Pular para o conteúdo principal

A Esperança

Catequeses. Os vícios e as virtudes. 18. A esperança

Na última catequese, demos início à reflexão sobre as virtudes teologais. São três: fé, esperança e caridade. Da última vez refletimos sobre a fé, hoje é a vez da esperança. «A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1817). Estas palavras confirmam-nos que a esperança é a resposta oferecida ao nosso coração, quando brota em nós a pergunta absoluta: “Que será de mim? Qual é a meta da viagem? Qual é o destino do mundo?”. 

Todos compreendemos que uma resposta negativa a estas perguntas produz tristeza. Se o caminho da vida não tem sentido, se não há nada no princípio e no fim, então perguntamo-nos por que deveríamos caminhar: daqui nasce o desespero do homem, a sensação da inutilidade de tudo. E muitos poderiam revoltar-se: esforcei-me por ser virtuoso, prudente, justo, forte, temperante. Fui também um homem ou uma mulher de fé... De que serviu o meu combate, se tudo acaba aqui? Se faltar a esperança, todas as outras virtudes correm o risco de se desmoronar e de acabar em cinzas. Se não existisse um amanhã fiável, um horizonte resplandecente, não restaria que concluir que a virtude é um esforço inútil. «Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente», dizia Bento XVI (Carta Encíclica Spe salvi, 2).

O cristão tem esperança não por mérito próprio. Se acredita no futuro, é porque Cristo morreu, ressuscitou e nos concedeu o seu Espírito. «A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente» (ibid., 1). Neste sentido, dizemos mais uma vez que a esperança é uma virtude teologal: não deriva de nós, não é uma obstinação de que nos queremos convencer, mas sim um dom que vem diretamente de Deus.

A muitos cristãos céticos, que não tinham renascido completamente para a esperança, o apóstolo Paulo apresenta a nova lógica da experiência cristã: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda viveis nos vossos pecados. Por isso, até os que morreram em Cristo pereceram. Se tão somente nesta vida esperarmos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens» (1 Cor 15, 17-19). É como se dissesse: se acreditares na ressurreição de Cristo, então sabes com certeza que nenhuma derrota, nenhuma morte é para sempre. Mas se não acreditares na ressurreição de Cristo, então tudo se torna vazio, até a pregação dos Apóstolos.

A esperança é uma virtude contra a qual pecamos frequentemente: nas nossas saudades negativas, nas nossas melancolias, quando pensamos que as felicidades do passado estão enterradas para sempre. Pecamos contra a esperança, quando desanimamos diante dos nossos pecados, esquecendo que Deus é misericordioso e é maior do que o nosso coração. Não esqueçamos isto, irmãos e irmãs: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas não esqueçamos esta verdade: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre! Pecamos contra a esperança, quando desanimamos perante os nossos pecados; pecamos contra a esperança, quando o outono anula em nós a primavera; quando o amor de Deus deixa de ser um fogo eterno e não temos a coragem de tomar decisões que nos comprometem para toda a vida.

O mundo de hoje tem muita necessidade desta virtude cristã! O mundo precisa da esperança, assim como tem tanta necessidade da paciência, uma virtude que caminha de mãos dadas com a esperança. Os homens pacientes são tecelões de bem. Desejam obstinadamente a paz, e embora alguns tenham pressa e queiram tudo e já, a paciência tem a capacidade da espera. Até quando muitos à sua volta cederam à desilusão, quem é animado pela esperança e é paciente, torna-se capaz de atravessar as noites mais escuras. Esperança e paciência caminham de mãos dadas!

A esperança é a virtude de quem é jovem de coração; e nisto, a idade não conta. Porque existem até velhos com os olhos cheios de luz, que vivem em tensão permanente para o futuro. Pensemos naqueles dois grandes anciãos do Evangelho, Simeão e Ana: nunca se cansaram de esperar e viram o último trecho do seu caminho abençoado pelo encontro com o Messias, que reconheceram em Jesus, levado ao Templo pelos seus pais. Que felicidade, se fosse assim para todos nós! Se, depois de uma longa peregrinação, pousando alforge e cajado, o nosso coração se enchesse de uma alegria nunca antes sentida e também nós pudéssemos exclamar: «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo / ir em paz, segundo a tua palavra, / porque os meus olhos viram a tua salvação, / preparada por ti diante de todos os povos: / luz para te revelar às nações / e glória para o teu povo, Israel» (Lc 2, 29-32).

Irmãos e irmãs, vamos em frente e peçamos a graça de ter esperança, esperança com paciência. Olhar sempre para o encontro definitivo; pensar sempre que o Senhor está perto de nós, que a morte nunca, nunca será vencedora! Vamos em frente e peçamos ao Senhor que nos conceda esta grande virtude da esperança, acompanhada pela paciência. Obrigado!

Papa Francisco

Audiência geral 8.05.2024

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou. ...

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu...

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo...