Céticos continuam anunciando o 'fim próximo da Igreja' – sem perceber que os números dobraram desde 1970... e continuam aumentando
EM MUITAS PARTES do mundo –, já não é de hoje –, parece cada vez mais difícil para o católico sentir-se otimista sobre o futuro da Igreja. Há alguns anos, a Sociedade Americana de Física ouviu uma notícia alarmante que previa quais populações do mundo se tornariam oficialmente sem religião até o ano 2100, e no topo da lista estavam antigos bastiões da fé católica, como a Áustria e a Irlanda. Sim, a Irlanda!
Por décadas temos assistido, perplexos, a tantas histórias escabrosas e terríveis escândalos envolvendo os filhos da Igreja –, e por tanto tempo viemos sendo submetidos a tantos maus tratos por tantos dos nossos próprios pastores –, que podemos, sim, sofrer a tentação de duvidar do futuro. Por quanto tempo poderá a Barca de Pedro continuar navegando, incólume, em meio a tantas, tão grandes e tão traiçoeiras ondas? Poderemos realmente continuar sobrevivendo neste ritmo e neste cenário hostil?
Diante de tal realidade é muito estranho perceber, logo em seguida, que esta mesma Igreja – que é, de longe, a maior instituição religiosa do nosso planeta, e a mais durável – na mais pura realidade dos fatos, desfruta de um enorme crescimento global; mais do que isso, cresce numa escala sem precedentes. Para que se tenha uma ideia, em 1950, a população católica do mundo era de 437 milhões, número que cresceu para 650 milhões em 1970 e avançou para cerca de 1,2 bilhões atuais[1]. Dito de outra forma, os números católicos duplicaram desde 1970, e a mudança ocorreu exatamente durante as grandes controvérsias e penosas crises recentes no seio da Igreja, após os debates seguintes ao Vaticano II e toda a ascensão do marxismo cultural e do secularismo no mundo.
Essa taxa de crescimento não mostra sinal de diminuir, pelo contrário. Para 2050, uma estimativa conservadora sugere que deverá haver um mínimo de 1,6 bilhão de católicos no mundo. Falamos sobre crescimento global, e este elemento "global" exige ênfase. A verdade é que a Igreja, em muitos sentidos, inventou a globalização, e isso ajuda muito a explicar o porquê de seus números estarem crescendo tanto. Ao longo da História houve muitas potências chamadas "impérios mundiais", mas que na realidade foram confinadas a regiões específicas, principalmente à Eurásia. Somente a partir do século 16 é que os impérios espanhol e português verdadeiramente passaram a se expandir a ponto de abranger grandes partes do globo terrestre. A verdadeira globalização, porém, começou em 1578, quando a Igreja Católica estabeleceu sua diocese em Manila, nas Filipinas – como sufragânea Sé da Cidade do México, do outro lado do imenso Oceano Pacífico.
Os referidos impérios, uma vez poderosos, há muito se extinguiram, e apenas a sua herança religiosa permanece nas populações católicas prósperas do Brasil, do México e das Filipinas, que hoje constituem os três maiores centros populacionais da Igreja. A população total do México cresceu de 50 milhões, em 1970, para 121 milhões atuais; logo, é claro que existem muitos mais católicos no país, hoje, do que eu qualquer outro momento. As Filipinas, por sua vez, hoje reivindicam 80 milhões de católicos, número que deverá aumentar para mais de 100 milhões em 2050. No ano passado, houve mais batismos católicos nesse país do que na França, Espanha, Itália e Polônia juntos.
Os céticos certamente argumentarão que o crescimento da Igreja é apenas reflexo e resultado secundário do crescimento das populações. Certamente a demografia desempenha o seu papel neste cenário; sozinha, porém, de maneira nenhuma explica o incrível avanço dos números. A prova mais clara disso é encontrada na África. Em 1900, a África tinha algo em torno de 10 milhões de cristãos de todas as denominações, o que constituía cerca de 10 por cento de sua população. Hoje, há meio bilhão de cristãos africanos, que representam metade da população continental, e esse número deve ser superior a um bilhão até a década de 2040(!). Este crescimento fenomenal – que é, aliás, de longe a maior mudança quantitativa que já ocorreu em qualquer religião, em qualquer lugar, na História do mundo – em parte se deve ao resultado do crescimento geral da população do continente (em 1900 havia três europeus para cada africano; em 2050 essa proporção deverá se inverter, e haverá três africanos para cada europeu), mas essa expansão é também, claramente, o resultado de conversões em massa. Durante o século 20, cerca de 40 por cento das pessoas da África mudou, da sua submissão assustada às velhas crenças primitivas, para o cristianismo.
Embora, no caso africano, estejamos falando do total das populações que confessam o Nome de Jesus Cristo, os católicos representam parte bastante significativa destes números impressionantes. Em 1900, toda a África tinha apenas 2 milhões de católicos, mas esse número cresceu para 130 milhões até o final do século, e hoje se aproxima dos 200 milhões(!). Se as tendências atuais continuarem, como mostram todos os sinais, para a década de 2040 haverá cerca de 460 milhões de católicos africanos. Incrivelmente, esse número seria maior do que a população total mundial de católicos em 1950.
Precisamos dizer, entretanto, que existem problemas com os números que estamos apresentando. Citamos números oficiais da Igreja, mas essas contagens são realmente falhas. Se olharmos para os dados do Survey Evidence of Religious Belief, encontraremos uma grande disparidade entre o número das estimativas mostradas e os totais relatados pelas autoridades da Igreja. Os sacerdotes locais, que andam muito ocupados batizando pessoas, mantém registros evidentemente confiáveis (com dados precisos como nomes, datas de nascimento e endereços) os quais apontam uma diferença de 20% para mais no já inacreditável número de católicos africanos(!).
A aparência dos nossos pastores vêm mudando nas últimas décadas |
Essa realidade, que a primeira vista pode surpreender a muitos, não é exclusiva do continente africano. Desde 1980, o número total de católicos da Ásia cresceu 115%, e 56% nas Américas[3].
Além de tudo, nas últimas décadas, muitos milhões de migrantes do Sul do planeta têm viajado para o Norte, e uma parcela realmente grande desta população é formada por católicos. Vemos fortes evidências disso nas igrejas britânicas (saiba mais), especialmente em antigos locais de peregrinação, que vinham sendo esquecidos e estão agora sendo redescobertos naquele país, mas padrões similares podem ser encontrados em toda a Europa. As paróquias históricas – na Irlanda e França, por exemplo – agora vêm sendo agraciadas por padres da Nigéria ou do Vietnã(!). Globalização? Com todos os seus prós e contras, vem sendo positiva para a Igreja dos nossos tempos.
Quando consideramos as estatísticas apresentadas neste artigo, qualquer sugestão de que a Igreja Católica esteja "morrendo" –, ou mesmo estagnada –, torna-se tão completamente equivocada que chega a ser cômica. Estranhamente, porém, esta não é a primeira vez que observadores externos consideraram perspectivas sombrias para o futuro da Igreja. Já na década de 1890, Mark Twain sabiamente observou: "Neste mundo, temos visto o poder da Igreja 'morrendo'... há muitos séculos".
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Notas:
1. Dados do The Catholic Herald
2. Idem
3. Ibidem
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Fonte:
JENKINS, Philip. 'Catholicism’s incredible growth story', publicado em 8/9/016, disp. em:
catholicherald.co.uk/issues/september-9th-2016/catholicisms-incredible-growth-story