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O Sacramento da Confissão

O mais lamentável paradoxo nas nossas vidas é o fato de que todos nós enquanto instintivamente procuramos a felicidade, a maior parte do tempo nos sentimos infelizes e insatisfeitos mesmo quando nenhum perigo nos ameaça. A filosofia não esclarece satisfatoriamente a razão desse paradoxo. A fé cristã entretanto explica que a razão dessa insatisfação e sentimentos depressivos estão em nós mesmos. Ela resulta do nosso estado de pecado — não só de nossos próprios pecados mas também provém da nossa natureza danificada pelo pecado original.
O pecado é uma enfermidade espiritual que cresce e se alastra progressivamente e cada vez mais nos subjuga. Sem um policiamento o pecado ganha força e escraviza sua vítima e ao fazer isso corrompe a mente, enfraquece sua vontade de fazer o bem, introduz amargura e inquietação, estimula maus pensamentos e compele sua vítima a reincidir no pecado por vezes seguidas.
Todas as pessoas em maior ou menor escala são corrompidas pelo pecado, embora muitas vezes não reconheçam toda extensão de sua doença interior. A razão principal para a vinda do Senhor Jesus Cristo ao nosso mundo era para erradicar em nós a raiz do pecado e nos devolver a saúde espiritual e junto com ela a eterna bem-aventurança. Entretanto, como o pecado é tão intensamente entrelaçado com a nossa mente e vontade, com o nosso subconsciente, ele não pode ser eliminado de imediato, ou através de meios externos. É essencial que estejamos ativamente envolvidos com o seu extermínio, mas até mesmo nossos esforços não são suficientes para erradicar totalmente o pecado. Somente a graça de Cristo poderá nos dar uma completa recuperação espiritual.
É exatamente nisso que consiste a grande vantagem da fé cristã sobre as outras religiões e diversos ensinamentos religiosos filosóficos, de que somente ela dá forças e recursos ao homem para lutar com o pecado e alcançar a pureza moral. O primeiro ponto decisivo na cura espiritual é o sacramento do batismo. Através dele o fiel é purificado de todos os pecados e renasce espiritualmente para uma vida reta e virtuosa. Entretanto, a predisposição ao pecado ainda não está totalmente eliminada. Com o passar do tempo a pessoa cai em pecado devido à desatenção, inexperiência e variadas tentações. Supostamente eliminado, como uma célula cancerosa deixada após uma cirurgia, começa a se propagar novamente, ganhando força e tentando se apoderar totalmente da vontade da pessoa. De novo ela se torna doente espiritualmente e consequentemente infeliz e amarga.
Nessa difícil e persistente batalha contra o pecado os sacramentos da confissão e comunhão são poderosos instrumentos que auxiliam o cristão. No sacramento da confissão o arrependido cristão na presença do confessor espiritual, abre para Deus o seu coração obscurecido e doente e permite a luz celestial entrar, purificar e curar o coração. Tanto na confissão como no batismo se oculta o imenso e renascente poder do crucificado Filho de Deus. Por esse motivo que após ter tomado esse sacramento o verdadeiro penitente se sente purificado e renovado como uma criança recém batizada. Ele adquire novo vigor para enfrentar a batalha contra o mal dentro de si mesmo e para reiniciar uma vida justa.
Para ajudar o leitor a ganhar o maior benefício da confissão explicaremos aqui o significado e a força desse sacramento e forneceremos um auxílio à preparação para a confissão e orações que são lidas durante esse sacramento.

Ao observar o curso de nossos sentimentos e pensamentos rapidamente nos convencemos de que dentro de nós constantemente duas entidades estão em conflito: uma boa e outra má. Uma verdadeira vida cristã se inicia somente quando conscientemente elegemos o bem e rejeitamos o mal. Enquanto desprezamos o nosso crescimento espiritual, passivamente sucumbindo aos nossos desejos e tendências, quaisquer que sejam, sem avaliá-las, não estamos ainda vivendo uma vida cristã. Somente quando nos tornarmos penosamente conscientes das nossas faltas, quando julgarmos a nós mesmos e tomarmos a decisão de nos renovarmos, então estaremos entrando no caminho cristão. O Evangelho possui muitos exemplos vivos da súbita mudança nas pessoas que decidem se voltar a Deus. Um deles é ilustrado através da parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:4-14). O fariseu é um exemplo de auto-ilusão. Ele freqüenta o templo de Deus e faz boas ações. Entretanto não se pode dizer que ele seja um homem piedoso, por que? Porque ele está satisfeito consigo mesmo, cheio de orgulho. Ele se vangloria de sua retidão, porque não enxerga suas próprias deficiências morais; diante dele ainda não se abriu o abismo do pecado instalado dentro dele. O publicano por outro lado é um pecador que reconhece sua pobreza moral e se arrepende. Ele julga somente a si mesmo e deseja se tornar uma pessoa melhor. Ele pede a Deus apenas misericórdia e orientação e Nosso Senhor Jesus Cristo faz do publicano arrependido um exemplo para nós, para que nos voltemos insistentemente para os nossos corações e façamos todo o esforço para corrigirmos a nossa condição moral.
Outro arrependimento genuíno pode ser visto em Santa Maria do Egito. Tendo sido ela atrevida e uma pecadora cheia de paixões desde a juventude, e após ter visitado a igreja da Ressurreição em Jerusalém se arrependeu profundamente, foi ao deserto e depois de ter passado ai o resto de sua vida se tornou uma das maiores santas. (Ela morreu no início do século VI AD). A igreja comemora o seu dia na quinta semana da Quaresma.
Muitas vezes, mesmo se considerando cristã, a pessoa não observa seus defeitos e por muito anos vive sem se preocupar com seu aperfeiçoamento moral. De repente, seus olhos espirituais se abrem e ela se volta para Deus. Ela se torna outra pessoa, Muitas vezes essa mudança ocorre aos poucos, depois de muitas hesitações e repetidas quedas.
Vejamos agora se as condições acima se aplicam a nós. Observe seus atos durante os últimos dias, seus sentimentos, intenções e palavras. Ontem por exemplo, você ofendeu cruelmente a uma pessoa, com palavras, com ofensiva desconfiança ou olhar de desprezo. Há três dias que você está sendo perturbado por algum desejo sujo e você não só deixou de eliminá-lo de seu pensamento mas até o apreciou. Ou então surgiu uma oportunidade de ajudar alguém mas isto poderia atrapalhar o seu sossego e você deixou de ajudar essa pessoa. Se você for observador e consciencioso, você perceberá que as paixões abrangem uma grande parte da nossa existência, que toda a sua vida é um grande entrelaçado de pequenos e grandes pecados nos pensamentos, sentimentos, palavras e atos. Se deixamos de prestar atenção ao conteúdo moral da nossa vida ou se achamos que tudo é perfeitamente normal, isto significa que ainda não iniciamos nossa vida cristã. Nossa verdadeira vida cristã, somente começará quando dissermos com convicção: "Não quero mais essa sujeira no meu coração! Quero ser puro, bondoso! Quero ser um autêntico cristão.
Assim que você fizer a opção de seguir esse caminho você descobrirá que a batalha contra os maus hábitos e tentações é extremamente difícil, dolorosa e exaustiva. Você verá com que freqüência os pensamentos, sentimentos e desejos impuros, mesmo contra a sua vontade, se apossarão de você e irão empurrá-lo ao encontro de ações pecaminosas. Em muitos casos, somente depois de consumada a palavra ofensiva ou má ação é que você se dá conta de que não deveria ter feito o que fez. Entretanto, antes de finalizar esse pecado você não entendia para onde os seus pensamentos e sentimentos o levavam. Assim, reiteradamente cometemos ações que iremos depois lamentar de ter feito. Assim você começa a compreender a grande verdade das palavras do apóstolo Paulo: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim, o que detesto" (Romanos 7:15).
Além disso você se torna um joguete de suas inclinações ruins. Você sente que sua essência interior se profana com essas más influências, o pensamento fica confuso, surgem desejos impuros, a vontade enfraquece.
Como então podemos nos livrar de toda essa sujeira? Como fazer para arremessá-la para fora de dentro de nós? Será possível que permaneceremos com ela? Às vezes, quando dividimos nossas tristezas com alguém nos sentimos aliviados. Deste modo porém, nós apenas partilhamos tristezas com outros, mas não nos livramos delas totalmente. É necessário um outro meio mais preciso de salvação.
Um célebre escritor espiritual, bispo Theophan relata o seguinte: "Havia um jovem que se afligia profundamente por ter profanado sua alma com inúmeros pecados. De tristeza ele adormeceu. E eis que ele sonhou que um anjo desceu do céu e com uma faca afiada abriu uma fenda em seu peito, retirou seu coração, cortou-o em pedaços, retirou dele as partes podres e estragadas, recolocou-o cuidadosamente no lugar e curando depois a ferida. O jovem acordou e se sentiu purificado de seus pecados. "Seria tão bom se nós também pudéssemos experimentar semelhante ação curativa de um anjo portador de luz." E um anjo assim nos é cedido. Isto significa — a graça do Espírito Santo no sacramento da confissão.
Nós sabemos que Jesus Cristo trouxe a vida sagrada para o mundo. Essa vida sagrada é transmitida a todos nós através da Igreja e os Santos Sacramentos. A confissão é o sacramento do arrependimento e foi instituída para que através dela nós nos purifiquemos de todo mal dos nossos pecados. A confissão — não é apenas um costume existencial o qual deve ser cegamente cumprido, mas sim, é um meio indispensável e de extraordinária importância para a cura e correção moral, respondendo às exigências mais indispensáveis de nossa natureza moral.
Esquivar-se da confissão é o mesmo que estar sofrendo de alguma doença física e conhecendo um medicamento certo para a cura, não tomar esse remédio por negligência ou preguiça, e desse modo, deixar que a doença se desenvolva.

Seguindo os ensinamentos do nosso Salvador e de Seus Apóstolos, acreditamos que o sacramento do arrependimento cura as nossas doenças espirituais, realiza a depuração espiritual, e o cristão que recebe o perdão dos pecados, torna-se novamente puro e santificado como ele foi após o batismo. São aniquilados nossos pecados os quais nos atraem para baixo, entorpecendo nossa mente, coração e consciência, cegando nosso olhar espiritual, enfraquecendo nossa vontade cristã, e ao mesmo tempo é restabelecido nosso elo vivo com o Senhor Deus e com a Igreja. Aliviados do peso dos pecados, revivemos espiritualmente e nos tornamos aptos para nos fortalecermos e nos aperfeiçoarmos na vida cristã.
O sacramento do arrependimento consiste em duas partes: a confissão dos nossos pecados diante do padre da Igreja e a súplica do perdão para absolvição deles pronunciadas pelo padre. "A confissão" — ou seja a expressão verbal — é um fator indispensável do verdadeiro arrependimento. O que é então o arrependimento? O arrependimento não se limita apenas na consciência dos nossos pecados ou somente o simples fato de nos reconhecermos indignos; ou até mesmo não apenas a aniquilação e lamentação pelas quedas e fraquezas admitidas e não somente o arrependimento (embora o confessor tenha todos esses sentimentos). Mas o arrependimento é a decisão de lutar com nossas tendências ruins e esforço da vontade de corrigir-se. A condição de arrependimento da alma se une com o pedido do auxílio de Deus para lutar com nossas más tendências. Tal arrependimento sincero e de coração é necessário para que a eficácia desse sacramento se estenda não apenas ao serem tirados os pecados, mas para que o abençoado remédio penetre na alma aberta, não permitindo que ela novamente mergulhe na lama do pecado.
A enumeração oral das nossas enfermidades espirituais e a mesura diante do padre-confessor ou confissão dos pecados — possui o importante significado de que nela são vencidos o orgulho, — que é a principal fonte do pecado — e o desânimo pelo reconhecimento da falta de esperança de nos emendarmos. A revelação dos pecados nos aproxima da erupção deles de dentro de nós. O penitente se prepara para o sacramento da confissão através de orações, jejum e imersão para dentro de si com o objetivo de enxergar e lamentar seus pecados.
A misericórdia de Deus vem ao encontro do cristão arrependido, testemunhando através dos lábios do padre-confessor de que o Pai Celestial não rejeita quem se aproxima Dele, assim como não rejeitou o filho pródigo. Esse testemunho é concluído com as palavras de uma oração e palavras especiais, pronunciadas pelo padre.
O sacramento do arrependimento foi estabelecido pelo Senhor através de Sua ressurreição, quando tendo aparecido aos Seus discípulos, disse-lhes: "A paz esteja convosco... e, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão retirados." Além disso, Cristo Salvador antes ainda falou por duas vezes a respeito desse sacramento. Precisamente a primeira vez, Ele falou ao apóstolo Pedro: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mat. 16:19). Na segunda vez Ele atestou a todos os apóstolos: "Se recusa ouví-los, dize-o à Igreja. E se recusa ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra, será também desligado no céu" (Mat. 18:17-18).
Os sacerdotes surgem apenas como mediadores na realização do sacramento, o qual é feito de modo invisível através deles pelo Próprio Deus. São João Crisóstomo, tendo em vista a divina instituição da autoridade dos pastores da Igreja, "decidir e tomar," (desatar e amarrar) escreveu o seguinte: "Os padres determinam a sorte (na terra); Deus afirma a aflição (no céu), e o Senhor concorda com a opinião de Seus servos." Aqui o padre-confessor aparece como instrumento da graça de Deus , e absolve os pecados não pelo seu poder mas sim em nome de Deus.
