Texto de Sam Gusman – 'The Catholic Gentleman'
Tradução – Felipe Marques
UMA DAS MAIS PERNICIOSAS mentiras do mundo moderno é a de que a vida seria fácil e confortável. Há até um senso no qual os modernos acreditam que estão intitulados a esse conforto e facilidade – que isso seria alguma espécie de direito humano fundamental.
Muitos de nós temos absorvido essa coisa sutil, mesmo que não o percebamos. Quando um problema vem até nós, quando a vida é inconveniente ou difícil, ficamos quase com raiva dessa "injustiça". É como se isso fosse algum tipo de "crime cósmico" que viola a vida fácil que acreditamos que deveríamos ter. Reclamamos e culpamos Deus por ter perturbado os nossos sonhos.
O simples fato é que a vida não é sempre justa. As coisas não são sempre fáceis, nem sequer pretendiam ser fáceis. Isso não significa que alguém em particular, muito menos Deus, seja culpado. As vezes as coisas somente são como são. E aceitar esse fato é o primeiro passo para a liberdade real.
Entre uma geração mais velha e mais resistente, havia um ditado que podia ser ouvido frequentemente: "A vida é difícil e então você morre". Ao primeiro relance, esse ditado soa brutal e pessimista, como se a vida fosse uma longa e miserável caminhada de trabalho duro coroada com a escuridão do vazio. Visto com uma outra luz, porém, esse dito bate em uma verdade mais profunda: somente quando você aceitar a vida como ela é, poderá realmente vivê-la com alegria.
As pessoas que viveram antes do advento da modernidade mecanizada eram realistas. Longe de antecipar uma vida com o conforto do ar condicionado, já esperavam que a vida fosse dura, até dolorosa. Ganhar a vida iria inquestionavelmente envolver trabalho, suor e sacrifício. Haveria tristeza ao longo do caminho. Longe de os deprimir, essa expectativa os libertava para que aproveitassem o lazer e os pequenos prazeres, que desfrutavam mais completamente. Quando você espera que as coisas sejam difíceis, você aproveita mais a sua facilidade.
O alvo da moderna e secular sociedade tem sido, em vários aspectos, uma longa jornada para erradicar o sofrimento. Para um mundo sem Deus e sem sentido objetivo, o sofrimento não pode ser algo além do maior mal existente. Aqueles de nós que cresceram nesse mundo secularizado têm sido criados para acreditar que temos direito a uma vida livre de sofrimentos e com prazeres maximizados. E se nós ultimamente não podemos escapar do sofrimento, devido à doença ou outras causas, seremos capazes de chegar ao ponto de tirar a própria vida para evitá-lo.
Ainda, paradoxalmente, é justamente a expectativa de que a vida seria livre de dor que nos causa o maior sofrimento. A dor na vida é verdadeiramente inevitável. A dor irá nos visitar de uma forma (e em algum grau) ou de outra. Nas palavras da antiga "Salve Regina", nós vivemos em um "vale de lágrimas". As provações e os desafios são inerentes em um mundo decaído e desordenado. Quanto mais nós resistirmos internamente a esse fato imutável, mais ansiedade, raiva e amargura o sofrimento que encontrarmos nos causará.
Na vida, a alegria que experimentamos está diretamente relacionada ao nosso estado de espírito. "Feliz é aquele que não espera nada," disse G. K. Chesterton, "porque ele desfrutará tudo". Se nós esperarmos facilidades, conforto e prazer sem fim, as dificuldades serão um choque rude e repugnante. Mas se nós esperamos que a vida inclua dor e sofrimento, não nos surpreenderemos quando vierem. Preferiremos suportá-los com paciência, implorando a misericórdia de Deus, para perseverarmos. Vamos também receber os dons da alegria e do prazer que experimentarmos com toda a maravilhosa humildade que vem com uma inesperada e imerecida surpresa, dizendo com os corações cheios: Benedicamos Domino! Bendigamos ao Senhor!
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Fonte:
http://catholicgentleman.net/2017/03/lifes-not-fair-finding-joy-by-accepting-things-as-they-are/