Muitas vezes tive que ouvir ou ler interpretações estranhas deste apelo que o Apóstolo Paulo faz à comunidade cristã que vivia em Colossos. Dizem que havia problemas e divisões tão graves dentro da comunidade, que Paulo já nem pode dizer-lhes “Amai-vos uns aos outros!”, mas se fica pelo apelo a que todos se aturem o melhor possível.
“Suportai-vos uns aos outros” não significa “Aturai-vos!”, mas antes “Sede o suporte uns dos outros!” É um apelo à comunhão mais profunda, à solidariedade mais consequente, à presença mais fraterna!
As comunidades de discípulos de Jesus devem nascer da escuta do Evangelho proclamado como um grito pascal que abre as pessoas à Esperança, ao desejo de uma Alegria maior e de uma Liberdade duradoura...
As comunidades de discípulos de Jesus devem nascer da escuta do Evangelho proclamado como um grito pascal que abre as pessoas à Esperança, ao desejo de uma Alegria maior e de uma Liberdade duradoura...
No centro destas comunidades deve estar a experiência de Deus descoberto progressivamente no encontro com o Jesus dos evangelhos, no encontro com os irmãos, no discernimento dos acontecimentos quotidianos e na celebração da Vida.
Deve tornar-se um espaço de partilha e confidência, suficientemente aberto para que todos se sintam acolhidos e queridos, mas suficientemente íntimo para que todos saibam que o que se partilha no âmbito da comunidade não sai dela.
Na medida em que cada um se disponibiliza à ação do Espírito Santo no seu interior, as riquezas pessoais vão convergindo para o centro da comunhão, o que cria também novas possibilidades de enriquecimento para todos. Os dons pessoais são postos ao serviço e tornam-se carismas.
As relações começam a acontecer numa densidade nova, que ao princípio toda a gente sente que é “diferente” mas ninguém sabe ainda muito bem definir… É a progressiva emergência da Família nos laços do Espírito, uma dinâmica própria da marcha do Reino de Deus entre nós.
Entretanto, o Evangelho de Jesus é anunciado e acolhido verdadeiramente como tal, isto é, como Boa Notícia! Os encontros comunitários tornam-se uma fonte de “oxigênio espiritual” e o sentido de pertença de cada um aos outros vai gerando um “espírito de corpo”. Não há importantes e indiferentes, não há irmãos de primeira nem de segunda. Há temperamentos diferentes e jeitos relacionais próprios, mas todos se reconhecem e amam como iguais.
Então, todos começam a perceber que é fundamental os irmãos suportarem-se uns aos outros. Que cada um seja para outros um suporte, um apoio, um esteio. É isso que significa “Suportai-vos uns aos outros!”
Que ninguém no seio da comunidade se sinta tão só que acabe por cair! Que ninguém fique sem o suporte fraterno que lhe permite manter-se firme na procura da Verdade que liberta e constrói o Reino.
“Suportai-vos uns aos outros!” significa: “Que ninguém se sinta abandonado entre vós, que ninguém se sinta desapoiado, que ninguém caia na prostração, no medo ou na tristeza por não ter tido suporte, por não ter encontrado quem se disponibiliza a suportá-lo”.
Quem me dera que existissem mais comunidades onde os irmãos se suportassem uns aos outros, ou seja, em que os contextos comunitários fossem acolhedores e fraternos, em vez de serem frios e moralistas. Quem me dera que ninguém tivesse de “aturar” ninguém, mas antes houvesse muitas possibilidades para aprender as artes do amor comunitário inspirado pelo Espírito de Deus.
Olha, hoje sinto que somos mais do que ontem a acreditar que só em contextos comunitários simples e profundos se pode fazer uma caminhada de aprofundamento e descoberta da Verdade libertadora do Amor de Deus por nós.
Sim, somos mais hoje, garanto-te… Se soubermos suportar-nos uns aos outros, não como quem se atura, mas como quem se ama e compadece... Saibamos fazê-lo, porque agora somos mais!
E Deus ainda há pouquinho me segredou que isto está apenas a começar. E bem de mansinho, por sinal... Xiu...
Pe. Rui Santiago