolis, p.16).
O resumo a seguir objetiva mostrar a ‘herança’
protestante do Movimento Carismático. Informações normalmente omitidas
nos históricos encontrados em sites como o da Comunidade Shalom e Canção
Nova. Para obter estas informações, basta procurar nos sites acima
citados os nomes de todos os personagens importantes do nascimento da
RCC, listá-los e fazer uma busca individual no google sobre eles.
A Renovação Carismática, inicialmente conhecida como
movimento católico pentecostal, ou católicos pentecostais, surgiu em
1966, quando Steve Clark, da Universidade de Duquesne em Pittsburgh,
Pensilvânia, Estados Unidos, durante o Congresso Nacional de "Cursilhos
de Cristandade", mencionou o livro "A Cruz e o Punhal", do pastor John Sherril,
sobre o trabalho do pastor David Wilkerson com os drogados de Nova
York, falando que era um livro que o inquietava e que todos deveriam
lê-lo.
Em 1966, católicos da Universidade de Duquense
reuniam-se para oração e conversas sobre a fé. Estavam insatisfeitos com
a sua experiência religiosa. Querendo vivenciar a experiência com o
Espírito, foram ao encontro de William Lewis, sacerdote da Igreja Episcopal Anglicana, que por sua vez os levou até Betty de Shomaker, que fazia em sua casa uma reunião de oração pentecostal.
Em 13 de janeiro de 1967, Ralph Keiner, sua esposa
Pat, Patrick Bourgeois e Willian Storey vão à casa de Flo Dodge,
paroquiana Anglicana de William Lewis, para assistir a reunião. Em 20 de
janeiro assistem mais uma reunião e suplicam que se ore para que eles recebam o "Batismo no Espírito Santo".
Ralph recebe o dom de línguas (fenômeno chamado no meio acadêmico de
glossolalia ou xenoglossalia.). Na semana seguinte, a fevereiro de 1967,
Ralph impõe as mãos para que os quatro recebam o batismo no Espírito.
Em janeiro de 1967, Bert Ghezzi comunica a
universitários de Notre Dame, South Bend, Indiana o que teria ocorrido
em Pittsburgh. Em fevereiro, antes do retiro de Duquesne, Ralph Keifer
vai a Notre Dame e conta suas experiências. Incitando o interesse de
vários líderes entre os estudantes e professores que também estavam
interessados na renovação espiritual da igreja.
Depois de alguma investigação e cepticismo inicial, mais ou menos nove estudantes católicos
se reuniram no apartamento de Bert Ghezzi e foram batizados no Espírito
Santo. Eles, porém, não manifestaram nenhum dom espiritual evidente.
Para solicitar ajuda, contataram Ray Bullard, um membro das Assembléias de Deus e
presidente da Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno de
South Bend. Ghezzi descreve como este grupo de intelectuais católicos
recebeu o dom de línguas.
Em quatro de março, este grupo de estudantes se reúne
na casa de Kevin e Doroth Ranaghan. Um professor de Pittsburgh partilha
a experiência de Duquesne, e em 5 de março, ainda em 1967, o grupo pede
a imposição de mãos para receber o Espírito Santo. Vejamos o relato:
"Fomos a casa de Ray na semana seguinte e nos reunimos em seu porão com onze ministros pentecostais de toda a Indiana, acompanhados de suas esposas. Eles passaram a noite tentando persuadir-nos de que se tivéssemos sido batizados no Espírito teríamos falado em línguas. Nós os deixamos cientes de que estávamos abertos para falar em línguas, mas ficamos firmes em nossa convicção de que já havíramos sido batizados no Espírito, porque podíamos ver isto em nossas vidas. O problema ficou resolvido porque nós estávamos querendo falar em outras línguas desde que isto não fosse visto como uma necessidade teológica para ser batizado no Espírito. A certa altura, dissemos que estávamos dispostos a fazer uma experiência, e um homem explicou-nos as implicações disto. Bem tarde naquela noite, passando da meia-noite, lá embaixo, naquele porão, os irmãos nos alinharam em um lado do cômodo e os ministros se colocaram do outro lado. Então começaram a orar em línguas e a caminhar em nossa direção com as mãos estendidas. Antes de eles nos alcançarem, muitos de nós começaram a falar e cantar em línguas"
Na medida que esses católicos oravam
até alcançar o Pentecostes, muitas coisas semelhantes aos dos
pentecostais clássicos começaram a ocorrer. Alguns riam
incontrolavelmente "no Espírito", enquanto um jovem rolava pelo chão em
êxtase. Gritar louvores ao Senhor, chorar e falar em línguas
caracterizaram o início do movimento. Não é à toa que foram chamados de
"Católicos Pentecostais" pelo público e imprensa, quando as notícias
sobre os estranhos eventos em Pittsburgh se espalharam.
Enfim, resumindo… Naqueles primeiros tempos de
euforia pós-Vaticano II, uma época agitada pelo frenesi ecumênico, esses
estudantes da Universidade de Duquesne em Pittsburg (USA) começaram a
se expor às influências pentecostais devido à sua aridez espiritual.
Eles conviviam em meio aos seus muitos amigos protestantes de "vidas
modificadas" e decidiram então orar pedindo graças idênticas. Uma
espécie de retiro de fim de semana, sem nenhum acompanhamento realizado
em 1967, foi a chave providencial para os seus questionamentos.
Após seu nascimento, o movimento carismático segue com fortes influências pentecostais em seus encontros, como por exemplo:
· O livro "A Cruz e o Punhal", influente na formação
do movimento, foi escrito pelo Pastor John Sherril, sobre o trabalho do
pastor David Wilkerson [os protestantes foram oficialmente tidos por
hereges no Concílio (Dogmático) de Trento, e isso não
foi revogado], que também pregou em um dos primeiros Congressos da RCC nos Estados Unidos;
foi revogado], que também pregou em um dos primeiros Congressos da RCC nos Estados Unidos;
· Padre Tomas Forrest, liderança internacional da RCC
no início do Movimento, teve sua experiência do ‘Batismo’ no Espírito
Santo num retiro da Renovação Carismática Católica dos EUA pregado por
dois padres, uma freira e dois evangélicos Metodistas.
· Parte considerável das músicas do livro "Louvemos
ao Senhor" e outras populares no movimento, têm origem no
protestantismo, tais como “Buscai primeiro o Reino de Deus” e
“Glorificarei teu nome, oh Deus”, "Pelo Senhor marchamos sim…”, “A
alegria está no coração…”, “Posso pisar uma tropa…”, “Eu navegarei…”,
“Espírito (…) vem controlar todo o meu ser…”, “Espírito, enche a minha
vida, enche-me com teu poder…”, “Assim como a corsa…”, “Deus enviou seu
filho amado…”, “Se as águas do mar da vida…”, “Eu sou feliz por que meu
Cristo quer…”, “Levanta-te, levanta-te Senhor… fujam diante de ti teus
inimigos”, “Venho Senhor minha vida oferecer", “Meu pensamento vive em
você…”, “Se acontecer um barulho perto de você…”, “Celebrai a Cristo,
celebrai…”. “E ainda se vier, noites traiçoeiras…” Entre outras.
Por volta de 1990, o movimento já contava com cerca
de 72 milhões de seguidores no mundo inteiro e organizações oficiais em
mais de 120 países. Várias pessoas se aproximaram de vários ministros
protestantes, leigos e grupos de oração protestantes; e todos receberam o
tal "batismo no Espírito" e “repouso no Espírito” depois de terem tido
mãos heréticas impostas sobre eles em oração [repito que os protestantes
foram oficialmente tidos por hereges no Concílio (Dogmático) de Trento,
e isso não foi revogado].
A importância dessa ação não deve ser subestimada.
Esses Católicos se submeteram a um rito não católico de caráter quase
sacramental obviamente uma desvirtuação do Sacramento da Confirmação,
onde realmente o Espírito Santo “guardado desde o batismo”, age de forma
poderosa dando ao fiel a autoridade de assumir por conta própria a
responsabilidade de sua caminhada e toda a vibração emocional
proporcionada por esse pecado (objetivamente falando, naturalmente)
convenceu-os da santidade da inteira experiência. Eles saíram dali como
"Católicos Carismáticos" e sua influência se espalhou igual fogo
selvagem por todo o país, primeiramente nos campus de colégios e depois
pelo mundo inteiro.
Se existe um bom argumento para se ouvir a Igreja,
esse é um deles. A Igreja por quase 2000 anos, sempre alertou seus
filhos para manterem distância de "cultos" heréticos, porque Ela sabe
muito bem as consequências de tal pecado, tanto para os indivíduos
envolvidos como para o Corpo Místico como um todo. Apesar disso a RCC
não só admite como impertubavelmente louva, suas raízes ecumênicas e
protestantes.
A conclusão tácita é que a Igreja – O Corpo de Cristo
– perdeu a maior parte da Fé* a vida no Espírito Santo, enquanto o
Espírito Santo manteve essa mesma fé dentro do Protestantismo. Portanto,
os protestantes é que estariam restaurando à Igreja o seu patrimônio
perdido. Esse é um posicionamento tão falso quanto audacioso, o que
claramente cai em contradição com dois Dogmas de Fé: extra ecclesiam
nulla salus = fora da Igreja não há salvação, e a indefectibilidade da
Igreja.
*“A Renovação Carismática como diz a própria palavra, é reviver a experiência de Pentecostes” (…) “É restituir à Igreja sua verdadeira face que é a carismática” (S. Falvo, A Hora do Espírito Santo, Paulinas , São Paulo, p. 105).
