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Ascensão e Pentecostes



Com a sua Ascensão, o Senhor ressuscitado atrai o olhar dos Apóstolos – e também o nosso – às alturas do Céu para nos mostrar que a meta do nosso caminho é o Pai. Começa o tempo de uma presença nova do Senhor: parece que está mais escondido, mas de certo modo está mais perto de nós: começa o tempo da liturgia, que é toda uma grande oração ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo, uma oração em caudal manso e largo.
Jesus desaparece da vista dos apóstolos, que talvez fiquem silenciosos no princípio. “Não sabemos se perceberam naquele momento o fato de que precisamente diante deles se estava abrindo um horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena do homem. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes, iluminados pelo Espírito Santo”. ( Bento XVI, Homilia, 28-V-2006).
“Deus eterno e todo-poderoso, que quisestes incluir o sacramento da Páscoa no mistério dos cinquenta dias...”. A Igreja nos ensina a reconhecer nessa cifra a linguagem expressiva da revelação. O número cinquenta tinha duas cadências importantes na vida religiosa de Israel: a festa de Pentecostes, sete semanas após se começar a ceifar o trigo, e a festa do jubileu que declarava santo o quinquagésimo ano: um ano dedicado a Deus no qual cada um recuperava sua propriedade, e podia regressar à sua família. No tempo, da Igreja, o “sacramento da Páscoa” inclui os cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor, até a vinda do Espírito Santo no Pentecostes. Se, com a linguagem da liturgia, a Quaresma significa a conversão a Deus com toda a nossa alma, com toda a nossa mente, com todo o nosso coração, a Páscoa significa nossa vida nova de “corressuscitados” com Cristo. “Igitur, si consurrexistis Christo, quæ sursum sunt quærite: Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus”.

Ao final desses cinquenta dias, chegamos ao cume dos bens e à metrópole de todas as festas, pois, inseparável da Páscoa, é como a Mãe de todas as festas. Somai todas as vossas festas – dizia Tertuliano aos pagãos de seu tempo – e não chegareis aos cinquenta dias de Pentecostes. Pentecostes é, pois, um domingo conclusivo, de plenitude. Nessa Solenidade, vivemos com admiração como Deus, por meio do dom da liturgia, atualiza a doação do Espírito que se realizou no amanhecer da Igreja nascente.
Se na Ascensão Jesus subiu aos céus para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade, agora, no dia de Pentecostes, o Senhor, sentado à direita do Pai, comunica sua vida divina à Igreja mediante a infusão do Paráclito, fruto da cruz. São Josemaria vivia e nos animava a viver com este sentido de presente perene: “Ajuda-me a pedir um novo Pentecostes, que abrase outra vez a terra.
Compreende-se também por isso que São Josemaria quisesse começar alguns meios de formação da Obra rezando uma oração tradicional da Igreja que se encontra, por exemplo, na Missa votiva do Espírito Santo: “Deus, qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti, da nobis in eodem Spiritu recta sapere, et de eius semper consolatione gaudere”. Com palavras da liturgia, imploramos a Deus Pai que o Espírito Santo nos faça capazes de apreciar, de saborear, o sentido das coisas de Deus e pedimos também que disfrutemos do consolo alentador do Grande Desconhecido. Porque “o mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos, dos dons do Espírito Santo, como elenca São Paulo: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gal 5, 22). O dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz.

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