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A covardia dos homens e a praga 'politicamente correta', ou: 'Maldito respeito humano!'





ENSINA UM ANTIGO adágio (atribuído ao Duque de La Rochefoucauld): "A fraqueza se contrapõe mais à virtude do que ao vício". Com esta frase, o papa Pio XI respondia às acusações de excessiva severidade[1]. Vivemos dias em que a frouxidão parece ser regra, e tergiversar é a conduta mais comum. Nestes momentos é mais do que necessário, aos cristãos, retomar a virtude da fortaleza.

Coragem não é a ausência de medo. O medo faz parte da natureza humana e, corretamente dirigido, é útil e vantajoso; pode salvar a sua vida, querido leitor, inclusive a sua vida eterna, espiritual. "O temor do Senhor", que o autor sagrado classifica como "o princípio da sabedoria" (Pr 9, 10), é uma consequência direta do verdadeiro amor que devemos a Deus. Se realmente aprendemos a amar a Deus incondicionalmente –, como é nosso dever e nossa salvação –, também temeremos perder a sua Amizade, isto é, a Comunhão com Ele ou a sua Presença em nossa alma.

Já dizia Santo Afonso de Ligório que "a vida presente é uma guerra contínua com o inferno, na qual corremos, a cada instante, o perigo de perder a Deus"; assim, Deus mesmo nos concede a fortaleza, que ordena os nossos medos e nos auxilia a dizer "não" ao ao pecado e a todo o mal. Por outro lado, o que fazem as pessoas (cristãs ou não) ditas "politicamente corretas"? Elas também têm medo, como todos nós. Todavia canalizam o seu medo – que deveria ser o de ofender a Deus – aos seus apegos (afetos) humanos. Trocaram o temor de Deus pelo temor de desagradar o mundo, de contrair inimizade com outros seres humanos. Não possuem e nem cultivam o "temor do Senhor", mas sim o "temor do mundo".

Esta ética invertida do "politicamente correto" é chamada, também, de "respeito humano". O medo maior de tais pessoas é perder o prestígio da opinião pública, dos colegas, dos seus seguidores nas redes sociais... Temem ser julgados pelos seus pares, mas não temem o Julgamento divino.

São milhões de seres humanos que se torturam a todo instante, imaginando o que os outros poderão pensar deles. Observe o leitor o modo de ser dos nossos políticos, dos nossos artistas, jornalistas, apresentadores de TV... os grandes formadores de opinião de nossos tempos, afinal. O que notamos? Que ninguém mais tem opinião a respeito de absolutamente nada; todos ou quase todos tornaram-se "politicamente corretos". Todo mundo acha tudo lindo, todo mundo aceita e "respeita" absolutamente tudo, e pior, para tanto muitos escondem-se atrás do princípio evangélico do não julgamento. Ninguém mais tem a coragem de dizer, simplesmente: "Não gosto disso" ou "Tal coisa não está certa". Repetem todos, tal qual autômatos: "Não sou ninguém para julgar"; "cada um sabe de si", ou "cada um na sua" e "eu respeito o direito que cada um tem, de ser e fazer o que quiser"...

Aliás, nunca fomos tão frágeis, psicologicamente falando: vivemos tempos em que não se pode emitir uma opinião sincera, publicamente, a respeito de qualquer assunto, porque se dissermos qualquer coisa a respeito de qualquer tema, como resultado imediato alguém ou algum grupo, em algum lugar, fatalmente vai se "ofender". Se eu disser que gosto do azul, rapidamente surgirão os defensores do vermelho, muito ofendidos, ameaçando me processar. Pelo nosso artigo de catequese católica, respeitoso, sim senhor, e meramente informativo sobre São Cosme e São Damião (leia aqui), por exemplo, recebemos múltiplas ameaças de processo! Ora, pessoas estão se sentindo "ofendidas" e nos ameaçando, simplesmente, por nós –, um apostolado católico –, estarmos pregando a doutrina católica(!).

Qual nossa reação, diante de situações como esta? Agradecemos a Deus, e esperamos, de cabeça erguida e mão postas, por muito mais! Sentimo-nos honrados pelo privilégio de sermos uma voz a favor da Verdade, no meio desta multidão de covardes. Sim, o mundo ficou covarde, na medida em que os homens não se comportam mais como homens, mas como eternos bebês mimados e chorões. Os homens, jovens e velhos, se acovardaram diante do mundo e dos perigos da vida. Nunca antes vimos tantos homens, sorridentes e orgulhosos, confessando que são (e são mesmo!) dominados e mandados por suas mulheres(!). O antigo e execrável machismo deu lugar a uma espécie de "feminismo" ainda pior, porque doentio e torto, se é que podemos chamar assim, já que a (suposta) proposta original do feminismo era lutar pela igualdade entre os sexos, e não pela supremacia das mulheres, como ocorre agora.

