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Origem do mal (enquanto prática e vício) por John Henry Newman


Ó meus irmãos, não confessais que quando vossa mente começou a se abrir1, na proporção em que foi aberta, por essa mesma abertura se tornou rebelde contra o que reconhecia como dever? Na verdade, o vosso intelecto não estava já em conluio com a desobediência? Em vez de unir conhecimento e Religião, como poderias ter feito, não colocastes um contra o outro?

Por exemplo, não foi um dos primeiros exercícios voluntários de vossa mente saciar uma curiosidade condenável? Curiosidade a qual confessastes estar errada, que estava contra a vossa consciência satisfazê-la. Desejáveis conhecer uma série de coisas que não trariam bem algum conhecer. É assim que os meninos começam; assim que sua mente começa a se agitar, eles olham na direção errada, e dedicam-se ao que é mau. Esse é o seu primeiro passo no erro; o próximo uso de seu intelecto é colocar o que é mau em palavras: esse é o seu segundo passo no erro. Eles formam imagens e acolhem pensamentos que deveriam ser afastados, de si e dos outros, expressando-os. E então, o mau desvio que fazem, os outros pagam na mesma moeda. Um discurso errado provoca outro; e assim cresce entre eles, desde a infância, aquele miserável tom de conversa insinuando e sugerindo o mal, brincando, gracejando a respeito do pecado, fornecendo combustível para a imaginação inflamável e que dura por toda a vida, que está onde o mundo está, que é a própria 'fragrância' do mundo. Disto o mundo não pode prescindir, pois o mundo 'fala do que lhe transborda do coração' (Mt 12,34) e isto vai prevalecer em toda assembleia ordinária dos homens tão logo sintam-se à vontade e comecem a falar livremente – é uma espécie de culto vocal do Maligno, a que o Maligno escuta com especial satisfação, porque ele o considera a preparação para o pior pecado; pois maus pensamentos e más palavras precedem más ações.

John Henry Cardeal Newman ('Intellect, the
Instrument of Religious Training', em 'Sermons
Preached on Various Occasions'
), sermão pregado
na igreja da Universidade de Dublin, no ano 1856

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1. Isto é, a fase – seja qual for, aqui as teorias pedagógicas não vêm ao caso – em que o ser humano começa a experimentar cognitivamente a noção de si mesmo e das suas relações com o outro e com o mundo que o cerca, resultando nos primeiros estabelecimentos da noção do certo e do errado. (N. do T.)

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