"Veja bem a data: estávamos em 1975. Fazia apenas oito anos que Deus começara a derramar o seu Espírito de maneira nova sobre a Igreja Católica" (Padre Jonas Abib, A Bíblia no meu dia-a-dia, p. 14. O negrito é meu).
Como observamos, segundo o Padre Abib, Deus só começou a derramar o Espírito Santo e seus dons sobre a Igreja – de maneira nova – na década de 1960. E até essa data, como Deus deixara a Igreja?
Em 1975, os Bispos dos Estados Unidos lançaram um
documento chamado "Declaração sobre a Renovação Carismática Católica", o
qual se definia como um documento "de cunho pastoral no tom e no
conteúdo" e não como um "estudo exaustivo". Esse documento reconhece
alguns dos perigos inerentes ao Movimento: elistismo, fundamentalismo
bíblico, exagero na importância dos dons, indiscriminado ecumenismo e as
assim chamadas "pequenas comunidades de fé".
Já no ano de 1994, os Bispos do Brasil lançaram outro
documento chamado: “Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática
Católica” documento 53 da CNBB. Dentre outros direcionamentos, podemos
citar:
“Evite-se na RCC a utilização de termos já consagrados na linguagem comum da Igreja e que na RCC assumem significado diferente, tais como pastor, pastoreio, ministério, evangelizador e outros” (§29)“A experiência religioso-cristã não se realiza em mera experiência subjetiva” (§46)“A fé não pode ser reduzida a uma busca de satisfação de exigências íntimas e de resposta às necessidades imediatas”(§47)“Por isso, evite-se alimentar um clima de exaltação da emoção e do sentimento, que enfatiza apenas a dimensão subjetiva da experiência da fé”(§49)“A palavra ‘batismo’ significa tradicionalmente o sacramento da iniciação cristã. Por isso, será melhor evitar o uso da expressão ‘batismo no espírito’, ambígua, por sugerir uma espécie de sacramento”(§55)“… não se incentive a chamada oração em línguas…”(§63)“Evite-se a prática do assim chamado ‘repouso no Espírito’”(§66)“Quanto ao ‘poder do mal’, não se exagere a sua importância (…) O exorcismo só pode ser exercido de acordo com o que estabelece o Código de Direito canônico (Cân. 1172). Por isso, seja afastada a prática, onde houver, do Exorcismo exercido por conta própria.”(§68)
Ora, assim como não se dá um conselho sobre “como
fugir das drogas” a alguém que só apresenta problemas familiares, a CNBB
não iria dar estes direcionamentos à Renovação Carismática se não
fossem práticas comuns do movimento.
De qualquer modo, podemos dizer que um dos frutos
positivos da total crise de autoridade na qual os católicos de hoje
encontram-se imersos, é a sede saudável por conhecer mais sobre a
história da Igreja e estudar os documentos de seu Magistério.
Para finalizar…
Para citar como exemplo o tipo de formação dada pelo pastor David Wilkerson, tão elogiado na obra “A cruz e o punhal”, observemos um trecho de uma de suas pregações:
Para citar como exemplo o tipo de formação dada pelo pastor David Wilkerson, tão elogiado na obra “A cruz e o punhal”, observemos um trecho de uma de suas pregações:
“… Este é o conceito apostólico do reino de Cristo. Difere muito dos que ensinam que Cristo comissionou a igreja para administrar o reino na Sua ausência, e levar todas as nações à obediência – e fazê-lO retornar como Rei a um mundo onde os inimigos já estão todos postos sob os Seus pés. Ensinam que Cristo só voltará depois que todas as nações crerem nEle e que a justiça e a paz encherem toda a terra. Esta é uma divergência radical do que os apóstolos ensinaram.Roma desenvolveu esta doutrina do domínio há alguns séculos atrás. Ela foi formulada por Agostinho em sua "Cidade de Deus". A igreja então reivindicou governar em nome de Cristo na ausência dEle. Completaram o ensino chegando à sua conclusão lógica declarando a supremacia absoluta do seu bispo – o Papa.Martinho Lutero e outros pregadores da Reforma ensinaram que Babilônia era a Igreja Católica, e o Papa, a besta. Muitos crentes naquele tempo foram martirizados por deixar a igreja – multidões foram assassinadas por ordem do Papa. Qualquer pessoa que conheça a história da igreja pode verificar que a Igreja Católica no passado ficou manchada pelo sangue de muitas almas piedosas. Mas os protestantes também mataram católicos – como acontece hoje na Irlanda. Estão se matando como loucos.”
Estas são palavras do pastor que inspirou a a
fundação daquele movimento que leva o nome de “católica” em sua sigla.
Nada mais se pode esperar de um pastor protestante do que estas
palavras. E da R.C.C.?