O cenário é desolador. A perseguição física que os cristãos experimentam em países sem liberdade religiosa é comparável ao "assassinato da personalidade" que outros tantos (nós mesmos) sofremos nos ambientes supostamente mais livres da vida hodierna.


“Em nossa época, o preço que deve ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia”

(Bento XVI, Vigília de Oração para a beatificação do Cardeal Newman, 18/9/010)
Ainda assim, lembrou o atual Papa Emérito na mesma ocasião, “a Igreja não se pode eximir do dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvífica, fonte da nossa felicidade última como indivíduos, e como fundamento de uma sociedade justa e humana”.

O que vivemos agora foi previsto há muito tempo. Mesmo que nos persigam, não podemos nos calar. Mesmo que nos ridicularizem, não podemos deixar de proclamar a Verdade, que é Cristo, com clareza e coragem. Em um mundo onde tantos advogam a cultura "politicamente correta", somos chamados à uma outra espécie de retidão: a de caráter e de honra; aquela que tem sua base na Mensagem do Cristo e no Magistério da sua Igreja.

O sermão de São João Maria Vianney, o santo Cura d'Ars, que reproduzimos abaixo, provavelmente nunca foi mais atual.




“Não há nada, meus irmãos, de mais glorioso e de mais honorável para um cristão do que carregar o nome sublime de filho de Deus, de irmão de Jesus Cristo. Da mesma forma, não há nada de mais infame do que ter vergonha de manifestar isso quando surge a ocasião. Não, meus irmãos, não nos admiremos ao ver os hipócritas demonstrarem um exterior de piedade para atrair sobre si a estima e os louvores do homem, enquanto que seus pobres corações são devorados pelos pecados mais infames. Estes cegos gostariam de gozar das honras, sem ter o trabalho de praticar as virtudes que as propiciam e das quais são inseparáveis.


Além do mais, não nos admiremos ao ver bons cristãos esconder o tanto quanto podem suas boas obras aos olhos do mundo, temendo que a glória inútil se insinue em seu coração e que os vãos aplausos dos homens lhes façam perder o mérito e a recompensa. Entretanto, meus irmãos, onde encontraremos uma covardia mais criminosa e uma abominação mais detestável do que a daqueles que, professando crer em Jesus Cristo, na primeira ocasião violam as promessas que lhe fizeram, sobre as fontes sagradas do Batismo? Ah! O que nos tornamos, quando agimos assim? Quem é Aquele que renegamos? Aí de mim!, abandonamos nosso Deus, nosso Salvador, para nos dispor entre os escravos do demônio, que nos engana e que busca apenas a nossa perda e a nossa infelicidade eterna. Ó, maldito respeito humano! Como arrastas almas para o inferno!

(...)
Entretanto, vocês me dirão agora: 'Quem são aqueles que se tornam culpáveis deste respeito humano?'. Inicialmente direi, com São Bernardo, que por qualquer lado que consideremos o respeito humano, que é a vergonha de cumprir os deveres da Religião por causa do mundo, todos nos mostram desprezo e cegueira. Digo, meus irmãos, que a vergonha de fazer o bem, o medo de ser desprezado ou repreendido por alguns ímpios infelizes ou alguns ignorantes, é um desprezo terrível que fazemos da Presença do Bom Deus, diante do qual estamos. Por que é, meus irmãos, que estes maus cristãos ficam bravos com vocês e fazem de vossa devoção algo ridículo? Meus irmãos, eis a verdadeira razão: é porque, não tendo a força de fazer o que vocês fazem, vocês incitam o remorso de suas consciências; entretanto, estejam certos de que, no coração, eles não vos desprezam, ao contrário, eles vos estimam. Quando eles precisam de um bom conselho, ou de pedir uma graça junto do bom Deus, não é àqueles que agem como eles que irão recorrer, mas àqueles que eles repreenderam, ao menos em palavras. Você tem vergonha, meu amigo, de servir ao bom Deus, temendo ser desprezado pelo mundo?”[2].
_______
1. 'Pio XI, el papa de los desafíos', em La Stampa, Vaticano Insider, disp. em:
http://www.lastampa.it/2011/04/26/vaticaninsider/es/vaticano/po-xi-el-papa-de-los-desafos-LiMIhS0CoK9M5dAhOibpXJ/pagina.html
Acesso 13/1/017

2. Sermons du vénérable serviteur de Dieus, São João Maria Batista Vianney, ('Cura d'Ars').
Tome Ie, Librarie Victor Lecoffre, Paris, 1883.


http://www.ofielcatolico.com.br/

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