A ação invisível da graça no sacramento do arrependimento, por sua extensão e poder se estende sobre todas as transgressões do homem. Não há pecado que não possa ser perdoado às pessoas, se elas se arrependerem sinceramente e confessarem com fé viva no Senhor Jesus e esperança em Sua misericórdia. "Eu não vim chamar os justos mas os pecadores" (Mat. 9:13), dizia o Salvador, e mesmo o grande pecado do apóstolo Pedro, Jesus perdoou, quando ele se arrependeu com sinceridade. Sabe-se que o referido apóstolo chamava para o arrependimento até mesmo aqueles judeus que crucificaram o verdadeiro Messias (Atos 2:28-41), e depois também chamou para o arrependimento Simão o mago que se fazia passar por um grande personagem e era o líder dos heréticos (Atos 8:18-24). O apóstolo Paulo, antes de absolver a Simão, sujeitou-se a uma ausência temporária.
Por outro lado, é indispensável lembrar que a absolvição dos pecados no sacramento é um ato de misericórdia, e não uma compaixão irrefletida. Ele é dado para benefício espiritual do homem, "para edificação e não para a ruína" (2 Cor. 10:8). Isto deposita enorme responsabilidade sobre o padre que realiza o sacramento.
As Escrituras Sagradas mencionam as ocasiões ou condições quando os pecados não são perdoados. Na palavra de Deus é lembrada a blasfêmia contra o Espírito Santo, a qual não será perdoada nem neste século nem no século vindouro (Mat. 12:31-32). Também é mencionado o "pecado mortal," para o qual não é proibido rezar (I Jo. 5:16. O apóstolo Paulo instruiu que "àqueles que foram uma vez iluminados, saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo, experimentaram a doçura da palavra de Deus e as maravilhas do mundo vindouro, e apesar disso caíram na apostasia, é impossível que se renovem outra vez para a penitência visto que, da sua parte, crucificaram de novo o Filho de Deus e publicamente O escarneceram" (Heb. 6:4-6).
Em todos estes acontecimentos o motivo da impossibilidade do perdão dos pecados encontra-se nos próprios pecadores e não na vontade de Deus, precisamente no não arrependimento deles. Como pode ser perdoado o pecado contra a misericórdia do Espírito Santo, quando essa misericórdia é ridicularizada e desprezada? Mas é preciso crer que nestes pecados os pecadores serão perdoados caso apresentem arrependimento sincero. São João Crisóstomo diz o seguinte a respeito: "Pois mesmo este pecado (blasfêmia contra o Espírito Santo) foi perdoado a muitos arrependidos. Muitos daqueles que lançaram blasfêmias contra o Espírito Santo, em seguida tiveram fé; tudo lhes foi perdoado." (discurso do Evangelho de Mateus). E os Pais do Sétimo Concílio Ecumênico (esse concílio realizou-se no ano 787 na cidade de Nicéia perto de Constantinopla) falam a respeito da possibilidade do perdão dos pecados mortais: "O pecado é mortal quando algumas pessoas ao pecarem tornam-se incorrigíveis... Dentro destas pessoas não existirá o Senhor Jesus, caso elas não se humilhem e não se desliguem de seus pecados. É preciso que eles se aproximem de Deus com o coração entristecido, roguem o perdão do pecado e não se vangloriem de atividades desonestas." O Senhor está perto dos contritos de coração (Sal. 33).
O Evangelho ensina que todos devem ser levados ao arrependimento, — não apenas os que estão se preparando para o batismo, mas também os cristãos já batizados: "Haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência, do que por noventa e nove justos que não necessitarem de arrependimento" (Luc. 15:7). No Apocalipse de S. João o Teólogo lemos que: "Ao Anjo da igreja de Éfeso, escreve... breve virei a ti, e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas" (Apo. 2:1-5).
Alguns cristãos heterodoxos pensam, de maneira errada, que apenas a fé os faz serem puros, santos e sem pecados e que eles não necessitam do arrependimento e confissão. Em vista a esses "justos" presunçosos, o apóstolo Tiago escreve que: "nós todos pecamos" (Tiago 3:2). O apóstolo João ensina que é indispensável a cada pessoa purificar sua consciência: "Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está), fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade" (1 Joã. 1:9-10).
