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Ressuscitei e sempre estou contigo



O tempo da Páscoa, explosão de alegria, se estende desde a vigília Pascal até o domingo de Pentecostes. Nesses cinquenta dias a Igreja nos envolve em sua alegria pela vitória do Senhor sobre a morte. Cristo vive, e vem ao nosso encontro.
“Vinde, benditos de meu Pai: tomai posse do reino preparado para vós desde o princípio do mundo, aleluia”. O tempo pascal é uma antecipação da felicidade que Jesus Cristo ganhou para nós com a sua vitória sobre a morte. O Senhor “foi entregue por nossos pecados” e ressuscitou “para nossa justificação”: para que, permanecendo n’Ele, nossa alegria seja completa.
No conjunto do Ano litúrgico, o tempo pascal é o “tempo forte” por antonomásia, porque a mensagem cristã é anúncio alegre que surge com força da salvação realizada pelo Senhor em sua “páscoa”, sua passagem da morte à vida nova. “O tempo pascal é tempo de alegria, de uma alegria que não se restringe a esta época do ano litúrgico, mas que habita sempre no coração do cristão. Porque Cristo vive. Não é Cristo uma figura que passou, que existiu num tempo e que se retirou, deixando-nos uma lembrança e um exemplo maravilhosos”.
Como pregava o Papa São Leão Magno, “todas as coisas relativas a nosso Redentor que antes eram visíveis, agora passaram a ser ritos sacramentais”. É expressivo o costume dos cristãos do Oriente que, conscientes dessa realidade, desde a manhã do domingo da Ressurreição se cumprimentam reciprocamente: “Christos anestē”, Cristo ressuscitou; “alethōs anestē”, verdadeiramente ressuscitou.
A liturgia latina, que na noite santa do sábado transbordava de alegria no Exultet, no domingo de Páscoa condensa esta alegria no belo intróito Resurrexi: “Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável”. Pomos nos lábios do Senhor, delicadamente, em clima de calorosa oração filial ao Pai, a experiência inefável da ressurreição, vivida por Ele nas primeiras horas do domingo. Assim nos animava São Josemaria, na sua pregação, a aproximarmo-nos de Cristo, com a consciência de que vivemos no Seu tempo: “Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos dessa vida atual de Cristo – Iesus Christus heri et hodie, ipse et in saecula, Jesus Cristo ontem e hoje, o mesmo pelos séculos – por nela se achar o fundamento de toda a vida cristã”. O Senhor quer que O tratemos e falemos d’Ele, não no passado, como se faz com uma lembrança, mas percebendo o seu “hoje”, a sua atualidade, a sua companhia viva.

Os cinquenta dias pascais
Muito antes de que existisse a Quaresma e outros tempos litúrgicos, a comunidade cristã já celebrava esses cinquenta dias de alegria. Quem não expressasse seu júbilo durante esses dias era considerado como alguém que não tinha captado o núcleo da fé, porque “com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”. Essa festa, tão prolongada, nos indica até que ponto “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós”. Nesse tempo, a Igreja vive já a alegria que Senhor lhe revela: algo que “olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu”.
Os escritores do Oriente e do Ocidente cristãos contemplaram o conjunto do Tempo Pascal como um único e extenso dia de festa. Por isso, os domingos desse tempo não se chamam segundo, terceiro, quarto… depois da Páscoa, mas, simplesmente, domingos da Páscoa. Todo o tempo pascal é como um só grande domingo; o domingo que fez com que todos os domingos fossem domingos. Do mesmo modo se considera o domingo de Pentecostes, que não é uma nova festa, mas o dia conclusivo da grande festa da Páscoa.
Quando a Quaresma chegava, alguns hinos da tradição litúrgica da Igreja recitavam o aleluia com um tom de despedida. Pelo contrário, a liturgia pascal se entretém neste canto, porque o aleluia é a antecipação docântico novo que os batizados entoarão no céu, que já agora se sabem ressuscitados com Cristo. Por isso, durante o tempo pascal, tanto o estribilho do salmo responsorial como o final das antífonas da Missa repetem frequentemente essa aclamação, que une o imperativo do verbo hebreu hallal – louvar – e Yahveh, o nome de Deus.
“Feliz aquele aleluia que entoaremos ali! – diz Santo Agostinho em uma homilia – Será um aleluia seguro e sem temor, porque ali não haverá nenhum inimigo, não se perderá nenhum amigo. Lá, como aqui, ressoarão os louvores divinos, mas os daqui procedem dos que ainda estão em dificuldades, enquanto os de lá são dos que já estão em segurança. Aqui, dos que hão de morrer. Lá, dos que hão de viver para sempre. Aqui, dos que esperam. Lá, dos que já possuem. Aqui, dos que ainda estão no caminho. Lá, dos que já chegaram à pátria”. São Jerônimo conta que durante os primeiros séculos na Palestina, esse grito era tão habitual que aqueles que aravam os campos diziam de vez em quando: aleluia! E os que remavam nas barcas para transportar os viajantes de uma margem a outra de um rio, quando se cruzavam, exclamavam: aleluia! “Nestas semanas do tempo pascal, a Igreja é embargada por um júbilo profundo e sereno, que nosso Senhor quis deixar como herança para todos os cristãos (...). Um contentamento cheio de conteúdo sobrenatural que nada nem ninguém poderá tirarnos, se nós não o permitirmos”.

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