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As almas tíbias

 


Cristo, pela boca do apóstolo João, repreende as almas tíbias, mostrando como elas são desprezíveis a Deus. Uma alma tíbia, apesar das muitas graças da misericórdia divina, despreza-as e deixa-se dominar pela indolência, que afasta do zelo e, a qualquer pretexto, abandona por completo a oração. Aparentemente, frequenta os sacramentos, mas de forma leviana e sem devido preparo; por isso, quase sempre inutilmente, quando não sacrilegamente. Parece cumprir as obrigações do seu estado, mas sem espírito de fé, buscando o que causa prazer, procurando em tudo a si mesma.

A alma tíbia é formada erradamente: evita apenas aquilo que é expressadamente pecado mortal, mas comete pecado veniais com plena consciência. Nunca pensa em se sacrificar nos sentimentos mais delicados em relação a Deus, naquilo que lhe agrada ou desagrada, donde decorre a falta da mortificação. Percebe-se o orgulho, a ira, a impaciência e a grosseria na convivência com outros, as maledicências e os mexericos, a distração voluntária na oração, do que não quer ou não faz esforços para se corrigir.

-Você-sabe-o-que-diz-a-Igreja-sobre-as-almas-tíbias

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida

O que são as almas tíbias?

A alma tíbia não quer uma vida verdadeiramente de Cristo, mas também não se apega inteiramente à vida do mundo; arrasta-se entre o mal e o bem, não se entregando por completo a nenhum dos dois. Vive abandonada e isolada, expulsa do mundo, onde se diverte, afastada do convívio dos santos, onde Deus derrama consolos. Pode-se dizer que está suspensa entre o inferno e o céu. A pessoa tíbia pensa que pode permanecer nessa situação incerta. No entanto, Cristo disse que não se pode servir a dois Senhores: a Deus e ao mundo.

A tibieza é um estado muito perigoso, visto que a alma permanece nele na ilusão, como o doente que se finge são e não procura o médico. Não leva em consideração as admoestações dos outros, com os quais até se irrita por esse motivo. Considera uma futilidade os inúmeros pecados veniais, nos quais, muitas vezes, se vicia; e algumas vezes comete também pecados graves, com os quais também aos poucos se acostuma.

As almas tíbias podem possuir até certas virtudes, que piora ainda a situação delas, porque as mantêm na falsa segurança. As virgens imprudentes do Evangelho preservaram o tesouro da virgindade, mas não foram admitidas às bodas, não por algum tipo de crime, mas por falta do amor, simbolizado pelo óleo que lhes faltou nas lâmpadas. O disfarce da virtude e a aparência da piedade podem merecer a graça dos homens, mas Deus olha para os corações e lança a maldição à árvore por falta de frutos.

Quais são as causas da tibieza?

As causas da tibieza são numerosas! Todas decorrem do exagerado amor-próprio, que sobretudo deve ser mortificado. A segunda causa é a negligência nas pequenas coisas, o menosprezo das pequenas virtudes, bem como as pequenas faltas. A terceira causa são as quedas voluntárias, cometidas conscientemente, que enfraquecem profundamente a alma. Algumas vezes, a excessiva atividade contribui igualmente para isso, pois o homem que se deixa envolver a fundo pelo turbilhão da vida ativa dispersa-se todo e se esgota. Finalmente, nada se opõe tanto a Deus como o mundo. Por isso, todo passo que aproxima a alma do mundo afasta-a de Deus, e, aos poucos, leva-a ao estado de tibieza.

Qual é o remédio para tibieza?

No entanto, a tibieza não é uma doença inteiramente incurável: “aconselho-te a comprar de mim ouro purificado no fogo para que enriqueças, vestes brancas para que te cubras e não apareça a vergonha da tua nudez, e um colírio para que unjas teus olhos e possas enxergar” (Ap 3,18).

Eis o remédio eficaz contra a tibieza: comprar o amor de Deus pela moeda da oração, que, na verdade, é penosa para alma tíbia, mas indispensável, embora quase impossível sem a graça preventiva.

“Quanto a mim, repreendo e educo todos aqueles que amo. Recobra, pois, o fervor e converte-te! Eis que estou a porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,19-20).

Pe. Michal Sopocko
Fonte: Devocionário à Divina Misericórdia

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