Os Santos Pais da Igreja explicavam que a ausência da atitude de penitência acontece não por falta de pecados, e sim pelo embrutecimento espiritual. Pois, quanto mais brilhar a luz, mais aparecem a poeira e diversos defeitos nos objetos, Desse modo, quanto mais a pessoa se aproxima de Deus, mais nitidamente ela vê seus pecados e falhas, mais humilde ela se torna. Realmente, louvados virtuosos com grande aflição e lágrimas nos olhos se arrependiam de seus pecados e se consideravam indignos.

No pré-revolucionário folheto de "Atos" existem as seguintes instruções para os que se preparam para a confissão: "Tendo a intenção de se confessar, antes de ir até o sacerdote, se isole, amado irmão meu, mesmo que seja apenas por uma hora, junte seus pensamentos e examine sua consciência com rigor: em que você pecou em pensamento, na palavra ou em atos? Em que você ofendeu a Deus e ao seu próximo? Arrependa-se e lave seus pecados com lágrimas, e, principalmente, — coloque o firme propósito de que daqui em diante não irá repeti-los. E quando você se preparar deste modo, vá ao sacerdote e saiba que irá receber o perdão do Senhor: se o seu coração está arrependido e submisso, Deus não irá rejeitá-lo! Quando se aproximar do sacerdote, confesse sem vergonha, não ocultado nada e sem restrições. Sem sentir vergonha, embora todos nós estejamos acostumados a sermos hipócritas diante dos outros e nos esforcemos para sermos os melhores; quem somos na realidade? Acostumados à hipocrisia diante dos outros, com freqüência também na confissão nos envergonhamos em abrir com sinceridade nossos pecados: alguns pecados deixamos de mencionar e outros não declaramos por completo. Lembre-se, meu irmão, de que o Próprio Espírito de Deus fala através dos lábios de Salomão: Quem oculta seu pecado não recebe nenhuma vantagem. — Sem reservas, o que acontece com freqüência, é que na confissão tendo consciência de qualquer pecado, nós imediatamente nos justificamos jogando a culpa nos outros. Se você está magoado com alguém se reconcilie com ele e o perdoe de todo coração, seguindo as palavras do Senhor: "Se vocês perdoarem os pecados dos outros, então vocês serão perdoados pelo Pai Celestial. Mas, se não perdoarem os pecados dos outros, então o Pai não perdoará os seus pecados."

Trago para Ti, misericordioso Senhor, a pesada carga dos meus inúmeros pecados, os quais cometi diante de Ti, desde a minha mais tenra idade até os dias de hoje.
Pecados mentais e sensoriais: Pequei diante de Ti, Senhor, com ingratidão pela Tua misericórdia no esquecimento dos Teus mandamentos e indiferença a Ti. Pequei pela pouca fé, dúvidas nas questões de fé. Pequei sendo supersticioso, indiferente com a verdade e me interessando por ensinamentos não ortodoxos, de outras religiões. Pequei com pensamentos indecentes e maus, desconfianças e receios. Pequei com o apego ao dinheiro e à luxúria, empolgações passionais e impetuosas, ciúmes e inveja. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pecados nas palavras: Pequei com conversas frívolas, gargalhadas desnecessárias e zombarias. Pequei conversando dentro da igreja, usando o nome de Deus em vão e criticando o próximo. Pequei com palavras rudes, com gritos e comentários sarcásticos. Pequei com a astúcia, zombaria e insultado o próximo. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pequei com brincadeiras indecorosas, relatos e conversas pecaminosas. Pequei com lamentos, murmúrios rompendo aquilo que prometi e pequei mentindo. Pequei utilizando palavras grosseiras, insultando o próximo e com maldições. Pequei espalhando boatos, calúnias e denúncias.
Pecados pelos atos: Pequei com a preguiça, perda inútil de tempo e não freqüentando a Liturgia. Pequei chegando atrasado na Liturgia com freqüência, rezando com negligência e desatentamente e ausência de calor espiritual. Pequei desdenhando as necessidades de minha família, menosprezando a educação de minhas crianças e não cumprindo minhas obrigações. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pequei pela gula, me empanturrando com comida e não observando o jejum. Pequei fumando, abusando do álcool, usando estimulantes. Pequei pela preocupação exagerada com minha aparência, vendo filmes e fotos indecentes. Pequei ouvindo música turbulenta, ouvindo conversas pecaminosas e contos indecentes. Pequei pela tentação da carne, pelos maus pensamentos, com a visão, ouvindo, olfato, paladar, tato e todos os demais sentidos. (Aqui torna-se necessário se arrepender pelos pecados que temos vergonha de confessar). Pequei cometendo aborto ou participação dele. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pequei pelo apego ao dinheiro, atração por jogos de azar e pelo desejo de enriquecer. Pequei pela paixão por minha carreira e por sucesso, avareza e desperdício. Pequei por negar a ajudar ao necessitado, voracidade e mesquinhez. Pequei pela crueldade, insensibilidade, aspereza e ausência de amor. Pequei pelo engano, furto e corrupção. Pequei freqüentando cartomantes, evocando maus espíritos e executando atos supersticiosos. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pequei pelos acessos de cólera, raiva, ódio e maneiras grosseiras com o próximo. Pequei pela intransigência, vingança, descaramento e insolência. Pequei — fui manhoso, extravagante e exigente. Pequei com a insubordinação, teimosia e hipocrisia. Pequei pela maneira negligente com objetos sagrados, sacrilégio e blasfêmia. Perdoa-me e tem piedade, Senhor.
Pequei ainda com palavras, em pensamentos, no comportamento e com todos meus sentimentos, algumas vezes involuntariamente, mas quase sempre consciente, pela minha teimosia e costume pecador. Perdoa-me e tem piedade, Senhor. Me lembro de alguns pecados, porém, devido à minha desatenção e pouco caso, me esqueço totalmente da maioria deles. Irei sofrer muito caso venha a me apresentar com eles no Terrível julgamento de Deus.
Agora eu me arrependo sinceramente e com lágrimas nos olhos por todos meus pecados conscientes e inconscientes. Venho a Ti, misericordioso Senhor Jesus, meu Salvador e Pastor, e rogo a Tí que me perdoe, igual ao bandido que foi crucificado ao Teu lado. Peço a Ti, Senhor, que me purifique e concede que eu comungue Teu santíssimo Sacramento sem condenação, para a renovação de minha alma. Ainda peço a Ti que me ajude a odiar todo mal e todo pecado, deixar de pecar e nos dias que me restam de vida reforça em mim a forte vontade de viver como um bom cristão — para o bem, a verdade e na glória do Teu santo nome. Amém.
Salmo 50 — Tem piedade de mim, Senhor, segundo a Tua vontade, e conforme a imensidade de Tua misericórdia, apaga a minha iniquidade. Lava-me totalmente de minha falta, e purifica-me de meu pecado. Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado. Só contra Ti pequei. O que é mau fiz diante de Ti, Tua sentença assim se manifesta justa, e reto é o Teu julgamento. Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado. Não obstante, amas a sinceridade de coração; infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim. Asperge-me com um ramo de hissope e ficarei puro; lava-me e me tornarei mais branco do que a neve. Faz-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que trituraste. Dos meus pecados desvia os olhos, e minhas culpas todas apaga. Ó meu Deus, cria em mim um coração puro, e renova-me o espírito de firmeza. De Tua face não me rejeite e nem me prive de Teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da salvação, e sustenta-me com uma vontade generosa. Então, aos maus ensinarei Teus caminhos e voltarão a Ti os pecadores. Deus, ó Deus, meu Salvador, livra-me da pena desse sangue derramado; e a Tua misericórdia a minha língua exaltará. Senhor, abre meus lábios, a fim de que minha boca anuncie Teus louvores. Tu não Te aplacas com sacrifícios rituais; e se eu Te ofertasse um sacrifício, não o aceitarias. Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito; um coração arrependido e humilhado, ó Deus, não havei de desprezar. Senhor, pela Tua bondade, trata Sião com benevolência, reconstrói os muros de Jerusalém. Então, aceitarás os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; então, sobre Teu altar vítimas Te serão oferecidas.

O ideal é se confessar na véspera do dia da comunhão — antes ou durante a Vigília. Pode-se confessar também no dia da comunhão. Mas neste caso, é preciso chegar na Igreja antes do início da liturgia, pois o sacerdote, não deve sair do altar quando a liturgia já começou. Aqueles que porventura cheguem atrasados para a confissão, devem entender que a confissão durante a liturgia prolonga a missa e faz todos os fiéis esperar; o sacerdote vê-se na obrigação de se apressar. Ë pouco provável que esse tipo de confissão acelerada possa responder ao significado deste sumo sacramento e se tornar um simples rito.
Durante o sacramento da confissão, após as orações iniciais, é lido o 50o salmo e depois os seguintes troparions:
Troparions:
Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade! Não encontrando nenhuma defesa nós, pecadores, trazemos a Ti, Mestre, esta prece: tem piedade.
Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo. Senhor! Tem piedade de nós que temos esperança em Ti. Não Te enfureças excessivamente contra nós e não lembre de nossas transgressões, mas inclina sobre nós o Teu olhar misericordioso e nos protege contra nossos inimigos: pois Tu és nosso Deus, e nós somos o Teu povo, tudo é criação de Tuas mãos; nós clamamos o Teu nome.
Agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Abre para nós, ó abençoada Virgem Maria, a porta para a misericórdia de Deus, para que nós, que temos esperança em Ti, não venhamos a perecer, mas fiquemos livres do mal através de Ti, pois Tu és a salvação de todos os cristãos.
Senhor tem piedade, Senhor tem piedade, Senhor tem piedade.

O Sacerdote lê as seguintes orações:
Senhor, nosso Salvador, Quem através do profeta Natanael concedeste o perdão ao arrependido Daví por suas transgressões, e aceitaste a oração de penitência! Ó Tu, em Teu amor à humanidade, recebe também Teu servo (Tua serva), que se arrepende dos pecados que cometeu, perdoando tudo que ele (ela) tenha feito, perdoando suas ofensas e mentiras e desprezando as transgressões. Pois Tu disseste, ó Senhor: Não desejo a morte do pecador, e sim que ele volte e viva; e que os pecadores devem ser perdoados setenta vezes sete vezes. Pois Tua majestade é infinita e Tua misericórdia ilimitada. E se fores perceber as transgressões quem se manterá? Tu és o Deus dos arrependidos, e a Ti glorificamos, Pai e Filho e Espírito Santo, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.
Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, Pastor e Cordeiro, que tomaste o pecado do mundo, perdoaste a dívida de dois devedores e perdoaste os pecados da pecadora. Tu, Senhor, enfraquece, liberta, perdoa todo o mal cometido, transgressões, pecados voluntários e involuntários, conscientes e inconscientes, cometidos pela desobediência por estes Teus servos. E aquilo que eles cometeram, como sobrecarga da carne mortal, que vivem no mundo e são seduzidos pelo diabo, pela palavra ou ação, de maneira visível ou invisível, ou tenham violado a palavra do sacerdote, ou encontram-se sob juramento sacerdotal, ou tenham violado aquilo que prometeram ou tenham se amaldiçoado: Tu, piedoso e bondoso, Pai, com Tua palavra absolve esses Teus servos, perdoando-os com Tua imensa misericórdia. Pai de misericórdia, Que ama a humanidade, ouve a nós que rogamos Tua graça por Teus servos, e perdoa, com Tua compaixão, todos seus pecados, livrando-os dos eternos tormentos. Pois Tu disseste: Aquilo que amarrareis na terra, será amarrado nos céus, e aquilo que permitireis na terra, será permitido no céu. Pois Tu és o único sem pecado, e Te glorificamos, Pai e Filho, e Espírito Santo, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.
E o Sacerdote lembra ao penitente:
Eis que, Cristo está aqui presente, recebendo tua confissão; não fique envergonhado, não tenha medo e não esconda nada de mim; fale sem titubear tudo aquilo que tenha feito, e receberá o perdão do nosso Senhor Jesus Cristo. Eis aqui a imagem Dele diante de nós; apenas eu — sou testemunha, para testemunhar diante Dele sobre tudo que você me disse. Se você ocultar algo de mim, será um duplo pecado. Por isso, fique atento, para que chegando até o médico, não saia sem estar curado.
O penitente fica diante do suporte faz o sinal da Cruz, beija a Cruz e o Evangelho e em atitude de arrependimento confessa seus pecados diante do sacerdote. O sacerdote dá conselhos necessários, às vezes o instrui para certas coisas afim de ajudá-lo a evitar maus hábitos ou aplica alguma penitência correspondente (veja exemplo abaixo). O penitente se ajoelha e o sacerdote, passa a ler a seguinte oração:
Ö Senhor Deus, salvador dos Teus servos, misericordioso, compassivo e resignado, Quem lamenta nossos maus procedimentos, Quem não deseja a morte do pecador e sim que ele volte e viva. Tem piedade, neste momento, do Teu servo (serva) e envia-lhe o sentimento de arrependimento, perdoando e libertando-o dos pecados voluntários e involuntários. Recebe-o e o ajunta à Tua Igreja, através do Jesus Cristo, nosso Senhor, à Tua semelhança no poder e magnitude.
Senhor e Deus nossos Jesus Cristo, pela Tua graça e compaixão pela humanidade, lhe perdoará, meu filho (ou filha), todos seus pecados, e eu, indigno sacerdote, através do poder dado a mim por Ele, o perdôo e absolvo de todos seus pecados, em nome do Pai e Filho e Espírito Santo, Amém.
Após esta oração de absolvição, o penitente se ergue, beija a Cruz e o Evangelho e , recebendo a benção do Sacerdote, afasta-se, agradecendo a Deus.

"Epitimias" ou penitências são obediências (2 Cor. 2:6), as quais, pelos regulamentos da igreja, o sacerdote, na condição de médico espiritual, estipula a alguns dos cristãos penitentes, para curar seus males morais. Assim sendo, por exemplo, ele deverá impor um jejum mais rigoroso do que aquele que todos observam normalmente, orações adicionais de arrependimento acompanhados de metanóias, trabalhos caridosos, leitura da Sagrada Escritura e outros exercícios virtuosos.
A penitência não possui caráter de punição. Ela representa uma ação de correção, cura medicinal, pedagógica. O objetivo dessa penitência é — aprofundar a contrição dos pecados cometidos e manter a decisão do desejo de se corrigir. O apóstolo Paulo diz: "De fato, a tristeza segundo Deus produz um arrependimento salutar de que ninguém se arrepende, enquanto a tristeza do mundo produz a morte" (2 Cor. 7:10). O princípio do sexto Concílio ecumênico anuncia: "Recebendo de Deus o poder de tomar e resolver, o sacerdote deve avaliar a natureza do pecado e a disposição do penitente e desta maneira utilizar meios apropriados de conciliação. Porém se o mal do pecado não for igual, mas multiforme e diferente, produzindo diversos aspectos de danos, dos quais o mal se desenvolve em abundância e se propaga cada vez mais, então a salvação não será útil para o pecador."
Na Igreja antiga a confissão acontecia de uma maneira um pouco diferente da prática contemporânea russa. Naquela época os cristãos comungavam todos os domingos, ou em todo caso, freqüentemente a confissão não era obrigatória. Eles chegavam para a confissão de acordo com a necessidade, às vezes, no caso de pecados sérios, particularmente se esses pecados servissem como tentação para outros cristãos. A confissão dos pecados era feita em voz alta, na presença do sacerdote e a congregação presente. Na igreja ortodoxa grega a confissão não é feita antes de cada comunhão e é separada da liturgia. A confissão acontece na hora estipulada pelo sacerdote, e em local específico para este ato: "o confessionário." Próximo dos tempos atuais, São João de Kronstadt, não tendo possibilidade de confessar individualmente a todos, freqüentemente fazia confissão comunitária, da qual participavam alguns milhares de pessoas. Durante o sacramento muitos confessavam seus pecados em voz alta e se arrependiam diante de toda a congregação. Essa confissões comunitárias aconteciam em meio a grande animação espiritual e deixavam um efeito indelével naqueles que tomavam parte delas.
Seja lá em que condições acontecia a confissão, é indispensável lembrar que ela é um grande sacramento e requer a nossa mais séria e reverente atitude. Seu objetivo — é realizar a cura abençoada da alma. Por esta razão, confessar com pressa pouco antes da apresentação do Cálice, não é atitude correta para este sacramento. É imperativo chegar para a confissão com antecedência e devemos nos arrepender com o coração e fé no poder da graça curativa de Deus.

Assim, no sacramento da confissão o Senhor nos deu meios poderosos para lutar com o pecado. Preparando-nos para a confissão, nós aprendemos a observar com mais atenção nossa vida interior, entender melhor nossas fraquezas e as astúcias de nosso tentador — o demônio. A confissão sincera diante do sacerdote nos auxilia a vencer nosso orgulho e com isto partir os fios das paixões, com os quais o diabo nos embaraçou.
Após o arrependimento sincero e a purificação no sacramento da confissão, é como se uma pedra pesada caísse de cima de nosso coração, e nós nos sentimos renovados e iluminados. Novamente são acordados dentro de nós bons sentimentos, o desejo de amar a Deus e ao próximo. Em poucas palavras, tendo nos arrependido na confissão, nós estaremos profundamente convictos de quanto o Senhor é misericordioso e de como é eficaz Sua graça. Vamos então valorizar este grande meio de cura espiritual e pedir que o Senhor nos faça compreender que daqui em diante devemos viver na virtuosidade, para que todos nossos pensamentos, palavras e ações sejam direcionados para a graça do Santo nome Dele!

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